Plataforma de investimentos offshore que tem o Itaú como sócio, a Avenue já vinha em um ritmo consistente desde meados de 2024, quando passou a superar, mês após mês, suas marcas de captação. Mas, recentemente, viu esse pace, até então, de R$ 1,8 bilhão, acelerar e se traduzir em um recorde.
Em julho deste ano, a empresa captou um total de R$ 2,5 bilhões em recursos, consolidando o maior volume mensal já registrado desde a sua fundação, em 2018. E agora, enxerga um percurso para bater novamente esse “índice”, com a projeção de alcançar R$ 3 bilhões neste mês de agosto.
É fato que a maratona dos investimentos dos brasileiros no exterior está apenas começando. Mas na visão da Avenue, que está nessa corrida há sete anos, esse sprint recente é mais uma pista de que a modalidade está ganhando cada vez mais fôlego entre os brasileiros. E agora, com um novo acelerador.
“Nós vínhamos em um bom crescimento, mas ele vinha se materializando de uma forma projetável”, diz Roberto Lee, fundador e CEO da Avenue, ao NeoFeed. “O que estamos vivendo nos últimos meses é surpreendente. E esse resultado é muito fruto de uma mudança das angústias do nosso público.”
A partir das interações com os clientes da plataforma e diante do quadro recente de instabilidades no Brasil, ele ressalta que essas novas angústias dialogam com velhas premissas. E que, até então, eram tratadas como piada e algo distante e residual entre boa parte dos investidores.
“Existe um medo de o Brasil ficar isolado do mundo, como já aconteceu com a Argentina e a Venezuela”, afirma Lee. “E esse risco se manifesta na busca por proteção patrimonial no exterior. Agora, porém, não mais pela deterioração da moeda, das oscilações da bolsa ou da alta dos juros. É algo mais emocional.”
Em outra percepção que classifica como surpreendente, Lee observa que essa visão de isolacionismo, antes mais restrita a investidores extremamente politizados, se alastrou para aqueles pouco afeitos ao tema. E está se refletindo em todos os perfis de clientes.
“Antes, ficava mais nos extremos. Do investidor mais aberto a novidades e a alternativas, como inteligência artificial e empresas de tecnologia, e daquele mais politizado”, diz. “Agora, virou para uma camada mais central do público, que tem justificado os aportes por essa incerteza e imprevisibilidade.”
Nessa esteira, a Avenue tem observado, porém, uma maior aceleração entre um perfil que tinha mais dificuldade de acessar: os investidores conservadores, menos tolerantes ao risco e que, segundo Lee, entendem que alocar capital nos Estados Unidos, a base da plataforma, é algo ainda muito disruptivo.
“Esse perfil tem mais bolso e se protege atrás do juro alto do CDB. É sempre o último a se mover e quando se move, faz isso lentamente. Ele compra previsibilidade, a rentabilidade vem depois”, diz. “Eles só alocavam um pouco conosco para experimentar. Mas agora, estão vindo em massa.”
Isso também se reflete em uma outra mudança, expressa em uma urgência na alocação de recursos. Antes, a abertura da conta por esse investidor era precedida por muitas conversas e reuniões para definir a composição da carteira. Agora, esse processo se inverteu.
“Mas a prioridade dele é a renda fixa, os títulos do Tesouro americano, o que ele conhece. É a continuidade da previsibilidade que ele sempre teve”, diz Lee. “É diferente do nosso perfil mais tradicional, majoritariamente alocado em ações de tech e em ativos com um pouco mais de pimenta.”
Mais do que se refletir em um crescimento na base de clientes – hoje a Avenue tem mais de um milhão de contas –, a aceleração puxada por esse público tem mostrado mais impactos positivos share of wallet da plataforma.
“Historicamente, nós capturávamos entre 10% e 15% da alocação dos clientes, dependendo da safra. E, em 12 a 18 meses, esse índice chegava a um platô de 20%”, diz Lee. “Agora, isso já está nascendo em 20% e rapidamente estamos chegando a mais de 30%. E em todos os perfis.”
Apesar de frisar que ainda é cedo para afirmar que esse é o novo platô da Avenue, Lee ressalta que toda essa movimentação só reforça o que ele chama de “diáspora patrimonial brasileira”, num caminho sem volta para que os investimentos offshore finquem, de vez, seus pés nas carteiras locais.
“Antes, eu falava em um mercado de R$ 1 trilhão e as pessoas davam risada. Hoje, ninguém mais arregala os olhos quando ouve isso”, afirma. “O humor flutua, há aceleradores e desaceleradores, mas a direção não muda. E eu acredito que essa marca será alcançada em até cinco anos.”
No caminho para capturar parte desse montante, Lee não revela a captação acumulada pela Avenue em 2025, tampouco a projeção para o ano consolidado – em 2024, esse volume foi de R$ 20 bilhões.
Mas acrescenta: “Esses volumes vão ser muito maiores e vamos começar a ver uma corrida de investimentos em infraestrutura para atender esse cliente nos EUA”, diz. “E, o mais importante, esse relacionamento não está indo para as mãos de instituições financeiras americanas. Mas para instituições brasileiras.”