A apresentadora de televisão Sabrina Sato vem estreitando sua relação com o mercado de tecnologia. No último ano, a empresária adicionou a foodtech One More a sua carteira de investimentos, que já contava com restaurantes, rede de odontologia e estética facial e uma empresa de equipamentos e instalação de sistemas fotovoltaicos. Sua mais recente empreitada tecnológica, no entanto, vai em uma linha diferente.
Sabrina se tornou a primeira personalidade brasileira a ter um avatar digital com perfil próprio no Instagram no ano passado. Desde então, o alter ego chamado de Satiko (@iamsatiko_) já tem pouco mais de 37 mil seguidores, um número ainda baixo perto dos quase 32 milhões de followers que Sabrina tem em sua conta oficial na rede social.
Mesmo assim, essa versão virtual da apresentadora já está rendendo frutos. Desde que foi criada, a Satiko já foi contratada como influenciadora virtual para trabalhar a divulgação de marcas como Coca-Cola, Renner, O Boticário e Itaú Personnalité. “Este movimento do metaverso vem despertando o interesse das marcas”, diz Sabrina, em entrevista ao NeoFeed. “Eles viram neste mundo uma oportunidade de se aproximarem de seus clientes.”
Sabrina não está sozinha neste universo (ou melhor, neste metaverso), um mercado que já movimenta US$ 250 bilhões, segundo estudo da consultoria Boston Consulting Group divulgado em junho deste ano. E que vai crescer ainda mais: a previsão é de que esta cifra possa chegar a US$ 400 bilhões em 2025.
A influenciadora digital Bianca Andrade, que tem 18 milhões de seguidores no Instagram, criou a Pink (@iampink), a versão virtual da carioca que também é uma ex-participante de reality show. A "nova" influenciadora já tem 100 mil seguidores, foca na divulgação dos produtos cosméticos da marca Boca Rosa, criada por Bianca, e já estrelou também uma campanha para a Renner.
Com 20 milhões de seguidores no Instagram, o influenciador digital Lucas Rangel é outro está investindo nesta área. Em março, ele lançou seu primeiro avatar digital, uma versão virtual do próprio Rangel. O Luks (@eusouluks) tem 240 mil seguidores no Instagram e já realizou campanhas para marcas como Coca-Cola e Americanas.
E isso parece ser a ponta do iceberg de um mercado que vai ser cada vez mais explorado por celebridades. Nomes como Deborah Secco, Cauã Reymond e Luiza Possi já estão entre os clientes da Biobots, a empresa que firmou parceria com Sabrina para a criação e a gestão da Satiko. “Houve um boom de influenciadores virtuais criando conexões com o mundo real justamente por proporcionarem novas formas de expressão”, diz Sabrina.
Com clientes de peso no mercado de celebridades, a Biobots desponta como uma das principais agências focada na criação de avatares digitais. Fundada em 2020 com um investimento de R$ 20 milhões, a empresa tem escritórios em São Paulo, Estados Unidos e Portugal e cobra em média cerca R$ 150 mil pela criação dos avatares.
“O metaverso parece um grande mistério, mas ele é uma evolução da forma como as pessoas se conectam”, diz Ricardo Tavares, fundador e CEO da Biobots. “Isso era feito por Instagram, Facebook e outras redes sociais. Com a web3, há uma multiplicação nas plataformas de interação.”
A Satiko, por exemplo, já foi inserida dentro da Cidade Alta, um ambiente de metaverso criado como um servidor do jogo de videogame GTA. Em breve, ela também deve ganhar presença em outras plataformas. Já o Bert (@_bertskin), personagem virtual criado em setembro para o médico Alberto Cordeiro (190 mil seguidores no Instagram), deve usar o metaverso para realizar consultas virtuais e ministrar cursos educacionais.
Satiko, Pink e Bert são os primeiros avatares de uma fila de mais de 20 personagens que deverão ser criados pela Biobots nos próximos meses e a expectativa é quintuplicar o número de clientes até o fim do ano que vem. Segundo Tavares, há uma fila de quatro a cinco meses para que um novo projeto seja produzido. Para dar conta da demanda, a companhia está negociando uma nova injeção de capital.
Na disputa por levar influenciadores e celebridades ao metaverso está também a LR Contents, de Lucas Rangel. O influenciador investiu R$ 240 mil e criou uma divisão de tecnologia dentro do negócio e que foi responsável pela criação de seu próprio avatar. “O metaverso é uma tendência e eu queria ser um dos pioneiros a investir nisso aqui no Brasil”, diz Rangel em entrevista ao NeoFeed.
