A natureza tem se revelado fonte de inspiração das mais profícuas para os inovadores do ecossistema agrifoodtech. Em busca de cadeias agroalimentares em sintonia com o meio ambiente, as cascas de frutas influenciam a criação de embalagens sustentáveis. A dança das abelhas instiga o desenvolvimento de equipamentos de polinização e até a fotossíntese é usada contra o desperdício de alimentos.

Agora, é a vez dos morcegos e seu apetite por mariposas. Tendo como modelo o único mamífero com asas, os holandeses Kevin van Hecke e os irmãos Sjoerd e Bram Tijmons inventaram um sistema de combate às pragas e, assim, proteger as lavouras cultivadas em estufas. Batizado PATS, o modelo opera mediante a combinação de duas tecnologias, a PATS-C e a PATS-X.

Apresentada recentemente ao mercado, é a segunda que faz às vezes de “Batman das plantações”. Minidrones quadricópteros vão atrás dos insetos e os aniquilam, antes que os bichos tenham tempo de atacar a primeira folha ou encontrar um parceiro para reprodução.

A caçada é digna dos melhores filmes de ação, como mostram os vídeos da startup PATS. Equipados com câmeras infravermelhas, conectadas à internet e espalhadas pela estufa, o sistema PATS-C detectam, em tempo real, qualquer inseto que sobrevoe o espaço aéreo da lavoura.

A partir de dados sobre a frequência e o tamanho do batimento das asas, algoritmos de inteligência artificial fazem o reconhecimento do animal. Se forem do bem, como as abelhas, a máquina deixa o inseto sossegado. Mas, se for uma praga, a plataforma aciona o PATS-X.

Alojado em um droneporto, dentro da estufa, o “Batman” voa em direção ao alvo. Como um míssil teleguiado, o drone ataca as mariposas. São asas para um lado; pernas para outro; os corpos triturados pelas hélices. “Mission accomplished”, o morceguinho hightech volta para a base.

O som do predador

Mais recentemente, uma pesquisa, conduzida por pesquisadores da Wageningen University and Research, revelou que o ruído do minidrone produz ultrassom na mesma faixa dos morcegos, predadores naturais das mariposas. O som desnorteia os insetos e eles mergulham, erráticos, em direção ao solo. Nem todos os inimigos são abatidos, porém. Quando isso acontece, alto-falantes aumentam o volume do voo. É um verdadeiro campo de guerra. Os que sobram viram pó, nas hélices do “Batman”.

PATS minidrone
Kevin van Hecke e Sjoerd Tijmons, criadores do minidrone

Quando os cientistas descobriram esse efeito, aprimoraram a tecnologia. Identificaram os sons dos morcegos que mais assustam as mariposas. E, depois de estudar o sistema auditivo dos insetos, chegaram aos barulhos aos quais os bichos são mais sensíveis.

A busca por soluções como as da PATS é crescente na indústria agrícola. Diminuem o uso de defensivos sintéticos e acenam com a possibilidade de um futuro mais sustentável.

A monocultura massiva, o abuso de pesticidas e as mudanças climáticas vêm dando origem a pragas mais resistentes e levando-as para lugares onde, até bem pouco atrás, elas raramente apareciam, inclusive as estufas. Tem mais: algumas espécies ganharam uma velocidade de reprodução “incontrolavelmente rápida”, como define Dayo Jansen, doutorando da universidade holandesa, líder da pesquisa com o PATS-X.

Noites maldormidas

Apenas a plataforma PAT-C, mais antiga, já está em uso em cerca de 250 estufas, espalhadas pela Europa. A pré-venda do sistema PANTS-X acabou de ser aberta. Kevin e os Tijmons fundaram a PATS em 2018, na cidade de Delft, no sul da Holanda. Desde o lançamento da empresa, levantaram € 250 mil em investimentos, segundo a consultoria Crunchbase.

A empresa é um spin-off da Wageningen University and Research. A ideia surgiu, em 2016, depois que dois colegas de faculdade enfrentaram uma sucessão de noites maldormidas, por causa do zumbido de insetos. Em vez de recorrer a inseticidas para se livrar logo daquela irritação (como, aliás, faria a maioria de nós), Kevin e Sjoerd quebraram a cabeça e desenvolveram um sistema ultrassofisticado para combater os animais.

Quando perceberam que tinham em mãos uma tecnologia que poderia impactar a agricultura global, convidaram Bram, um administrador de empresas, para se juntar a eles. E assim, o trio fundou a PATS.