O mercado de ações dos Estados Unidos acordou em queda puxado por grandes empresas de chips e o motivo por trás dessa queda é uma ameaça vinda do outro lado do mundo. Startup chinesa de inteligência artificial (IA), a DeepSeek ressaltou que já obtém praticamente os mesmos resultados que a OpenAI, dona do ChatGPT, com o seu modelo de IA.
Além de alcançar esse feito mais rápido que a rival americana e com um menor custo, o chatbot da companhia chinesa, batizado de R1, chegou ao topo do ranking de downloads da Apple Store durante o fim de semana e entrou no top 10 do Chatbot Arena, um ranking popular de desempenho.
Na manhã desta segunda-feira, o índice futuro do S&P 500 recuava mais de 2%, enquanto o Dow Jones caía quase 1% e o Nasdaq futures quase 0,5%. Já as ações da Nvidia, a grande vencedora até aqui da revolução de Inteligência artificial, chegou a registrar uma queda de 11% no pré-market da bolsa de valores americana, enquanto a ASML caiu 9%.
A DeepSeek foi fundada em 2023 por Liang Wenfeng, chefe do fundo de hedge quantitativo orientado por IA High-Flyer. A empresa desenvolve modelos de IA de código aberto, o que significa que a comunidade de desenvolvedores em geral pode acessar e aprimorar o software.
O aplicativo se distingue de outros chatbots como o ChatGPT da OpenAI ao articular seu raciocínio antes de entregar uma resposta. A empresa alega que seu lançamento R1 oferece desempenho equivalente ao mais recente da OpenAI e concedeu licença para indivíduos interessados em desenvolver chatbots usando a tecnologia.
O acesso à ferramenta é gratuito, mas a empresa cobra dos usuários que conectam seus próprios aplicativos ao modelo e à sua infraestrutura de computação. Um exemplo é uma companhia que deseja explorar a tecnologia para dar respostas de IA às consultas dos clientes.
Mesmo nesse formato, no início do ano passado, a DeepSeek cortou os valores cobrados para esse serviço para uma fração da cifra praticada por outros fornecedores, levando a indústria na China a iniciar uma guerra de preços.
A DeepSeek diz que o R1 está próximo ou melhor do que os modelos rivais em vários benchmarks importantes, como AIME 2024 para tarefas matemáticas; MMLU para conhecimento geral; e AlpacaEval 2.0 para desempenho de perguntas e respostas. Ele também está entre os melhores desempenhos em uma tabela de classificação afiliada à UC Berkeley, chamada Chatbot Arena.
O que está sacudindo Wall Street é o fato de que o custo de treinamento e desenvolvimento do R1 parece ser apenas uma fração do que é necessário para os melhores produtos da OpenAI ou Meta Platforms Inc.
A DeepSeek disse que os seus últimos modelos custam US$ 5,6 milhões para serem treinados, enquanto Dario Amodei, chief executive da Anthropic, startup de IA investida da Amazon, afirmou no ano passado estimar custos entre US$ 100 milhões a US$ 1 bilhão para a sua ferramenta.
A suposta maior eficiência do modelo chinês coloca em questão a necessidade de grandes gastos de capital para adquirir os mais recentes e poderosos chips de IA de empresas como a Nvidia. Além de amplificar a atenção sobre as restrições de exportação dos EUA de tais semicondutores avançados para a China — que tinham como objetivo impedir um avanço nos moldes que a DeepSeek parece representar.
Segundo um relatório do UBS, o investimento em IA por empresas de tecnologia de grande capitalização dos EUA atingiu US$ 224 bilhões no ano passado, e deve alcançar US$ 280 bilhões este ano. A OpenAI, a Oracle e a SoftBank anunciaram na semana passada uma joint venture, batizada de Stargate, para investir US$ 500 bilhões nos próximos quatro anos em infraestrutura de IA.
Especialistas disseram que a tecnologia do DeepSeek ainda está atrás da OpenAI e do Google. Mas é um rival próximo, apesar de usar menos chips e menos avançados e, em alguns casos, pular etapas que os desenvolvedores dos EUA consideram essenciais.
Os usuários do modelo principal mais recente da DeepSeek, chamado V3 e lançado em dezembro, notaram que ele se recusa a responder a perguntas políticas delicadas sobre a China e o líder Xi Jinping. Em alguns casos, o produto dá respostas alinhadas com a propaganda oficial de Pequim em vez de incluir a perspectiva dos críticos do governo, como faz o ChatGPT.