Depois do sucesso do Luks, Rangel diz que já realizou reuniões com outras celebridades que também querem ter seus avatares. Ele não cita o nome dos interessados, mas vale lembrar que a LR Contents tem em sua carteira de clientes algumas celebridades das redes sociais como Gkay (20 milhões de seguidores no Instagram), Dani Diz (6,1 milhões de seguidores), Lucas Bley (1,9 milhão de seguidores), entre outros.
Mesmo que produção de avatares para terceiros esteja nos planos, ainda deve levar algum tempo para que isso aconteça. De acordo com Rangel, seu avatar já pagou o investimento com as campanhas para as quais foi contratado, mas ainda está em "fase de testes". “Eu já aprendi muito e quero continuar aprendendo muito com o Luks. Quando eu for criar outros avatares, vai ser com uma fórmula perfeita”, afirma.
Os avatares digitais não são exatamente uma novidade. O Magazine Luiza, por exemplo, tem a Lu como seu rosto virtual em todas as suas redes sociais desde 2003. Mais popular nos últimos anos, a garota-propaganda da marca ganhou até concorrentes como a Nat, da Natura; e o Baianinho, da Casas Bahia. Todas já fizeram campanhas dentro de ambientes do metaverso.
No caso da Lu, a imersão foi feita na plataforma Horizon, da Meta. A chegada em novos mundos, no entanto, não é prioridade. Esses universos ainda não são democráticos”, diz Aline Izzo, coordenadora de redes sociais do Magazine Luiza. “Ainda não há uma clareza de como é possível interagir nesses ambientes. Estamos esperando este mercado aquecer.”
Por ora, o plano é manter o foco nas redes sociais, onde a Lu já é contratada até para fazer campanhas de divulgação de produtos. Marcas como Adidas e Samsung estão entre as contratantes da influenciadora virtual. Outras empresas também são divulgadas pela influencer nos canais do Magalu, mas em uma estratégia da própria varejista para aumentar vendas numa determinada área.
Além da propaganda
Por ora, a atuação desses personagens virtuais vem sendo restrita somente às postagens patrocinadas por empresas. Quem saiu um pouco da caixa neste sentido foi a startup americana Brud, que criou a influenciadora virtual Miquela Souza (@lilmiquela). A personagem virtual, que não tem inspiração em uma pessoa real, já tem 3 milhões de seguidores no Instagram e tem um negócio mais robusto.
Além de já ter estrelado campanhas de marcas como Prada, Calvin Klein e Burberry, Miquela, que tem uma casa virtual na Complexland, a aposta no metaverso do grupo do BuzzFeed, já gerou receita para a Brud através da venda de NFTs. Em 2020, a startup comercializou um token não-fungível da influencer virtual por 159,5 unidades da criptomoeda ether, o equivalente a US$ 210 mil na cotação atual.
Questionado se os avatares digitais da Biobots também poderiam trabalhar com NFTs, Tavares diz que não enxerga essa frente como uma grande aposta para o futuro – ao menos não da forma como os tokens vêm sendo explorados. “O mercado de NFT já mudou bastante e muita gente achou que iria enriquecer criando e vendendo desenhos virtuais”, diz Tavares.
Números recentes desse segmento mostram que a euforia em torno dos tokens não-fungíveis passou. Na plataforma OpenSea, utilizada para transacionar esses ativos, o volume diário de transações, que chegou a bater US$ 405 milhões em abril deste ano, agora gira em torno de US$ 8,6 milhões.
Ainda que as NFTs não estejam mais em alta, há um esforço no mercado de marketing digital para diversificar as fontes de receitas dos influenciadores no sentido de que eles não fiquem reféns das postagens patrocinadas.
“Há uma procura neste mercado para que a monetização seja feita também por produtos, não só por ações de marcas”, diz Douglas Gomides, especialista em marketing digital e mídias sociais.
O grupo de marketing digital Adventures é uma das empresas que aposta nesta área. Recentemente, conforme publicado com exclusividade pelo NeoFeed, a companhia que cria marcas digitais para artistas e celebridades lançou uma vertical para explorar temas como NFTs e outros tokens para monetizar os artistas também dentro do metaverso.
“Nos próximos 12 meses, muitas empresas que trabalham com grandes marcas vão ter que se movimentar na direção da creator economy”, afirmou Rapha Avellar, sócio e CEO da Adventures, em setembro.