Nova York - A cidade de Nova York abriga alguns dos prédios mais emblemáticos do mundo, como o Empire State Building e o Chrysler Building, ícones do estilo art déco que definem o skyline da cidade há quase um século. O One World Trade Center, construído após os atentados de 11 de setembro, representa resiliência e inovação com sua arquitetura moderna e sustentável.
O famoso skyline de Nova York ganhou, no mês passado, um novo edifício, que marca a "obra" de Jamie Dimon, o CEO do J.P Morgan, para manter o maior banco dos Estados Unidos no topo. Com 420 metros de altura, é a maior torre totalmente elétrica da cidade, combinando tecnologia de ponta, espaços de convivência e design futurista na 270 Park Avenue.
Ocupando todo um quarteirão entre as ruas 47 e 48, o imponente prédio teria custado US$ 3 bilhões e irá abrigar mais de 10 mil funcionários até o fim do ano, com espaços de trabalho flexíveis, 2,5 vezes mais área ao ar livre e tecnologia para agendar salas de reunião e pedir comida. Um símbolo dos novos tempos e do que Dimon quer deixar de legado para o futuro.
Se o primeiro prédio do J.P Morgan em Nova York, em 1914, foi um sofisticado edifício de apenas quatro andares em Wall Street sem nenhuma placa do banco para anunciar quem estava ali (afinal não era preciso atrair quem não estava por dentro do pequeno círculo de negócios), esse novo arranha-céu, anunciado em 2018, é um reflexo de que imagem vale muito no século 21. Com ele, o banco quis mostrar porque é o maior banco dos EUA e garantir que continue sendo nas próximas décadas.
O grande objetivo da fortaleza é convencer clientes da magnitude do banco e principalmente reter talentos em um cenário cada vez mais competitivo. A Foster + Partners atuou como arquiteta líder do projeto, com a Tishman Speyer como responsável pelo desenvolvimento.
O projeto é um modelo para os escritórios do banco em outras partes do mundo. O J.P. Morgan atualizou 125 mil estações de trabalho em seus diversos escritórios, incluindo Bangalore, Tóquio, Paris e Cidade do México, nos últimos cinco anos, e planeja modernizar outras 75 mil nos próximos cinco anos.
O prédio de 60 andares é 100% abastecido por energia renovável proveniente de uma usina hidrelétrica no Estado de Nova York e obteve net-zero emissões de carbono. Cerca de 97% dos materiais de demolição do antigo prédio que estavam no local foram reciclados e reaproveitados e sistemas avançados de armazenamento e reúso de água reduzem o consumo em mais de 40%.
Tecnologia e design garantem mais 30% de luz natural que o antigo prédio e o dobro de ar externo. O arranha-céu é equipado com centro de saúde e bem-estar de última geração, com áreas de ginástica, salas de ioga/spinning, serviços médicos, salas para mães e espaços de meditação.
Entre as novidades estão acesso biométrico, um aplicativo interno que permite aos funcionários pedir refeições e reservar salas de reunião, e até um ponto de entrega para drones. E para os funcionários se sentirem “em casa” e em ambiente descontraído para interagirem, há diversos pontos de experiência, como um pub em estilo inglês e um café com shakes de proteína servidos em um trailer da Airstream, além de um restaurante vegano com estrela Michelin.

A construção foi considerada um presente do banco para a Nova Iorque, além de ter aquecido a sua economia, empregando 8 mil pessoas durante a sua construção. O próprio J.P. Morgan é um dos maiores empregadores da cidade. Um estudo da Vista Site Selection mostra que a instituição financeira contribui com US$ 42 bilhões por ano para a sua economia, sustentando outros 40 mil empregos em setores locais.
Na inauguração do prédio, Dimon disse que "a abertura da nossa nova sede global não é apenas um investimento significativo em Nova York, mas também um testemunho do nosso compromisso com nossos clientes e funcionários em todo o mundo”.
E prosseguiu, acrescentando que "ao criar ambientes de classe mundial onde nossos funcionários podem prosperar, estamos fortalecendo nossa capacidade de atender nossos clientes e comunidades — localmente e globalmente — por gerações”.
Nas palavras de David Arena, o head of global corporate real estate do J.P Morgan, o objetivo foi construir um prédio “à prova do futuro”, e como uma “ferramenta de recrutamento” para transformar o local de trabalho em um destino atraente para clientes e funcionários.
