Após o tombo histórico que as ações da Nvidia tomaram na segunda-feira, 27 de janeiro, os investidores e analistas estão “lambendo as feridas” nesta terça-feira, 28 de janeiro, tentando entender o que aconteceu e como seguir apostando, ou não, na tese da inteligência artificial (IA).
Para Nassim Nicholas Taleb, porém, o cenário é bastante claro: a brutal queda das ações da queridinha de Wall Street é apenas um ensaio do que virá por aí para quem investiu cegamente em teses ligadas à IA.
“Este é o começo”, disse Taleb em entrevista à Bloomberg News. “É o começo do ajuste das pessoas à realidade. Porque elas agora perceberam que não é [uma tese] sem falhas. Há uma pequena rachadura no vidro.”
Segundo o autor do livro “A lógica do cisne negro”, as quedas podem ser duas até três vezes maiores do que o recuo de 17,5% registrado ontem pelos papéis da Nvidia. O tombo aconteceu após a startup chinesa DeepSeek anunciar um modelo de IA generativa que obtém os mesmos resultados que a OpenAI, mas com custos muito menores.
O movimento resultou numa perda de quase US$ 600 bilhões em valor de mercado, a maior já registrada em um único dia. As ações da Nvidia acumulavam, desde 2022, uma alta de 482%, o que fez ela se tornar a empresa a mais valiosa do mundo – a Nvidia perdeu o trono para a Apple, caindo para a terceira posição, com market cap de US$ 3 trilhões.
Na entrevista, Taleb afirmou que os investidores acreditavam que as ações da Nvidia continuariam subindo, avaliando que os microprocessadores da companhia seriam indispensáveis para o avanço da IA.
Para o ensaísta e ex-operador de opções, a reação do mercado vista ontem foi, na verdade, bem pequena, diante dos riscos presentes na indústria de tecnologia. Taleb afirmou também que muitos investidores têm inflacionado os preços das ações de empresas ligadas ao tema da IA sem conhecer adequadamente a tecnologia.
As declarações de Taleb se juntam a de outros gestores renomados, que demonstram receio sobre a IA estar provocando uma bolha no mercado dos Estados Unidos. Um deles foi Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, um dos maiores fundos de hedge do mundo, com mais de US$ 150 bilhões em ativos sobre gestão.
Para ele, o mercado está bem parecido com que se via em 1998, em referência ao período da bolha da internet, quando houve um frenesi em torno de ações de tecnologia, internet e e-commerce.
Dalio afirmou que o mercado está muito dependente das ações das chamadas Magníficas Sete, grupo composto por Meta, Apple, Amazon, Alphabet, Nvidia, Tesla e Microsoft, que estão em patamares “muito caros”.
Antes dele, Howard Marks, cofundador da Oaktree Capital, gestora que conta com US$ 205 bilhões em ativos sob gestão, soltou um memorando sobre o momento atual e os paralelos com a bolha da internet.
Segundo ele, o mercado voltou a demonstrar otimismo excessivo com a novidade da vez – nos anos 2000 foram as primeiras empresas ligadas à internet e agora é com a IA. Isso resulta em FOMO, fear of missing out, o “medo de ficar de fora”, distorcendo o preço dos ativos.
Marks citou ainda o fato de o valuation das empresas do S&P 500 estar acima da média e que muitas companhias estão sendo negociadas a múltiplos maiores do que seus pares internacionais.
Mas, se a queda vista ontem ligou o sinal de alerta entre muitos investidores, alguns conseguiram lucrar com o movimento. Aqueles que operam vendidos nos papéis da Nvidia tiveram um ganho coletivo de mais de US$ 6 bilhões, segundo levantamento da consultoria de dados Ortex.
Por volta das 17h07, as ações da Nvidia recuperavam parte da perda e subiam 7,14%, a US$ 126,88.