A vitamina B12 é essencial ao bom funcionamento do organismo. Participa da síntese de DNA, glóbulos vermelhos e células nervosas. Protetora das funções cerebrais, garante a rápida comunicação entre os neurônios.

Como nós não produzimos o nutriente, devemos recorrer à alimentação para obtê-lo. Em especial, aos produtos de origem animal. Fígado bovino, mariscos, atum, salmão, ovos e laticínios são fontes generosas de B12.

Em tempos de escassez de terras agrícolas e sobrecarga dos estoques pesqueiros, torna-se imprescindível encontrar novas formas de incorporar a vitamina na dieta. Pesquisadores ingleses parecem ter descoberto um caminho promissor: a biofortificação com B12 de vegetais cultivados no ar.

Financiado pelo Conselho de Pesquisa em Biotecnologia e Ciência Biológicas do Reino Unidos para Pesquisa e Inovação, o projeto é conduzido por cientistas do Centro John Innes, do Instituto Quadram e da agtech de agricultura indoor LettUS Grow.

Tida como uma ferramenta poderosa no combate à desnutrição, a biofortificação consiste no uso da biologia sintética, do melhoramento genético ou de práticas agronômicas para aumentar a concentração de nutrientes em culturas alimentares básicas. Diferente da fortificação tradicional, a nova acontece durante o processo de cultivo – e não na pós-produção.

O trabalho inglês está dedicado ao estudo de brotos de ervilha. Um único pé da planta produzido pela LettUS Grow contêm a quantidade de B12 encontrada em um bife de filé mignon, por exemplo. Para um adulto saudável, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza o consumo de 2,4 microgramas da vitamina diariamente.

A investigação dos cientistas ingleses trouxe ainda outro alento na busca por um futuro mais sustentável, saudável e produtivo. Os brotos de ervilha da startup não são cultivados na terra. Fundada na cidade de Bristol, em 2015, a LettUS Grow está direcionada para a agricultura indoor aeropônica.

Desenvolvida no fim dos anos 1990, a aeroponia é um método de cultivo no qual as raízes das plantas ficam suspensas e são regadas com uma névoa de solução nutritiva. A exposição ao oxigênio faz com que as espécies aproveitem muito mais os nutrientes do que se estivessem enterradas.

No contexto da biofortificação, a agricultura indoor aeropônica desempenha um papel fundamental. Como o ambiente é hipercontrolado, é possível otimizar o perfil nutricional dos alimentos, com uma precisão inimaginável nas plantações tradicionais. E assim transformá-los em funcionais.

Em concentração de vitamina B12, um broto de ervilha da agtech inglesa equivale a um bife (Crédito: LettUS Grow)
Em concentração de vitamina B12, um broto de ervilha da agtech inglesa equivale a um bife (Crédito: LettUS Grow)

Protegidas das intempéries e das doenças e do ataque de pragas, as plantas também crescem mais rápido e dispensam o uso de fertilizantes e defensivos. Esses fatores facilitam a produção em larga escala dos alimentos biofortificados. Há ainda mais economia de recursos. As plantações no ar dispensam a terra e usam apenas 5% do volume de água dos cultivo em campo aberto.

A LettUS Grow tem um diferencial em relação às startups dedicadas à aeroponia indoor. Sua plantações são regadas à base do som. Os pesquisadores descobriram que ruídos em uma frequência superior a 2 mil hertz, acima do alcance da audição humana, agitam a solução nutritiva de tal maneira que os brotos de ervilha recebem a quantidade exata de nutrientes para que se transformem em fontes de vitamina B12.

A tecnologia aeropônica ultrassônica da agtech já rendeu à empresa quase £ 6 milhões. Um dos principais investidores da startup é a britânica Parkwalk, que investe em startups que surgem dentro de universidades.