Ele nasceu em Brasília e veio fazer história em São Paulo só com 7 anos. Ídolo em todos os continentes, tudo que Kaká diz carrega o exemplo de comportamento no futebol mundial.
A vontade de ser uma pessoa melhor está no profundo respeito pelo adversário, na maneira como vê os triunfos e também nos períodos difíceis da carreira, além do modo como prioriza a família neste momento de vida. Valores, aliás, que ele aprendeu desde cedo em casa. “Nunca tive orgulho de dizer que resolveria tudo. Dizia que ia dar meu melhor. E fui me destacando”, ele conta com a humildade característica.
O garoto que no começo de carreira traçou dez metas para sua trajetória profissional — e cumpriu cada uma delas —, continua muito fiel a seu projeto de vida. Hoje, garante que recusa as propostas de empregos em gestão no futebol para ficar com os quatro filhos, de 2 a 16 anos, se interessa por educação, gosta mais de ajudar as instituições do que falar sobre isso e reconhece a importância da religião em tudo que aconteceu em sua vida.
Sair dos gramados, entretanto, não quer dizer sair dos esportes. Pelo contrário: a aposentadoria abriu uma porta para os esportes radicais que ele relata nessa conversa que tivemos durante um almoço na Casa Vivo, em São Paulo.
Kaká, você carrega uma força familiar em toda a carreira. Além de você, seu irmão Digão jogava futebol, seu primo Higor Leite também. Dá para dizer que era um esporte de família?
Meu pai chegou a jogar um pouco de futebol, mas nunca incentivou a sermos jogadores. Porém, vários seguiram carreira. Eu, meu irmão, outro primo, o Eduardo, que também foi jogador profissional, jogou no Botafogo e fora do Brasil, e o Higor, que está jogando também. Até os 4 anos em Brasília, não tive contato nenhum com futebol. Em Cuiabá, participei de um jogo de crianças. Mas a aproximação real com o esporte foi quando cheguei em São Paulo.
Foi aí que perceberam que você tinha um talento diferente?
Entrei no Colégio Batista Brasileiro, em São Paulo, e o professor de educação física teve essa sensibilidade. Ele chamou a minha mãe e falou: “Olha, seu filho é diferente dos outros alunos”. Ela procurou uma escolinha de futebol perto de casa e eu comecei a jogar.
E é diferente jogar por lazer e se dedicar profissionalmente…
Fiquei sócio do São Paulo e treinava lá, no social. Passei por todas as categorias. Comecei a jogar na base com uns 12 anos. E já tinha uns 15 anos quando decidi lutar para ser um jogador profissional. Aí já ficou um pouco mais sério.
“Com 17 anos, eu terminei o colégio, e aí falei para eles: ‘me deem um ano para eu tentar ser jogador profissional. Se eu não conseguir, no ano seguinte eu me matriculo e vou fazer universidade’. Naquele ano, eu acabei subindo para o profissional.”
Você já se destacava?
Mais ou menos, porque eu tinha 2 anos de atraso na idade óssea. Era muito pequeno em relação aos outros meninos, meu desenvolvimento foi muito tarde. Tinha muita vontade, amava o futebol, mas acabava jogando muito pouco. O São Paulo também começou a fazer um trabalho comigo de desenvolvimento com endocrinologista e fisiologista. Foi só com 15, 16 anos que entrei na fase do estirão.
E aos 18 você teve um acidente bem sério, não foi? Como foi isso?
Eu já estava no Sub-20, que é a última categoria antes de chegar no profissional, e era titular da equipe do São Paulo. Mas em um final de semana, tomei o terceiro cartão amarelo e fiquei suspenso. Nossos avós paternos moravam em Caldas Novas e fomos passar o fim de semana com eles. Eu e meu irmão estávamos brincando em um toboágua. Desci de frente e bati a cabeça no fundo da piscina. Meu pescoço virou e na radiografia apareceu que eu havia fraturado a sexta cervical. Eu estava prestes a ser jogador profissional. Perguntei para o médico quando poderia voltar a jogar e ele disse que não era dia de questionar e, sim, de agradecer. Eu entendi a gravidade da lesão: na maioria dos acidentes de piscina, a pessoa não volta a andar. Fiquei dois meses parado. Quando voltei, fui para o banco. Mas quem diria: foi bem isso que me deu uma oportunidade no profissional.
