O ano de 2021 mal começou e Jorge Cury, presidente da Trisul, já está a todo vapor. Em reunião de mais de 4 horas com os times de inteligência imobiliária, engenharia e novos negócios, ele discute projetos e avalia a compra de terrenos para reforçar o landbank da construtora e incorporadora paulistana.

O ritmo intenso ilustra as boas perspectivas da companhia. Depois de um 2020 que mesclou a euforia inicial com as incertezas geradas pela Covid-19, a empresa conseguiu fechar o ano com o lançamento de 8 empreendimentos e um VGV de R$ 1 bilhão, cumprindo o que havia previsto antes da pandemia.

Confiante na manutenção do cenário que propiciou uma forte resposta do setor, a Trisul quer agora dobrar essa aposta. Para 2021, a projeção é lançar 11 projetos e chegar a dezembro com um VGV de mais de R$ 2 bilhões.

“Toda semana nós medimos o andamento de cada projeto. Já temos datas, produtos e tudo definido”, afirma Cury, em entrevista ao NeoFeed. “Temos terrenos e um momento bom, com o vento de popa dos juros baixos. Agora, é tratar de acelerar.”

O calendário de lançamentos terá início com três empreendimentos, entre fevereiro e março, nos bairros paulistanos do Itaim, do Brooklin e da Bela Vista. O portfólio seguirá com maior foco em projetos de médio e alto padrão nas zonas Sul e Oeste de São Paulo.

A aposta prioritária nesse segmento, que responde, em média, por dois terços dos lançamentos, é uma estratégia que vem sendo reforçada pela Trisul nos últimos anos. “Temos ampliado percentualmente esses produtos para a alta renda, que é um público mais resiliente”, afirma o empresário.

Esse perfil de cliente, do investidor ao morador, ajudou a impulsionar a melhora do desempenho no segundo semestre, passado o impacto inicial da pandemia. “Essas pessoas trocaram a renda fixa por um investimento com a garantia patrimonial que é o tijolo. E em boas plantas, com ótimas localizações.”

O calendário de lançamentos terá início com três empreendimentos, entre fevereiro e março, nos bairros paulistanos do Itaim, do Brooklin e da Bela Vista

Isso não significa que a Trisul está restrita a esse público. O terço restante será destinado à linha Side, classificada por Cury como “um degrau acima” do Minha Casa Minha Vida. A empresa passou a investir nessa seara há pouco mais de um ano, quando decidiu sair das ofertas ligadas ao programa em questão.

Esse portfólio inclui produtos de 45 a 65 metros quadrados, na faixa de R$ 250 mil a R$ 500 mil e voltados a famílias com renda mensal entre R$ 6 mil e R$ 12 mil. “Esse perfil ainda vai passar por um período mais duro, mas creio que podemos ampliar a participação nesse espaço.”

Retomada

Alguns indicadores traduzem a retomada e sustentam as projeções da Trisul. A empresa encerrou o terceiro trimestre com vendas líquidas de R$ 246,9 milhões, um salto de 42% em relação ao segundo trimestre.

A venda sobre a oferta (VSO), por sua vez, ficou em 24%, um aumento de 5 pontos percentuais na mesma base de comparação. Já a receita líquida foi de R$ 254,7 milhões, um crescimento de 17% sobre igual período, um ano antes, enquanto o lucro líquido avançou 13%, para R$ 48 milhões.

A empresa não foi a única do setor a aproveitar esse cenário. Outras companhias, especialmente às dedicadas ao segmento de médio de alto padrão, como Cyrela e EZTec, também apuraram bons resultados no período, com o reaquecimento nas vendas de estoques e nos lançamentos.

Esse contexto também se reflete na disputa por terrenos. E nesse ponto, a Trisul tem uma posição favorável, fruto de uma estratégia que começou a ser reforçada no fim de 2018. A empresa fechou o terceiro trimestre com um landbank com 32 terrenos, totalizando R$ 5 bilhões.

