Lançado em dezembro de 2019, o serviço de streaming Disney+ atraiu 100 milhões de assinantes em 59 países em um curto período de tempo, sendo a tábua de salvação do grupo que sofre com salas de cinema fechadas por conta da pandemia do novo coronavírus.
Os assinantes foram atraídos por um acervo que reúne de clássicos da Disney e da Pixar a dois dos mais cobiçados universos da ficção: os super-heróis da Marvel e os guerreiros de Star Wars. Mas, com poucos inéditos, até pelas restrições de filmagens, essa fórmula tinha prazo curto para se sustentar.
Agora, o Disney+ se prepara para acelerar filmes e séries inéditas em 2021. "O enorme sucesso da plataforma nos inspirou a sermos ainda mais ambiciosos e aumentarmos ainda mais os investimentos na produção de conteúdo", afirmou Bob Chapek, CEO da Disney, no começo de março.
A meta é lançar 100 novos títulos por ano e a fórmula para competir com Netflix, Amazon Prime Video e Apple na batalha dos serviços streaming será recorrer aos universos Marvel e Star Wars.
Nesta semana, por exemplo, o Disney+ lança uma nova série, "Falcão e o Soldado Invernal", ambientada no universo da Marvel. O primeiro episódio já está disponível. Os outros cinco serão lançados semanalmente, à moda antiga – uma forma também de se diferenciar da Netflix, que tem 204 milhões de assinantes, que coloca todos os episódios de uma vez.
“O formato clássico de soltar um episódio por semana faz com que os fãs fiquem dias falando sobre cada episódio”, afirma Vebis Junior, pesquisador e professor de audiovisual na Universidade Anhembi Morumbi.
"Falcão e o Soldado Invernal" é a segunda produção baseada nos quadrinhos da editora a chegar ao Disney+ neste ano. Em janeiro, "WandaVision", com suas referências a clássicas sitcoms americanas, conquistou fãs e críticos. Outras quatro produções da Marvel estão previstas para 2021. A próxima, “Loki”, chega ao serviço em julho.
A aposta da empresa nas adaptações de heróis da editora não é à toa. A Disney já lançou 23 filmes do Homem de Ferro, Capitão América e outros Vingadores. Juntos, eles arrecadaram US$ 22,56 bilhões no mundo todo, segundo a empresa de dados Statista.
A saga Star Wars, também extremamente popular, ganhará outros três seriados só neste ano, na esteira do sucesso das duas primeiras temporadas de “Mandalorian”, que ajudaram a alavancar as novas assinaturas do Disney+. Nos próximos anos estão previstos ainda mais dois filmes e oito séries ambientadas em uma galáxia muito, muito distante.
Entre os títulos anunciados estão as séries "Obi-Wan Kenobi", em que o ator Ewan McGregor retornará ao papel do mestre Jedi, e "Lando", sobre o mercenário Lando Calrissian. O próximo filme, "Roque Squadron", será lançado apenas no fim de 2023.
“Com marcas tão fortes, a Disney tem uma vantagem muito grande sobre os concorrentes”, afirma Vebis Junior. “Ela aglutinou esses títulos em um só serviço. Quem vê ‘Mandalorian’ pela primeira vez já tem todo um catálogo de produções anteriores para continuar assistindo.”
Além das duas franquias populares, outros títulos serão exclusivos para o streaming, ou serão lançados de forma simultânea nas salas e no digital. Como aconteceu com “Mulan”, no ano passado, a animação “Raya e o Último Dragão” está disponível agora por um preço adicional à assinatura. Em abril, passará ao catálogo normal.
"Assim como a pandemia mudou nosso trabalho para um regime de home office, o cinema sofreu a mesma transformação", diz Vebis Junior. "Ele se adequou ao formato da TV. Abandonou a grandiosidade da sala de cinema e entrou no nicho de séries."
O que não mudou foram os orçamentos, que seguem altos. “Wandavision” custou US$ 200 milhões. É o mesmo orçamento do filme “Viúva Negra”, uma das próximas grandes apostas da Marvel. A nova série, “Falcão e o Soldado Invernal”, saiu um pouco mais em conta: “apenas” US$ 150 milhões.
A Disney não divulga o orçamento total das produções deste ano. Mas, em 2024, ano em que a empresa espera que o serviço alcance a marca de 260 milhões de assinantes, a previsão é gastar entre US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões anualmente em produções de conteúdo original apenas no Disney+. O valor total pode chegar a US$ 16 bilhões, contando as outras plataformas da Disney, como Hulu e ESPN+.
A aposta da Disney em seu serviço de streaming não significa que os lançamentos nos cinemas físicos estejam com os dias contados, como alguns críticos mais pessimistas acreditam. “O cinema sempre se reinventa”, diz Vebis Junior. “No auge da pirataria, os estúdios exploraram a tecnologia 3D e lotaram salas. Quando a pandemia passar, eles vão voltar com alguma nova tecnologia.”
"Viúva Negra", por exemplo, deveria ter chegado às salas decinema em maio de 2020. Foi adiado duas vezes. Agora, está previsto para o fim de abril no Brasil, e no começo de maio, em outras praças. Com a pandemia descontrolada, é pouco provável que o lançamento realmente aconteça.
Mesmo com os parques fechados, a Disney tem convencido os investidores com sua estratégia. Em 2020, as ações da empresa, avaliada em US$ 346,9 bilhões, se valorizaram 22,2%. Neste ano, a alta é de 5,5%.