O Fórum Econômico Mundial calcula que 1,1 bilhão de pessoas terão seus trabalhos radicalmente impactados pela tecnologia até 2030. Isso exige investimento em requalificação dos profissionais para evitar qualquer tipo de apagão. Atenta a esse problema mundial, a brasileira Iona Szkurnik criou há dois anos a startup de educação corporativa Education Journey.
Com um software as a service (SaaS) desenvolvido em casa, o modelo proprietário da edtech foi criado para entregar trilhas personalizadas de desenvolvimento profissional para o mundo corporativo.
Nesses dois anos, 10 empresas passaram a usar a plataforma, de setores como o de bens de consumo, com a Ambev, o de real estate, com a Tecnisa, o jurídico, com a banca Nelson Wilians Advogados, e financeiro e de educação, com o Educbank.
“Entregamos um plano de aprendizado com objetivos voltados para a empresa. Não dá mais para as companhias pagarem um curso qualquer. Fazemos recomendação de conteúdo estratégico”, diz Iona.
Para conseguir a trilha personalizada, a porta de entrada da Education Journey é a avaliação de performance dos funcionários. Com isso, o algoritmo da edtech “traduz” essas informações para uma árvore de habilidades com os pontos fortes e fracos do profissional.
A partir daí, o sistema faz as recomendações para o reskilling ou upskilling do funcionário. “É a administração do que ele realmente precisa para aumentar a performance do time”, afirma Iona.
Mas qual é o tipo de conteúdo oferecido? A plataforma funciona como um agregador de cursos, por meio de parcerias, com material público ou privado. Os formatos variam entre vídeos, áudios, artigos ou aulas. As recomendações são em português, inglês ou espanhol. E quem escolhe o jeito e o tempo do aprendizado é o profissional.
“Muitas vezes não há necessidade de assistir ao vídeo completo, mas o que dentro dele é o que realmente o profissional precisa. É isso que chamamos de conteúdo estratégico, ou seja, a precisão do aprendizado para voltar melhor para o trabalho”, diz Iona.
Das empresas que utilizam a plataforma, o Educbank, que seleciona escolas de alto potencial de ensino para que recebam apoio financeiro, tem direcionado a Education Journey para os gestores dessas escolas. Na Ambev, quem mais tem utilizado é a área de logística.
A estimativa é que esse mercado de educação corporativa B2B movimente cerca de R$ 20 bilhões ao ano. Por mais que a edtech de Iona Szkurnik converse com todos os criadores de conteúdo, há uma concorrência forte neste segmento. Em abril deste ano, o Grupo Exame adquiriu a plataforma Witseed. Há, também, as referências consolidadas no segmento como StartSe, HSM e G4.
As lições em Stanford
Com 18 pessoas na equipe (50% são mulheres), sendo 14 techs e produtos, Iona entendeu a importância da requalificação quando foi impactada pela massificação da Inteligência Artificial enquanto cumpria o seu Master of Arts em Education Technology na Stanford University.
Ela conta que demorou oito anos na criação da proposta de valor da Education Journey, para que a assertividade fosse certeira e o modelo escalável. Quando chegou ao modelo, buscou a única captação, que foi um pré-seed, de US$ 1,2 milhão, com a gestora SaaSholic, Go1, Norte Capital, Latitud e investidores-anjo como Ariel Lambrecht, fundador da 99, e a família Horn.
“Temos um time pequeno, com alta performance, KPI claros e cultura de entrega. Até o terceiro trimestre do ano que vem não vamos precisar de novos aportes”, afirma Iona.
No primeiro trimestre deste ano, a receita da Education Journey cresceu 2,5 vezes e o número de usuários, 4 vezes - mas ela não revela os números absolutos da startup. E nesses dois anos recebeu dois prêmios na Califórnia como case promissor entre as edtechs de desenvolvimento da força de trabalho.