Passado o pior da crise, a China é quem lidera a recuperação do mercado de luxo. Embora a indústria calcule fechar o ano com queda de 35% nas vendas, o país liderado pelo presidente Xi Jinping tem surpreendido algumas marcas do setor.

O grupo Prada, por exemplo, disse que as vendas chinesas deste ano já superaram, com folga, as de 2019 e que, desde o começo do ano, ostenta crescimento de dois dígitos.

Isso ajuda a recuperação do grupo, que viu sua receita global cair 35,3% no primeiro semestre de 2020, chegando a US$ 1,1 bilhão. No mesmo período de 2019, a receita do conglomerado foi de US$ 1,7 bilhão.

Em conversa à Reuters, o executivo Patrizio Bertelli, CEO da Prada, afirmou que a recuperação na China é sentida desde o fim de março, com as vendas avançando 60% nos meses seguintes.

"Acreditamos que essa tendência deve ser mantida nos próximos meses", disse Bertelli. Isso não significa que a recuperação é linear em todo o território asiático. Em Hong Kong, por exemplo, as vendas no primeiro semestre de 2020 caíram 40%.

No total, a região Ásia-Pacífico movimentou US$ 438 milhões, ou 44% de todas transações do primeiro semestre do grupo Prada, que é dono das marcas Miu Miu, Church's e Car Shoe. 

Segundo um levantamento da consultoria Bain, os compradores chineses responderam por 37% das compras de produtos de luxo em 2019, sendo que a maioria das transações aconteceu no exterior, em viagens internacionais.

No mesmo estudo, a consultoria previa ainda que os consumidores chineses seriam responsáveis por quase 50% das vendas do mercado de luxo até 2025. Mas, em uma atualização publicada em maio deste ano, a Bain diz que a pandemia pode antecipar esse fato em até dois anos, graças a um fenômeno chamado "compra de vingança".

Basicamente, os chineses estão se redimindo dos meses de isolamento social indo às compras. E esse consumo não deve desacelerar. O mercado de luxo na China movimentou US$ 111 bilhões em 2019, mas nenhuma consultoria arrisca uma previsão para este ano.

A Louis Vuitton que o diga. A loja na Shanghai Plaza 66, flagship da marca no país, vendeu US$ 21,7 milhões só no mês de agosto, quase o dobro da média para o período. No ano passado, o CEO da marca, Michael Burke, disse em conversa com os investidores, em Paris, que o crescimento da grife na China era "inédito". 

Quem também confirma o otimismo na Ásia é Jean-Paul Agon, o homem que lidera a L'Oréal. Os números da gigante de produtos de beleza na China voltaram ao patamar positivo já em março. E em abril já cresciam 10%. 

O "milagre" chinês se deve a um amplo e rico mercado interno. A China conta 1,4 bilhão de habitantes e fica atrás apenas dos Estados Unidos na contagem de bilionários e milionários. No total, são 614 bilionários e 4,4 milhões de milionários.

Por fim, entra para essa conta o fato de a sociedade chinesa ter uma estrutura bastante distinta, como analisou a cientista política especializada em moda, Adina-Laura Achim, em um texto publicado no portal Jing Daily, focado no consumo asiático.

"A cultura desempenha um papel significativo no apetite da China por luxo. Os bens de luxo, para os chineses, são emblemas de sucesso. A maneira mais rápida e fácil de se dizer um vencedor, na China, é por meio do consumo de luxo." E eles estão comprando como nunca.

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