“Um local de trabalho precisa ser um destino, precisa valer o deslocamento. Ele deve proporcionar uma experiência superior para os funcionários, para os clientes e para os visitantes”, afirmou Arena.
A conclusão do novo 270 Park Avenue é um marco importante para Jamie Dimon, de 69 anos, mais longevo entre os presidentes dos grandes bancos dos Estados Unidos. Ele está há 19 anos como CEO do J.P. Morgan e é um dos principais defensores da volta dos funcionários ao escritório.
O arranha-céu teve sua construção cercada por debates internos sobre interromper, redesenhar ou reduzir o projeto após a popularização do trabalho remoto durante a pandemia. Apesar dessas discussões, Dimon manteve-se irredutível, insistindo que o prédio fosse concluído conforme o plano original.
No início deste ano, o CEO mandou que todos os funcionários voltassem ao trabalho presencial os cinco dias da semana. Em resposta, foi feita uma petição para que se mantivesse o trabalho híbrido. A sua resposta teria sido: “Não percam tempo com isso. Não me importa quantas pessoas assinem essa p*** de petição”, segundo reportagens locais.
Em um áudio vazado de Dimon em conversa com funcionários em uma reunião em Columbus, Ohio, no início deste ano, expressou sua frustração com o trabalho remoto.
Na visão dele, o home office generalizado prejudica sobretudo os mais jovens, que deixam de aprender, de conviver e de trocar ideias. E também alimenta maus hábitos: reuniões em que ninguém presta atenção, pessoas checando e-mails e mensagens, câmeras desligadas, e decisões mais lentas.
“Você não é obrigado a trabalhar no J.P. Morgan. É um país livre, você pode sair caminhando com os próprios pés,”, disse Dimon aos funcionários. “Essa não é a maneira de tocar uma grande empresa. Nós não construímos este banco fazendo o mesmo tipo de coisa que todo mundo faz.”
Dimon afirmou ainda que sua ambição é manter o banco disciplinado, eficiente, pouco burocrático e focado em trabalho duro, para evitar o destino de empresas que murcharam por complacência.
“Isso é inaceitável para mim. O que me preocupa é que eu quero que a empresa seja tão bem-sucedida daqui a 10 anos quanto é hoje… O que aconteceu com GE, Sears, Kmart? O que aconteceu com Nokia, BlackBerry? E aí vieram Apple e Amazon. No setor financeiro é ainda pior – o que aconteceu com Bear Stearns? Lehman Brothers? Travelers? Citibank? Cem por cento das corretoras de hipotecas – todas quebraram.” disse ele.
À espera da sucessão
O J.P. Morgan Chase reportou uma receita de US$ 47,7 bilhões no seu último resultado trimestral divulgado no mês passado, 9% maior que no mesmo período anterior. E os lucros subiram 12% para US$ 14,39 bilhões, ou US$ 5,07 por ação em relação ao ano passado
O resultado superou as expectativas dos analistas, com o trading e o investment banking gerando US$ 700 milhões a mais de receita do que o esperado. Apenas a receita de trading foi de US$ 8,9 bilhões, um recorde para um terceiro trimestre.
“Embora tenham surgido alguns sinais de arrefecimento, especialmente no crescimento do emprego, a economia dos EUA em geral permaneceu resiliente. No entanto, continua havendo um grau elevado de incerteza decorrente de condições geopolíticas complexas, tarifas e incertezas comerciais, preços de ativos elevados e o risco de uma inflação persistente. Como sempre, esperamos o melhor, mas essas forças complexas reforçam porque preparamos a instituição para uma ampla gama de cenários”, disse Dimon, no release de resultados.
As ações do banco subiram cerca de 5% desde o anúncio, e acumulam 33% de valorização no ano, enquanto o S&P 500 avança 14,6%, mesmo em meio as incertezas macroeconômicas do país. Segundo dados compilados pelo Yahoo Finance, dos 25 analistas que cobrem a ação; 14 recomendam a compra, e os demais estão neutros.
Os seus concorrentes, no entanto, não ficaram para trás. No Wells Fargo, a receita líquida de juros superou as expectativas, com 9% de alta no lucro, refletindo a continuidade do bom momento em suas diversas linhas de negócios. O banco apresentou uma meta mais alta para a margem de juros.
