Depois de dezenas de alarme falsos, Michael Bloomberg confirmou que vai tentar a vaga democrata para disputar a presidência dos Estados Unidos.
Prefeito de Nova York por 12 anos consecutivos, o bilionário de 77 anos fez fortuna com a empresa que leva seu sobrenome, de análise de informações financeiras e de comunicação, e sempre negou que participaria da corrida à Casa Branca.
Bloomberg mudou de ideia porque, diz ele, se viu sem alternativas diante de uma possível reeleição do atual presidente, o republicano Donald Trump. "O sonho americano está em perigo. Podemos salvá-lo apenas com ideias ousadas – e com uma liderança que unifique o país e cumpra as promessas", disse "Mike" Bloomberg a jornalistas, no dia da confirmação de sua candidatura, em 24 de novembro.
Mas, ao se lançar na corrida presidencial, Bloomberg tem um dilema pela frente. Se vencer, o que ele fará com a Bloomberg, a sua empresa de informações financeiras, que deve faturar mais de US$ 10 bilhões neste ano?
Alguns analistas políticos e econômicos acreditam que há um potencial conflito de interesse e que o bilionário terá de se desfazer de sua empresa. E os rumores já correm a mil por hora em Wall Street sobre quem poderia comprar a companhia. A mais citada é a Microsoft.
A companhia fundada de Bill Gates seria uma candidata natural porque a Bloomberg é um tesouro de dados. A Microsoft não comentou a informação. E a Bloomberg disse que "não está à venda".
O que fazer com seu negócio não parece ser uma preocupação imediata de Bloomberg. Ele agora se prepara para a guerra política, que financiará com seus próprios recursos.
Homem mais rico de Nova York e nono mais rico do país, o americano de descendência judaica tem uma fortuna avaliada em US$ 58 bilhões e já se comprometeu a desembolsar centenas de milhões de dólares na disputa.
Além de assegurar os fundos necessários, o político e empresário abraçou uma campanha mezzo republicana, mezzo democrata. "Ele não quer ser o melhor representante de partido algum, só quer se mostrar como a versão mais elegível de alguém que pode fazer parte deste sistema eleitoral", disse à CNN o repórter do The New York Times Azi Paybarah, que há anos cobre a carreira do magnata.
Campanha 2020
Embora tenha escolhido "brigar" ao lado dos democratas, Michael Bloomberg não tem a simpatia de seus adversários no Partido Democrata. Bernie Sanders e Elizabeth Warren, que lideram a corrida pelos "azuis", foram os primeiros a criticar a decisão do magnata. Ambos o acusam de querer a presidência por interesse próprio, e não público.
Bloomberg não respondeu aos colegas, mas suas ideias deixam claro que defendem coisas bastante diferentes. O empresário, por exemplo, é contra a taxação de grandes fortunas e a favor do aborto e das questões climáticas.
Ele, no entanto, não é um radical na questão climática. Bloomberg chama, por exemplo, de ilusória a proposta para um novo pacto verde proposto pela congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que trata com maior rigor as pautas ambientais.
Bloomberg não acha também viável um sistema de saúde público nos Estados Unidos e defende a regulação do porte de armas. Quanto aos imigrantes, ele tem uma postura mais alinhada aos democratas, defendendo os "dreamers", como são chamados aqueles que vêm para os Estados Unidos quando criança, sem documentação.
No que tange os direitos LGBTQ+, o candidato se coloca como um aliado – desde os tempos de prefeito em Nova York advoga a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e pela igualdade de gênero.
Ele é um liberal nos costumes e na econômica, mas "na medida certa" para agradar alguns eleitores conservadores
À bordo de sua candidatura estão o estrategista político Howard Wolfson, que foi conselheiro de Bloomberg durante seu mandato como prefeito de Nova York; o chefe de comunicação do grupo Bloomberg, Jason Schechter; e Kevin Sheekey, chefe global de relações governamentais e marketing da Bloomberg.
