A hotelaria de Madri tem dois clássicos. O Ritz, situado ao lado do Museu do Prado e do parque do Retiro, um palácio da Belle Epoque, que recebeu reis e aristocratas de todo o mundo; e o Palace, que fica poucos metros adiante, na rua perpendicular, construído em 1912, igualmente luxuoso e tombado como patrimônio pela Unesco.
A grande surpresa para os madrilenhos foi verificar que na lista do The World’s 50 Best Hotels, lançada em novembro deste ano, os dois não estavam lá. Mas isso não quer dizer que Madri ficou de fora: o novato Four Seasons da capital espanhola surgiu em 24º lugar entre os melhores do mundo.
Inaugurado em setembro de 2020, o Four Seasons também não ocupa um edifício qualquer. É parte de um conjunto de sete edifícios históricos no centro de Madri, que foi inteiramente restaurado e transformado num único espaço, a Galeria Canalejas, novo polo de luxo da capital.
O primeiro prédio data de 1887 e foi construído para ser a sede espanhola da seguradora novaiorquina The Equitable Life Assurance Society of the United States. Em 1902, o Banco Hispano Americano se instalou ao lado e assim atraiu outras sedes de instituições financeiras como o Santander.
Todo esse conjunto se insere num programa mais amplo de renovação da área central. O hotel que, além de 200 apartamentos e suítes, possui 22 residências, fica a menos de meia quadra da Puerta del Sol, o quilômetro zero da cidade, por onde passa o maior número de pessoas diariamente.
Embora não seja recente, o último levantamento municipal, feito em 2016, contabilizava 200 mil pedestres por dia circulando por ali, número que sobe para mais de 300 mil nos fins de semana. É na torre do edifício mais antigo da Puerta del Sol, a Casa Real dos Correios, do século XVIII, que à meia-noite de todos os dias 31 de dezembro, os sinos anunciam a chegada do ano novo.
A nova praça, apenas para pedestres, foi inaugurada em setembro deste ano e consumiu um investimento de 10,7 milhões de euros. Como é de praxe em todas as reformas urbanas, o projeto foi criticado e a mídia local chegou a fazer enquetes para enumerar razões "para amar ou odiar a nova Porta do Sol".
O projeto de reforma foi do escritório Linazasoro&Sanches Arquitetura. Em entrevista ao NeoFeed, José Ignacio Linazosoro explicou algumas das mudanças, que tiraram a estátua equestre do centro da praça e a deixaram totalmente livre para o trânsito de pessoas.
“Trocamos todos os pavimentos e colocamos bancos nas laterais, que não havia, e que agora estão sempre cheios de gente”, diz. “Havia muitos obstáculos e agora há um vazio, que permite a circulação. Já sobre a crítica de que não há árvores, ele responde dizendo: “A Porta do Sol é uma praça, não um jardim”.
A reforma do centro é mais abrangente e incluiu igualmente a ampliação das calçadas, a colocação de bancos e a renovação das fachadas dos edifícios de uma parte da Gran Via, uma das artérias mais movimentadas do centro.
Atingiu também a Calle de Alcalá, que vai da Galeria Canalejas até o Palácio de Cibeles, onde fica a sede da prefeitura. Nessa avenida fica o Círculo de Bellas Artes, um centro cultural, que ocupa um edifício de 1880, cuja fachada foi limpa e restaurada há pouco mais de um ano, onde há salas de exposições, livraria, cinema, bar e café e em cujo rooftop fica a Azotea del Círculo, restaurante de cozinha mediterrânea com uma das vistas mais bonitas de Madri.
Para o diretor de programação do cinema do Círculo de Bellas Artes, Manuel Asín, há um aspecto positivo em todas essas mudanças. “A abertura da Azotea del Círculo mudou muito o perfil dos nossos visitantes. Começamos a receber mais jovens, pessoas que pela primeira vez se aproximavam do Círculo e encontravam uma oferta cultural diversa”, diz, em conversa com o NeoFeed.
“Por isso, a remodelação da zona de Canalejas e, sobretudo, o reconhecimento do Passeio da Luz (trecho que inclui a estação de Atocha, o Museu do Prado e o Passeio de Recoletos) como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, criaram um contexto mais amplo no qual o Círculo se insere como uma das principais referências”.
Já o Four Seasons, o primeiro da rede canadense na Espanha, é um hotel bastante business e tem os americanos como público primordial. Há mais de 5 mil obras de arte espalhadas pelo hotel, que fez um concurso em diferentes escolas de belas artes do país para selecionar artistas jovens e emergentes.
Os quartos são confortáveis, com banheiros de mármore e amenities da marca francesa Frederic Malle. Na cobertura fica a piscina aquecida, cujo acesso é apenas por um elevador privativo dentro do SPA e portanto só para hóspedes.
Outro destaque é a gastronomia, que se tornou referência na vida madrilenha, onde uma das opções é o Isa, restaurante asiático-mediterrâneo, com mesas baixas e à meia-luz, premiado por seus drinques inventivos, mas cuja culinária também surpreende. No alto, fica a Dani Brasserie, de Dani Garcia, nova estrela da cozinha andaluz, que faz sofisticação com pratos simples como o hambúrguer com foie gras.
A Galeria Canalejas, complexo da qual o hotel faz parte, tem uma entrada suntuosa com porteiro paramentado, cafés, restaurantes e um hall central com poltronas em veludo. As lojas são de grifes como Hermès, Yves Saint Laurent, Louis Vuitton, Chanel e outras igualmente caras.
No andar de cima há um atrium com boxes de marcas de cosméticos de nicho, das mais refinadas e cujo nome é desconhecido da maioria dos brasileiros. Nesse espaço, a Beauty Gallery by Isolée, convivem nomes como Guerlain, La Prairie, Maison Francis Kurkdjian e outros. No subsolo ficam os restaurantes, que fervem à noite e onde há dos famosos tapas e pinchos espanhóis a alta gastronomia.