“Nosso landbank é suficiente até 2023 e está com preços pré-Covid-19, algo entre 25% a 30% a menos que o pós-pandemia. Mas nós seguimos comprando”, diz Cury. “Vamos manter a nossa média de adquirir entre 10 e 12 terrenos por ano.”

A empresa fechou o terceiro trimestre com um landbank com 32 terrenos, totalizando R$ 5 bilhões

Contudo, essa visão otimista de Cury ainda não se refletiu inteiramente no mercado de capitais. Uma das principais small caps da B3, a companhia viu suas ações acumularem um recuo de mais de 24% em 2020.

Em contrapartida, levando-se em conta o pior momento do papel, no fim de março, a valorização até o fim do ano foi de mais de 104%. No pregão desta quinta-feira, as ações da empresa, avaliada em R$ 1,99 bilhão, fecharam cotadas a R$ 10,65, queda de 1,39%.

“Acredito que não apenas a Trisul, mas as boas empresas, como Cyrela e EZTec, estão depreciadas”, afirma Cury. “Mas a tendência é recuperar. Não sei se voltaremos ao patamar do início de 2020, de R$ 17, mas esperamos algo perto disso.”

Em relatório que destacou os “sólidos resultados” da Trisul, a Eleven Research colocou a ação da empresa com preço-alvo de R$ 18 para 2021. “O bom momento do mercado imobiliário, impulsionado pela taxa de juros baixa e disponibilidade de crédito para financiamento são alavancas importantes para continuarmos com uma visão positiva para a construção civil”, escreveu o analista Raul Grego Lemos.

O BTG Pactual, por sua vez, destacou: “Acreditamos que a combinação do bom banco de terrenos da Trisul, a aceleração de lançamentos e a equipe de gestão de alto nível devem gerar resultados sólidos para a empresa nos próximos anos”.

Ao mesmo tempo em que a Trisul e outras construtoras e incorporadoras buscam recuperar terreno entre os investidores, em 2020, o setor viveu uma espécie de segundo boom na B3, depois da primeira onda em 2007 e 2008.

No ano, o segmento foi responsável por sete aberturas de capital, dos 27 IPOs registrados no período. A lista inclui Mitre, Moura Dubeux, Lavvi, Plano & Plano, Melnick, Cury e Alphaville. No total, essas ofertas captaram cerca de R$ 6 bilhões.

Uma das principais small caps da B3, a companhia viu suas ações acumularem um recuo de mais de 24% em 2020

“Todo mundo tem direito a ter seu lugar ao sol, mas abrir capital é o começo de um novo ciclo e nós já estamos nele desde 2007”, diz Cury. “Nossos primeiros quatro anos foram duros, mas depois, acertamos a mão.”

Fruto da união entre a Tricury e a Incosul, fechada dois meses antes do seu IPO, a Trisul percorreu, de fato, um caminho tortuoso em seus primeiros anos como companhia de capital aberto. A empresa levou a operação a outras geografias e perfis de público, com empreendimentos de preço mais acessível.

No fim de 2011, a Trisul tinha 70 canteiros de obras, em 24 cidades. Assim como outros pares daquela primeira onda, que, capitalizados, seguiram a mesma trilha, o saldo dessa guinada gerou pouco lucro e uma série de dívidas.

Pouco a pouco, a Trisul reduziu sua exposição a essas praças e projetos. O grupo controlador, formado por Cury, seu irmão José Cury e Michel Esper Saad Junior, ampliou sua participação na empresa, que foi amortizando suas dívidas e retomou o foco no médio e alto padrão, concentrado na capital paulista.

“Desde então, estamos no mercado com essa fórmula vencedora, de bons terrenos, muito bem localizados e com boas plantas”, afirma Cury. “Não há uma bala de prata, nem grandes movimentos. Vamos mostrar resultado, trimestre após trimestre, e separando o joio do trigo.”

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