Ainda levará tempo para que as aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOL), ou “carros voadores”, cruzem os céus em operações comerciais. Mas, enquanto isso não acontece, não faltam empresas dispostas a ocupar seu espaço ao embarcar nesse mercado antes que ele decole de fato.

O mais novo nome a seguir esse roteiro é a Stellantis, gigante da indústria automotiva fruto da fusão entre a FCA e a PSA, e dona de marcas como Fiat, Chrysler, Peugeot, Jeep, Dodge, Maserati e Alfa Romeo.

Na quarta-feira, 4 de janeiro, o grupo anunciou sua entrada oficial no mercado dos “carros voadores”. O ponto de partida é uma parceria com a americana Archer, uma das empresas que estão despontando nesse segmento.

O acordo envolve a produção do eVTOL da Archer, batizado de Midnight, o que inclui a instalação da unidade anunciada recentemente pela startup em Covington, no estado da Geórgia. A ideia é que a Stellantis seja a fabricante exclusiva do modelo, que deve começar a ser produzido em 2024.

Primeiro modelo da Archer, o Midnight terá capacidade de transportar até cinco passageiros, incluindo o piloto. Apesar de um alcance de 160 quilômetros, o eVTOL está sendo projetado para uso em viagens de curta distância, de cerca de 32 quilômetros, com um tempo de carregamento de dez minutos.

Além de contribuir com tecnologia, manufatura avançada e profissionais, a Stellantis informou que injetará até US$ 150 milhões na operação da Archer, entre 2023 e 2024, como parte do plano para acelerar a produção e dar fôlego à startup até o início das vendas do eVTOL.

A empresa informou ainda que planeja aumentar sua fatia na Archer por meio de compras futuras de ações no mercado aberto. Segundo a Stellantis, esses movimentos, aliados à parceria anunciada na primeira semana de 2022, permitirão que o grupo se torne um “investidor fundamental de longo prazo” na startup.

A Stellantis colabora em projetos com a Archer desde 2020. E passou a investir na companhia em 2021, ano em que a startup abriu capital na Bolsa de Nova York por meio de uma fusão com a Atlas Crest Investment, uma Special Purpose Acqusition Company (SPAC) ou empresa do cheque em branco.

Além de destacar o trabalho em estreita colaboração realizado nos últimos dois anos, Carlos Tavares, CEO da Stellantis, destacou em nota que, ao aprofundar essa parceria, o grupo mostra como está “ultrapassando os limites” para oferecer mobilidade sustentável.

“Apoiar a Archer com nossa experiência em fabricação é outro exemplo de como a Stellantis vai liderar a maneira como o mundo se move”, afirmou o executivo. Fundador e CEO da Archer, Adam Goldstein também destacou os novos termos e os racionais dessa aproximação.

“O reconhecimento da Stellantis sobre o progresso da Archer em direção à comercialização e o compromisso atual de recursos significativos para construir a aeronave Midnight conosco, coloca a Archer em uma posição forte para ser a primeira no mercado”, disse Goldstein.

Enquanto projeta sair na dianteira, a Archer lida com um desempenho pouco favorável no mercado de capitais. Desde o seu IPO, em setembro de 2021, a empresa, avaliada em US$ 515 milhões, acumula uma desvalorização de cerca de 80% em suas ações.

A Stellantis, por sua vez, está avaliada em US$ 48,3 bilhões. Nos últimos doze meses, os papéis do grupo automotivo registram um recuo de mais de 26% em sua cotação.

No caminho para se firmarem entre os principais players do mercado ainda em maturação dos “carros voadores”, Stellantis e Archer vão cruzar com nomes como a Eve, empresa fruto de um spin-off da Embraer que também abriu capital via um SPAC, em maio de 2022, na Bolsa de Nova York.

Atualmente, a startup de origem brasileira está avaliada em US$ 1,96 bilhão e tem um backlog de mais de 2,8 mil eVTOLs, com 27 clientes, em mais de dez países. Essa carteira de pedidos está avaliada em pouco mais de US$ 8 bilhões.

A Eve também vem captando recursos para o seu eVTOL. Em dezembro de 2022, a empresa aprovou um financiamento de R$ 490 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A cifra equivale a 75% da soma total a ser investido no desenvolvimento da sua aeronave.

A lista de empresas que estão se posicionando nesse mercado também inclui a americana Joby, mais uma startup com capital aberto via SPAC e avaliada em US$ 2,1 bilhões.

A relação passa ainda por fabricantes como a Airbus, com o CityAirbus, seu protótipo para atuar nesse espaço, e de companhias aéreas como a United Airlines, que já investiu em empresas do setor, entre elas, a própria Archer e também a Eve.