Em 2011, quando foi lançado, o Snapchat se destacou porque apostava num modelo então inédito no mercado: as fotos temporárias. O problema é que, com a recusa da venda para o Facebook, em 2013, a Snap, dona da operação, teve seu principal diferencial copiado pelo Instagram, que lançou a ferramenta story. Para piorar, o TikTok combinou o efeito efêmero com diferentes filtros e se tornou um fenômeno entre o público mais jovem.
Sem grandes diferenciais, a empresa viu suas concorrentes inflarem suas bases de usuário, enquanto amargou um crescimento mais lento. Com 347 milhões de usuários na plataforma, a companhia tem apenas uma fração dos internautas que se conectam nos concorrentes. Instagram e TikTok já superaram a barreira de 1 bilhão de usuários.
Se antes a luta era para competir de igual para igual contra suas rivais, agora, os esforços são voltados para que a rede social ainda possa coexistir quase como uma alternativa underground às gigantes. Fazer isso será difícil. Com resultados ruins no segundo trimestre, a Snap está planejando fazer um downsizing de sua operação. Os cortes podem afetar mais de 1,2 mil funcionários.
Conforme reportado pelo site The Verge, a Snap deve dispensar cerca de 20% de sua força de trabalho. Ou seja, mais de 1,2 mil de seus 6,4 mil empregados. “Ficou claro que devemos reduzir nossa estrutura de custos para evitar perdas contínuas significativas”, escreveu Evan Spiegel, CEO da Snap, em um memorando à equipe.
Os cortes acontecem semanas após a divulgação dos resultados negativos da companhia no segundo trimestre. Snap viu seu prejuízo dobrar em relação ao mesmo período de 2021, para US$ 422 milhões. A receita cresceu 13%, para US$ 1,11 bilhão, mas veio abaixo da média das estimativas coletadas pela consultoria Refinitiv. O resultado fez com que as ações da empresa recuassem mais de 38%.
Em 2022, os papéis da Snap, avaliada em US$ 17,9 bilhões, acumulam uma desvalorização próxima de 75%. Vale lembrar que as ações chegaram a disparar durante a pandemia, fazendo com que a empresa chegasse a ser avaliada em mais de US$ 130 bilhões em setembro do ano passado.
O novo patamar da operação vem na esteira tanto das condições macroeconômicas como de fatores inerentes ao próprio negócio. Entre eles, a decisão da Apple de limitar o alcance de programas de publicidade direcionada nos aplicativos para iOS. Com menos publicidade, a Snap gera menos receita.
A readequação no quadro de funcionários é consequência direta dos resultados financeiros ruins. “Devemos agora enfrentar as consequências do menor crescimento da receita e nos adaptar ao ambiente de mercado”, escreveu Spiegel no memorando. Algumas divisões serão mais afetadas do que outras.
Um exemplo é o setor de hardware, responsável pelo desenvolvimento dos óculos que permitem gravar vídeos de até dez segundos e que estava trabalhando no desenvolvimento de drones até o projeto ser cancelado no começo do mês.
Assim como muitos de seus pares no setor de tecnologia, a Snap contratou agressivamente durante a pandemia. De acordo com dados divulgados pelo The Verge, a empresa iniciou março de 2020 com quase 3,4 mil empregados e fechou o trimestre passado com 6,4 mil colaboradores. Agora, terá 1,2 mil funcionários a menos.
Em maio, Spiegel já tinha alertado que as coisas não iam bem. Em carta a funcionários, ele informou que as contratações seriam reduzidas significativamente até o final do ano. Para investidores, ele sinalizou a intenção de reduzir custos, após a constatação de que a receita cresceria muito menos que o esperado em 2022.
Para sobreviver, a empresa terá que mostrar que seu modelo de negócio não depende exclusivamente dos anúncios. No fim de junho, a companhia lançou um serviço de assinatura que dá aos usuários vantagens em relação a versão gratuita da rede social. A opção custa US$ 3,99 por mês e permite alterar o ícone do aplicativo, fixar conversas no topo do chat e assistir um story mais de uma vez.
O cenário para o futuro, no entanto, é incerto. Junto com o balanço financeiro do último trimestre, a Snap anunciou que não iria publicar projeções para o terceiro trimestre, argumentando que “a visibilidade sobre o que vem pela frente permanece extremamente desafiadora”.
*Com a colaboração de Ivan Ryngelblum