O homem e o empresário
Filho de Charlotte e William Henry Bloomberg, que trabalhava como contador em uma empresa de laticínio, Michael nasceu no subúrbio de Boston, em Massachusetts, e por lá viveu até o fim de sua vida acadêmica.
Bacharel em engenharia eletrônica pela Universidade Johns Hopkins e mestre em administração pela Harvard, o americano custeou seus estudos com empréstimos e o salário proveniente de um emprego como atendente de estacionamento.
O investimento, contudo, teve rápido retorno: no mesmo ano em que concluiu seu MBA na Harvard, em 1966, ele foi contratado como uma espécie de trainee pelo Salomon Brother, um banco de investimentos de Wall Street.
A ascendência meteórica de Bloomberg na companhia lhe colocou em posições de liderança. Ele chegou a supervisionar as trocas e vendas de ações antes de chefiar o departamento de tecnologia da informação da empresa.
Em 1981, o Salomon Brothers foi comprado pela Phibro Corporation, e o jovem prodígio foi dispensado – mas não saiu de mãos abanando: as ações que tinha em mãos valiam, na época, US$ 10 milhões.
Com esse dinheiro, decidiu investir em seu próprio negócio. Inaugurou no mesmo ano a Innovative Market System depois de entender que Wall Street e toda comunidade financeira estava disposta a pagar por informações qualificadas de negócios, entregues com rapidez e em formatos diversificados, como gráficos e planilhas.
O primeiro cliente foi a Merrill Lynch, que desembolsou US$ 30 milhões para instalar 22 terminais da novata em suas dependências.
Sob os mesmos valores e propósitos, a empresa foi renomeada Bloomberg LP em 1987. Três anos depois, a companhia havia instalado 8 mil terminais de informação. Em outubro de 2015, a contava passava dos 325 mil terminais ativos em todo o mundo.
Hoje, a Bloomberg LP é uma empresa global que emprega quase 20 mil pessoas, em 176 locais, em 120 países. Líder do setor, ela detém 32,5% do mercado e deve gerar anual superior a US$ 10 bilhões em 2019, segundo estimativas da consultoria Burton-Taylor International.
Michael Bloomberg é dono de 88% do conglomerado que criou. Ele está casado pela segunda vez e tem duas filhas, Georgina e Emma Bloomberg.
Legado Político
Semanas após o ataque às Torres Gêmeas, Michael Bloomberg iniciou oficialmente sua vida política como prefeito de Nova York pelo partido republicano.
Seu mandato começou em 2002 e, desde o princípio, "rejeitou" o salário oferecido pelo cargo: por doze meses de trabalho, ganhava um valor simbólico de US$ 1, porque o papel de prefeito não pode ser desempenhado de graça. Como ficou no poder por 12 anos (três mandatos), ele economizou US$ 2,7 milhões aos cofres públicos.
No gabinete, o maior legado de Bloomberg foi reorganizar, em zonas, 40% da cidade de Nova York. Há quem diga que a medida trouxe desenvolvimento e investimentos para a região, e outros que apontam que a medida aumentou as desigualdades sociais. Rebatendo as críticas, o ex-prefeito afirma que construiu e preservou 165 mil unidades habitacionais sociais.
Também veio dele a lei que proíbe cigarros em ambientes fechados, parques públicos e praias. Bloomberg atuou ainda na questão climática, cortando em 14% a emissão de carbono da cidade.
Mas seu governo não foi só flores. A medida conhecida como "stop-and-frisk”, que autoriza que a Polícia de Nova York a revistar qualquer pessoa, mesmo sem suspeitas aparentes, foi alvo de grande polêmica e fortes críticas.
Por fim, a juíza federal Shira Scheindlin entendeu que a medida violava a Constituição, já que a regra parecia ser aplicada mais frequentemente e duramente a negros e latinos.
Outros acusaram Bloomberg de legislar em favor dos mais ricos, tornando Nova York financeiramente inviável para boa parte da população.
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