Como foi essa história?
Foi muito bom, porque o time profissional estava entrando no Torneio Rio-São Paulo. Já o Sub-20 disputava a Copa São Paulo. Mas o treinador do profissional pediu alguns atletas do Sub-20 para compor o elenco. Meu técnico enviou um atacante titular, mas disse que mandaria um meia reserva. Era eu. Fui, fiz o treino, joguei no profissional e não voltei mais. Foi incrível!
O técnico Carlos Alberto Parreira disse que um jogador como Kaká surge a cada 20, 30 anos. Carlo Ancelotti falou que você demonstrava um talento excepcional e tinha um perfil diferente dos brasileiros. Como você se descreveria?
Essa declaração do Parreira, em 2001, foi muito boa para mim. Ele era treinador do Inter na época e o São Paulo venceu o jogo. No fim, foi um incentivo para que depois eu pudesse ser convocado para a Copa do Mundo de 2002. Ancelotti foi meu treinador por seis anos no Milan. Ele realmente tem essa habilidade de liderar, gerir e conviveu com vários brasileiros em clubes e ambientes diferentes. Acho que eu respeitava os horários, a hora de dormir, de me alimentar. Brasileiros talvez gostassem um pouco mais de festa e eu sempre fui muito regrado e disciplinado.
E foi esse jeito de ser que o fez traçar as suas famosas dez metas? E você foi cumprindo as dez…
Dei uma entrevista para a Revista Placar em 2001 em que listei as dez metas. Queria subir para o time profissional do São Paulo, me firmar como titular, jogar na Seleção Brasileira… e fui cumprindo cada uma delas. A última era jogar em um grande clube europeu. Aconteceu em 2003, quando fui para o Milan.
Como foi viver essa transferência e mudar de país aos 21 anos? Conta um pouco dessa fase.
Foi muito legal essa transferência. Eu vivia um momento não tão bom no São Paulo, mesmo sendo um dos protagonistas daquele time, na época. Me destaquei na Seleção, na Copa Ouro, no México, em 2003, e isso me abriu o mercado europeu. Vieram algumas propostas, entre elas a do Milan. O São Paulo não queria, achou que o valor era baixo e não estava muito disposto a vender, mas eu pedi para o presidente para ser vendido. Eles aceitaram e fiquei seis temporadas na Itália.
Esse tempo todo com Ancelotti. Ele foi o grande técnico da sua carreira?
Foi o grande treinador da minha carreira, porque foi quem me fez performar da melhor maneira possível. Extraiu o meu melhor.
Como foi o período de adaptação com os jogadores brasileiros?
Era um momento de muitas emoções. Tinha a alegria de estar realizando um sonho e o medo do que iria acontecer. Fiquei seis meses sozinho antes de minha família chegar e os brasileiros foram fundamentais. Cafu, Serginho, Dida, Leonardo, Rivaldo, Roque Júnior. Cafu me adotou. Tudo o que ele ia fazer, me ligava e falava: “Ó, estou saindo para jantar”. O pessoal me ajudou muito nesse período de adaptação.
Esse time era cheio de estrelas. Como você se sentiu ao chegar lá?
Escutei isso do presidente do São Paulo. “Você sabe quem joga lá na sua posição?” Era o Rivaldo e o Rui Costa. Os caras tinham acabado de ganhar a Champions League. Ele falou: “Você vai para lá para ficar no banco para esses caras. É isso mesmo que você quer?” Era, porque, no mínimo, eu aprenderia muito com eles. Quando eu cheguei, tive minhas primeiras oportunidades já nos primeiros dias.
“Eu não consigo desvincular o fato de ter ganhado o prêmio de melhor do mundo das conquistas coletivas. O time do Milan era muito forte, o treinador era muito bom. Foi um pacote que me empurrou para o prêmio.”
O assédio da mídia mudou muito, imagino. Com toda visibilidade do futebol italiano…
É um outro patamar de tudo. De crítica, de pressão, de responsabilidade. Mas eles são fanáticos por futebol, atenciosos, gentis… Claro que dia de derrota não é dia de sair de casa em nenhum lugar do mundo. Mas quando ganha, aí você sai, vai jantar...
Vamos falar um pouco de Seleção. Qual a diferença entre jogar na Seleção e jogar em um clube? Em 2006 e 2010, você foi para a Copa, mas jogava no Milan e no Real Madrid…
É difícil o treinador da Seleção conseguir colocar uma filosofia, uma cultura e um estilo de jogo em tão pouco tempo. Esse é o grande desafio. A vantagem é que são os melhores, extremamente talentosos. A afinidade vem do fato de o jogador já saber mais ou menos como outro joga, ter sintonia e leitura mesmo sem o falar. E a grande vontade de estar representando seu país, isso é muito legal.
Para um jogador, realmente é o ápice da carreira ganhar uma Copa do Mundo?
Realmente. A nata do futebol está naquele evento de quatro em quatro anos. A Copa do Mundo é muito especial.
E por que que a gente está nessa situação em que estamos hoje? Qual sua visão sobre esses 20 anos sem título mundial?
Acho que tem alguns fatores. Um deles é o momento que a gente vive. Na minha época, quando tinha jogo da Seleção, só tinha isso. Hoje a partida compete com o mundo — sejam eventos ou filmes. Outro ponto é que os atletas hoje no Brasil saem cada vez mais cedo para jogar fora. Se pudéssemos segurar um pouquinho mais os atletas aqui para criar uma identificação com a torcida, isso favoreceria também. Outra questão é que desde 2002 não temos os resultados que esperam. Precisamos melhorar em muitas coisas, mas acho que a nossa seleção vai ser sempre uma das grandes favoritas para ganhar a Copa do Mundo.
Você acha que com essa conjunção de fatores que você citou, os jogadores ainda se sentem orgulhosos de serem convocados?
A sensação que eu tenho é que sim. Porque você não vê ninguém fazendo corpo mole para não ir. Todo mundo sempre fica muito feliz e alegre de estar sendo convocado. Um exemplo é o Cristiano [Ronaldo], em Portugal, com 40 anos querendo ir para mais uma.
“Os gols mais bonitos que eu fiz na minha carreira, que são as arrancadas, foram quando eu era mais jovem, quando não calculava muito a estratégia.”
Como foi a decisão de trocar o Milan pelo Real Madrid em um contexto vitorioso na Itália?
O Silvio Belusconi [dono do Milan] tinha uma política no clube de não vender jogador. Em 2009, o Manchester City fez uma proposta para o Milan e é a primeira vez que o Milan abre a possibilidade de vender. Como a proposta era muito boa, a decisão final veio pro meu colo e recusei. Seis meses depois, vieram mais propostas. Eu falei que o clube que eu gostaria de jogar era o Real Madrid.
E por quê?
Ah, o Real Madrid tem um apelo muito grande. Desde brasileiros que já jogaram lá, a história do clube, do estádio… Tudo que envolve o Real Madrid é muito grande.
Como foi a mudança para o Real?
Eu já tinha o Lucas, que nasceu em 2008. E a Isabella nasceu no Brasil, quando eu já jogava na Espanha. No Real tive uma fase mais difícil. Era a formação desse time vencedor que ganhou tudo: no mesmo ano eu, Cristiano Ronaldo, Benzema, Xabi Alonso, o Marcelo já estava, Sergio Ramos também… No meu primeiro ano, no final da temporada, me lesionei. Fui para a Copa de 2010, voltei e fiz uma cirurgia no joelho. Parei seis meses. Minha grande dificuldade no Real foi a continuidade. Seja no começo por lesão, seja depois por escolha do treinador.
O fato de o elenco ser mais competitivo influenciava nisso?
Uma das coisas que eu mais acho legal no esporte de alto rendimento é que essa competição é o jeito de melhorar. Para mim, foi uma grande descoberta. Eu não via meu oponente como um inimigo. Isso me fazia crescer e tentar fazer diferente e melhor.
A mídia espanhola é muito rigorosa. Como você lidou com isso?
É tudo muito exponencial lá. Fui capa do jornal Marca várias vezes de maneira bem hostil. Decidi não ver mais nada. Naquela época, estavam surgindo redes sociais também. A única forma de administrar era não vendo, porque não tinha como não ser afetado e impactado de alguma forma.
Isso deve ir minando a confiança do atleta. A cabeça deve ficar se questionando o tempo todo…
Foi um período emocional bem intenso para mim. Porque eu saí de uma situação em que era o melhor do mundo, o cara, para uma situação em que era uma das piores contratações de um dos maiores clubes do mundo, da história. Entra a questão de identidade. Mas quem eu sou aqui? Tive muito apoio dos meus familiares. Eles sempre foram muito parceiros em todos os momentos. Fiquei quatro anos lá, até 2013. Foi uma experiência incrível. Tinha na minha cabeça que daria certo, sabe? Eu lutava muito por aquilo ali e relutava em sair. Até que, em 2013, eu queria muito estar apto para disputar a Copa do Mundo no Brasil. Me disseram que ia ficar mais difícil para mim ser titular no Real. Falei que não era isso que eu queria. E aí decidi voltar para o Milan. Eu precisava voltar para um lugar onde eu pudesse errar. No Real Madrid, o limite da tolerância ao erro é muito pequeno.
“No processo de lesão, você tem muita gente em seu entorno. Mas é muito solitário. É um momento em que só você sente seu corpo. Tem dias em que o joelho está ótimo. No outro dia você acorda pensando: ‘não vou conseguir jogar nunca mais, está doendo muito’.”
No seu auge, no Milan, parecia que as coisas saíam no automático, sem pensar muito. O corpo tem uma resposta rápida. No Real, a sensação que dá é que tem mais pensamento e um pouquinho de confiança a menos. Faz sentido?
É exatamente essa diferença entre o jogador jovem e o mais experiente. A maioria dos grandes gols da carreira é antes da maturidade, na intuição de pegar a bola, ir embora e fazer o que dá. Quando se tem um pouco mais de entendimento do jogo e experiência, raciocina mais — eu dominava a bola, levantava a cabeça e fazia a conta de quantos zagueiros tinham lá.
Mas mesmo assim o saldo do período na Espanha foi um sucesso. Por quê?
O sucesso que eu tive lá é institucional. Mais pelo meu comportamento do que pela minha performance. Até hoje, recebo convite para jogar no Real Madrid Legends, que é o jogo dos ex-atletas do Real Madrid. Até questionei. Segundo eles, sou considerado uma lenda do futebol, que jogou no Real Madrid, mas sou convidado pelo meu comportamento ao longo dos quatro anos no clube como excelente profissional. Realmente nunca falei mal do Real ou reclamei de dor nos treinos. O fato de ser convidado é uma grande conquista. Não tive os resultados que eu gostaria de ter tido no Real Madrid dentro de campo, mas ter esse reconhecimento fora vale muito também. Fiz o meu melhor para ter os resultados em campo, mas não foi o que eu gostaria.
Mesmo voltando para o Milan, você não foi convocado para a Copa de 2014. Você se sentiu decepcionado?
Estava com 32 anos ainda. Em teoria, jovem. Fiz uma boa temporada com o Milan, e achava que eu tinha condições de ir para Copa em 2014. Mas o treinador optou por não me levar, e não tenho sentimento nenhum de amargura. Toda vez que encontro o Felipão, que era técnico naquele ano, eu sou muito grato a ele por tudo o que ele fez por mim na Seleção. E eu entendi que não era hora de ir mais. Decidi curtir a Copa no meu país e no primeiro jogo da seleção lá em Itaquera, estava dentro de campo fazendo uma entrada ao vivo com a Globo e com o meu filho Luca.
O que você acha que vai ser essa Copa de 2026, com mais seleções e mais países sede [a Copa será no México, Estados Unidos e Canadá]?
Não vai ter nada igual à Copa do Catar para o público. Os jogos aconteciam no mesmo lugar, em um raio de 60 km. Agora vamos para uma Copa muito grande. Mas o Brasil vai entrar como um dos favoritos, como sempre. E é esperar para ver um pouco como será para o torcedor se deslocar.
Você também teve a fase em Orlando, que foi uma mudança radical. Nos Estados Unidos daquele tempo tinha menos fãs de futebol do que hoje em dia?
Eu vi essa transição acontecer e eu queria participar daquilo. Foi uma escolha ver o crescimento do futebol norte-americano. E eu gosto muito dessa parte de gestão. Lá nos Estados Unidos, o modelo de liga é diferente de qualquer outro lugar do mundo do futebol. Então eu queria entender melhor como era participar desde a formação do time, construção de estádio, montar um centro de treinamento… a forma que eles enxergam o esporte em geral como entretenimento, como experiência do torcedor. O jogo é às 18h, mas às 14h eles vão para o estádio, abrem o porta-mala no estacionamento, fazem churrasco, brincam com a família. Viver essa cultura americana do esporte foi muito legal.
Tanto que você continua com casa em Orlando, tem uma conexão com a cidade...
Amo Orlando, é um lugar que sempre que eu posso, visito. É uma das minhas cidades preferidas. Gosto dos lugares onde morei: Madri e Milão também. Mas o latino em Orlando tieta mais. Eu amava ir ao mercado, por exemplo, mas na Flórida eu não conseguia por conta do assédio. Não dava para fazer coisas mundanas como ir no pet shop escolher ração para o cachorro, e eu gostava de fazer isso.
Você é um sucesso na Ásia, onde eu já testemunhei que eles são fanáticos por futebol e pelos ídolos brasileiros. Como é essa a relação?
O asiático ama futebol e consome o futebol europeu. Tem uma base de fãs muito grande e foi uma surpresa a primeira vez em que eu fui para lá. E hoje, na Arábia, Oriente Médio também. O mercado abriu para o lado de lá e o contato com eles é muito incrível, porque é totalmente diferente. Eles veem o futebol como uma oportunidade da vida.
Kaká, você tem quatro filhos em idades diferentes [Luca tem 16 anos, Isabella, 13, Esther, 4 e Sara, 2]. Como é a paternidade para você?
É uma das maiores alegrias que eu tenho, sim. Eu considero um trabalho, porque quero ter esse tempo com eles. Todas as minhas decisões profissionais, hoje, partem dessa escolha de estar presente na vida dos meus filhos. São desafios diferentes para cada idade, mas é uma das coisas que eu mais gosto de fazer. Estar com eles, conversar com outros pais, com médicos, com as pessoas para tentar entender as fases, ajudá-los a caminhar e a fazer boas escolhas.
“É muito difícil esse momento de parar para um atleta profissional. É muito tarde para o esporte, mas muito cedo para a vida. ”
E o Lucas joga futebol ainda por cima, não é? Dizem que o estilo é muito parecido com o seu. É verdade?
É muito parecido. Não é igual. Não vou dizer que ele tem todo talento, acho que isso já é uma grande responsabilidade. Mas tem essa vontade e pensa muito no modelo americano de estudar e jogar pela universidade. Torce para o São Paulo, assiste aos jogos, está sempre falando. É um talento a ser lapidado. A gente vai descobrir no futuro, mas o jeitinho é igual, a corridinha e a passada.