Já no Morgan Stanley, o lucro líquido disparou 45%, impulsionado por uma receita recorde no terceiro trimestre. As receitas de negociação de ações e de banco de investimento cresceram 35% e 44%, respectivamente, respondendo por cerca de um terço dos negócios da instituição.
E no Goldman Sachs o lucro disparou 39%, com as receitas de banco de investimento avançando impressionantes 42%. No entanto, a instituição deve seguir adiante com a demissão de mais de 1.000 funcionários até o fim do ano, com o CEO David Solomon ressaltando que “as condições podem mudar rapidamente”, exigindo uma gestão de risco rigorosa.
Mas não há dúvidas de que Jaime Dimon tem feito um excelente trabalho no banco. Na verdade, o seu cargo e longo mandato já são uma lenda no mercado financeiro. Mas o mercado também acredita que já chegou a hora do J.P Morgan apontar um sucessor, assunto que tem sido sempre evitado.
No Investor Day deste ano, Dimon voltou a se recusar a apontar um sucessor, mesmo reconhecendo que a decisão se aproxima. O CEO chegou a dizer que o seu limite poderia não ser mais cinco anos, e as ações da empresa chegaram a cair por conta da declaração, mostrando a frustração de investidores e analistas com a falta de visibilidade sobre o assunto.
O grande debate
Nos últimos anos, o debate sobre trabalho remoto virou tema central na indústria financeira, em especial a americana. Durante a pandemia, bancos de investimento, gestoras e corretoras operaram quase inteiramente em home office e descobriram que boa parte das mesas de trading, research e backoffice conseguia funcionar à distância.
Passado o auge da crise sanitária, não só o J.P. Morgan, como o Goldman Sachs, Bank of America e outros bancos tradicionais de Wall Street, puxaram um forte movimento de volta ao escritório, alegando perda de cultura, piora na formação dos mais jovens, queda de colaboração e dificuldades para tomar decisões rápidas.
O Goldman Sachs vem tentando fazer valer, desde 2022, a regra de cinco dias por semana no escritório, enfrentando reclamações internas e relatos de funcionários que apontam o mandato como um dos motivos para deixar a instituição.
Já o Bank of America passou a enviar cartas formais e ameaçar medidas disciplinares a quem não cumprisse as diretrizes de presença em tempo integral, num movimento que também gerou insatisfação e aumentou o risco de rotatividade, em linha com estudos mostrando que empresas com mandatos rígidos de volta ao escritório enfrentam mais atrito e dificuldade para reter talentos.
Do lado dos funcionários, a reação tem sido mista. Parte aceita o esquema 100% presencial ou 4–5 dias no escritório para preservar carreira e bônus, mas sobretudo profissionais mais jovens, de tecnologia ou backoffice, enxergam essas regras como um retrocesso no equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Em muitos casos, a exigência de presença total virou fator explícito de insatisfação e evasão de carreiras, com profissionais migrando para fintechs, gestoras independentes ou casas que preservaram modelos híbridos mais flexíveis, como o Citigroup. Em fevereiro deste ano, o banco recuou e manteve a exigência de apenas três dias no escritório e vende essa postura como vantagem competitiva na disputa por talentos.
O debate também chegou no Brasil. Neste ano, o Itaú Unibanco anunciou a demissão de cerca de 1 mil funcionários que trabalhavam de forma remota ou híbrida. Segundo o banco, os cortes foram fruto de uma “revisão de condutas” ligada ao trabalho remoto e à suposta baixa produtividade, medida por um sistema de telemetria que monitorava cliques, tempo de inatividade e uso do computador.
Mais recentemente, o Nubank, símbolo de banco mais tecnológico e que defendia a cultura do home office como um meio de democratizar o trabalho e ajudar no bem-estar dos seus colaboradores, mudou de ideia. O banco anunciou neste mês a decisão de abandonar o modelo quase 100% remoto para implementar um regime híbrido mais rígido: dois dias presenciais por semana a partir de julho de 2026 e três dias a partir de janeiro de 2027, afetando cerca de 70% do quadro.
A mudança, anunciada em reunião com milhares de funcionários, provocou forte insatisfação interna. A tensão aumentou depois que 12 empregados foram demitidos após uma conferência online sobre o tema, oficialmente por violação ao código de conduta, o que levou a manifestações públicas, notas do sindicato e manifestos de funcionários contra o fim do modelo remoto e a forma como a transição está sendo conduzida.