Que a tecnologia 5G trará muitos benefícios para a saúde, não há dúvida. Mas daí a achar que é uma espécie de fórmula mágica que revolucionará a medicina de uma hora para outra vai uma longa distância. Algumas promessas apresentadas como ficção transformada em realidade são apenas isto: promessas.

Um exemplo são as cirurgias robóticas a distância. A primeira, aliás, ocorreu em 2001. Com conexão por cabeamento de fibra ótica subaquático, um cirurgião de Nova York fez um procedimento de remoção de vesícula de uma paciente que estava em Estrasburgo (França).

Com efeito, o 5G permite fazer isso por conexão sem fio, pois sua baixa latência possibilita levar a informação de uma ponta a outra sem delay, o que não ocorre com o 4G. É fundamental que o braço do robô responda imediatamente ao comando do médico que o está manipulando remotamente. Alguns milissegundos de atraso podem colocar em risco a vida do paciente.

Mas, teremos a estabilidade adequada para operar um paciente remotamente? Que problemas poderiam ocorrer e comprometer o procedimento? Que medidas de segurança adotar? As respostas ainda dependem de estudos. Provavelmente teremos de esperar muitos anos até que as cirurgias robóticas a distância saiam do campo experimental.

Nem tudo exigirá tanto tempo, embora não possamos nos esquecer do calendário de implantação do 5G, que demorará para chegar às cidades menores. Em muitos lugares, nem 4G temos.

Aliás, uma face positiva do leilão foi a contrapartida estabelecendo a implantação do 4G em regiões remotas e ao longo de estradas. Isso ampliará o acesso a serviços como os de telemedicina. E eles ficarão melhores nas localidades com 5G, com ganhos de estabilidade e disponibilidade.

Soluções já disponíveis serão beneficiadas pela alta capacidade de transmissão de dados e tendem a se expandir, como o monitoramento remoto de pacientes por meio de dispositivos baseados em IoT que transmitem os dados (de pressão arterial, por exemplo) para uma central.

O mesmo acontecerá com as soluções baseadas em big data e inteligência artificial, como as que dão suporte à decisão médica ou agilizam o diagnóstico. Os próprios hospitais, que hoje dependem de redes internas de fibra ótica para garantir conectividade segura para os grandes volumes de transmissão de dados e os muitos dispositivos conectados, poderão adotar uma estrutura sem fio.

Ambulâncias 5G que conseguem transmitir para o setor de emergência do hospital os sinais vitais do paciente ou dados de um exame realizado a bordo por equipamento portátil; soluções de “hospital em casa”, que permitiriam liberar um leito hospitalar e monitorar o paciente em sua residência; realidade aumentada para planejar uma cirurgia ou treinar um cirurgião...

Como tudo em medicina, precisamos ter evidências científicas que comprovem o benefício de sua utilização e do investimento

São infindáveis as possibilidades que já podemos imaginar com o 5G e outras que ainda descobriremos. A questão é: quais trarão benefícios, segurança e serão custo-efetivas? Para várias promessas que alguns vislumbram como a salvação do mundo da saúde, a resposta é: ainda não sabemos. Como tudo em medicina, precisamos ter evidências científicas que comprovem o benefício de sua utilização e do investimento.

É esse o objetivo do Laboratório 5G do Einstein, um ecossistema de inovação para criar, testar e validar projetos na área de saúde usando o 5G. A nova geração de conexão wireless traz, sim, um imenso potencial, e a melhor forma de explorá-lo é nos conectar com a busca de evidências que apontem o que realmente traz avanços. Só assim teremos um promissor 5G na saúde.

Sidney Klajner é Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein