Com quantas celebridades se faz um blockbuster? A Quibi está descobrindo, a duras penas (e perdas), que centenas de atores e diretores premiados não garantem sucesso de audiência.
Esta semana, a empresa, que levantou US$ 1,8 bilhão em investimentos, alcançou 90 dias de operação e concluiu o primeiro ciclo de "amostra grátis" oferecido aos primeiros usuários. O resultado? 92% dos que baixaram o aplicativo não seguiram na plataforma de streaming exclusiva para celular.
Os dados são da empresa de análise Sensor Tower e contemplam apenas os 910 mil usuários que fizeram o download do app nos três primeiros dias de seu lançamento – período em que a oferta era válida.
A contagem da agência aponta que, "no máximo", 72 mil pessoas continuaram ativas na plataforma ao final do período de degustação. A Quibi cobra US$ 4,99 para a categoria com publicidade e US$ 7,99 de quem quiser assistir aos seus shows sem anúncios.
Para balizar essa taxa de conversão, a mesma Sensor Tower indica que a Disney reteve 11% de sua audiência no Disney+ ao final do período de teste gratuito. A diferença, porém, é que no caso da empresa do Mickey Mouse, cerca de 9,5 milhões de pessoas se inscreveram no serviço de streaming no momento de seu lançamento.
Atualmente, o Disney+ conta com mais de 50 milhões de assinantes pagos graças a expansão para outros países e, em parte, à pandemia, que provocou um boom no segmento de streaming.
Curiosamente, a mesma crise do coronavírus, que impulsionou o consumo do conteúdo da Netflix, Disney+, Hulu e outros serviços de streaming, foi parcialmente responsável pela frustração da Quibi.
Segundo seu criador, o veterano de Hollywood, Jeff Katzenberg, fundador da Dreamworks, manter o lançamento da plataforma em abril, mesmo sabendo das medidas de isolamento social, foi um erro. Isso porque o Quibi foi feito para o consumo rápido: enquanto se espera o ônibus, o elevador ou o café.
Os vídeos na plataforma têm, no máximo, 10 minutos de duração – o nome "Quibi", aliás, é um acrônimo de "quick bites", algo como "mordiscadas", em português, mas que pode ser traduzido como "lanche rápido".
Vale notar, porém, que outros aplicativos de conteúdo rápido ganharam tração. O Instagram, com seu recurso Live, de vídeos exibidos em tempo real, por exemplo, tem sido usado à exaustão em tempos pandêmicos. O chinês TikTok é outro que segue em franca ascensão.
Para alguns especialistas, porém, o fracasso do Quibi, que estreou na terceira posição de aplicativos mais baixados da App Store e escorregou para a 284ª em meados de junho, está em sua gestão.
O jornalista Benjamin Wallace, que escreve para o portal Vulture, chegou a entrevistar a CEO da empresa, Meg Whitman, e a questionou sobre os filmes e séries que ela acompanhava. "Acho que não me classificaria como uma entusiasta do entretenimento", devolveu a executiva.
Esse descolamento da liderança com o produto final foi notado pela escritora californiana Kara Brown, que usou seu Twitter para criticar. "A lição que eu aprendi com isso (o fracasso do Quibi) foi: nunca dê US$ 2 bilhões a dois 'velhos' para que façam algo descolado."
Até agora, nenhuma das companhias ou fundos que injetaram dinheiro no Quibi se pronunciaram sobre o desempenho do aplicativo. São nomes de peso como Alibaba Group, Sony Pictures, The Walt Disney Company, Time Warner e outros grandes "bolsos" hollywoodianos.
Da mesma forma, as celebridades envolvidas no projeto, como Jennifer Lopez, Tom Cruise, o clã Kardashian, Chrissy Teigen, Guillermo del Toro e outros, evitam tecer comentários sobre o serviço.
Na segunda-feira, 6 de julho, o ator Kevin Hart usou seu Twitter para celebrar seu aniversário e pedir para que seus seguidores acompanhassem seu filme que mistura ação e comédia, disponível na plataforma. "Feliz aniversário, mas ninguém vai gastar tempo e dinheiro com o Quibi", respondeu um deles.
Em resposta às "acusações" de ser um fracasso, a empresa enviou um comunicado oficial ao site The Verge, em que afirma que "o número divulgado pela Sensor Tower estão incorretos, em grande escala. Até o momento, mais de 5,6 milhões de pessoas baixaram o aplicativo. A conversão dos usuários para assinantes pagos está acima da média dos apps".
A agência Sensor Tower, por sua vez, indicou que a provável discrepância entre os números tenha a ver com o fato de a empresa apenas contar o primeiro download do aplicativo por conta da Apple ID. Isso significa que usuários que deletaram e voltaram a instalar o aplicativo, bem como aqueles que fizeram o download do app em outro dispositivo, não entram para a conta.
Mesmo sob a "mira" da crítica, a Quibi segue a postura de outras empresas de streaming, e mantém em segredo seus números de audiência e de assinantes pagos.
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