Você tem 25 milhões de seguidores no Instagram. Como é sua relação com o celular? Também vê isso como um trabalho de ser ativo em redes sociais?
Eu entendi que isso pode ajudar e pode ser prejudicial. Quem administra a maior parte disso é o meu irmão, Digão. Amo tecnologia, ao mesmo tempo em que algumas coisas são assustadoras, outras são bem práticas. Vejo séries, sigo pessoas, empresas, influenciadores. Mas existe o desafio do equilíbrio.
Com as crianças também, não?
Com as crianças, muito mais. Equilibrar esse tempo não só de tela, mas de tecnologia em geral com o tempo real, de convívio, mais humano.
Você tem um trabalho social bem legal também e já atuou no programa alimentar mundial da ONU. Qual sua dedicação específica sobre causas sociais?
Eu fui embaixador do Programa Alimentar Mundial da ONU por muitos anos. Fiz uma opção pessoal de não criar minha própria fundação e, sim, de ajudar as que já existiam. Mas acabo falando pouco sobre isso porque eu prefiro atuar sem comentar demais.
Você tem estudado gestão. Tem alguma meta relacionada ao assunto?
No futebol, há três profissões imediatas: treinador, diretor e empresário. Queria entender de outras áreas e ver o que gosto. Fiz vários cursos: o da UEFA e da FIFA de gestão esportiva, um curso de negócios no esporte em Harvard, o de treinador da CBF. Foram 5 anos estudando. Gosto de gestão e poderia ser dono de um clube, de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) aqui no Brasil ou participar da direção esportiva. Mas acho que não é agora. Minha grande dedicação de tempo hoje é para a minha família, com os meus filhos e esposa. Atuo no mercado do marketing esportivo, estou presente em eventos e, assim, consigo não sacrificar o tempo em casa.
Chegam convites para trabalhos de gestão?
Muito. Eu tenho sempre o meu momento de oração, de reflexão. Já recebi uns 30 convites nessa área. Para todos dei a mesma resposta depois de pensar muito: vou recusar porque quero dedicar o tempo à família.
Você falou agora sobre oração. A religião é algo importante na sua vida?
Fundamental. Sempre foi, desde criança. Eu nasci num lar cristão evangélico e meus pais fizeram essa transmissão dos valores cristãos para os filhos. Só que chega um momento da sua vida que você precisa ter as suas próprias experiências. E aí aos poucos eu fui tendo as minhas experiências com Deus. Consigo enxergar a mão de Deus na minha vida diariamente.
Esportes de Kaká
Tênis
“Comecei a jogar na pandemia, para fazer uma atividade que não representasse risco de contágio.”
Beach tennis
“Foi o Digão que me arrastou para o beach. E a gente foi vice-campeão de um torneio!”.
Golfe
“É um esporte muito incrível por ser muito desafiador. Vivemos um mundo hoje tão acelerado e esse esporte me obriga a desacelerar. Não dá para jogar golfe correndo. A concentração ali é fundamental. É sentir, parar, olhar, ver o vento, a distância… Precisa ir devagar para fazer bem feito.”
Ski
“Era uma coisa que eu tinha muita vontade, mas sempre ficava no pé da montanha, tomando chocolate quente e vendo o pessoal descer. Comecei a praticar, finalmente, e este ano foi nossa quinta temporada de ski.”
Maratona
“Corri por um tempo, fiz a meia maratona do Rio (que é uma prova linda) e a Maratona de Berlim. Treinava no Ibirapuera, Bruno Covas, Parque do Povo e também fazia musculação.”
Frase
“Eu amo esporte. Mas atuando no futebol profissional por quase duas décadas, não podia praticar outras modalidades. Quando me aposentei, corri para fazer tudo o que tinha vontade.”
*Christian Gebara é presidente da Vivo e diretor artístico da revista Velvet