Natural de Coimbra, Portugal, Paulo Junqueiro tem quase 40 anos de carreira na indústria fonográfica, divididos entre sua terra natal e o Brasil. Entre outras funções, foi engenheiro de som, produtor e diretor e presidente em grandes grupos globais, como Warner Music, EMI e, desde 2012, Sony Music.

Nessas passagens, ele assistiu de perto quando a internet, na virada do século, trouxe modelos que colocaram em xeque o futuro do setor, um dos primeiros a sofrer com a hoje tão falada transformação digital. Durante um bom tempo, as gravadoras subiram o tom no confronto com essa novidade.

“Nós queríamos acabar com a internet, porque não sabíamos o que ela era, nem a sua dimensão”, diz Junqueiro, presidente da Sony Music Brasil, em entrevista ao programa Conexão CEO (vídeo completo acima). “Apenas sentíamos que era uma ameaça, como de fato foi.”

Depois de um hiato de quinze anos, com quedas sucessivas na receita, a indústria fonográfica voltou a crescer apenas em 2015, impulsionada pelo avanço do streaming. No ano passado, o setor reportou seu quinto ano consecutivo de expansão, ao movimentar US$ 20,2 bilhões, alta de 8,9% sobre 2018.

As perspectivas à frente são ainda mais positivas. Segundo o Goldman Sachs, o mercado fonográfico deve atingir uma receita anual de US$ 45 bilhões em 2030, com o streaming alcançando 1,2 bilhão de usuários e gerando US$ 37,2 bilhões de faturamento em todo o mundo.

Afinado com esse modelo, Junqueiro ressalta outras vantagens da migração para a esfera digital. “Antes, eu deixava um disco na Lojas Americanas e não sabia quem ia comprar, se quem comprou ia ouvir e se ia gostar ou não”, diz. “Hoje, tenho acesso a dados e ao consumidor como eu nunca tive.”

A partir desse volume de informações, a Sony Music Brasil faz uma série de análises para identificar, por exemplo, qual é o momento mais propício para trabalhar uma determinada música ou mesmo artistas, ainda sem contrato, que estão se destacando em plataformas digitais.

Com essa abordagem e a criação recente de um departamento de inovação, a subsidiária está chamando atenção no mapa global da Sony Music. “Estamos exportando ideias para outras operações”, afirma Junqueiro. “Criamos, por exemplo, um dashboard que não existe em nenhum outro lugar do mundo e que outros países, como os Estados Unidos, estão querendo adotar.”

Essa visibilidade contrasta com o destino de outro braço da Sony no Brasil. Nesta semana, o NeoFeed adiantou a informação de que o grupo japonês vai fechar a sua fábrica de eletrônicos, localizada em Manaus, e encerrar os negócios dessa divisão no País, que incluem TVs, equipamentos de áudio e câmeras fotográficas.

Em comunicado, a Sony ressaltou que a divisão de eletrônicos manterá apenas a operações de assistência técnica no mercado brasileiro. E acrescentou que não há impacto para as demais empresas do grupo no País, entre elas, a Sony Music.

Em alta

Muito do destaque obtido pela Sony Music Brasil coincide com a chegada de Junqueiro para comandar o negócio, em 2015, justamente quando o setor deu seus primeiros sinais de recuperação.

Com o apoio do vice-presidente Wilson Lannes e autonomia dada pelo grupo às lideranças de cada país, ele implantou uma série de mudanças para acelerar a transição da Sony Music Brasil a esse novo mundo.

Um dos primeiros passos foi terceirizar os negócios relacionados às mídias físicas que, na época, representavam 60% da receita. Ao mesmo tempo, a gravadora trouxe para dentro de casa áreas como departamento criativo e criou uma divisão de novos negócios, que cuida de frentes como shows, patrocínios e inserções de músicas em filmes, novelas, publicidade, games e outros formatos.

A plataforma Filtr é um dos principais projetos. Ela teve início com a curadoria de playlists em serviços de streaming. Com cerca de 8,5 milhões de seguidores no País, hoje a Filtr abriga diversas iniciativas, que vão desde a produção de shows e eventos até licenciamento, merchandising e publicidade.

A Filtr foi também uma das áreas no País que ganharam ainda mais projeção a partir da pandemia. Além do lançamento da Filtr Store, loja virtual que vende artigos oficiais de artistas do catálogo da gravadora, a plataforma estreou seu canal no YouTube, que é alimentado por conteúdos diários, entre lives e outros formatos, e tem aproximadamente 230 mil inscritos.

Com essas e outras ações, a Sony Music Brasil enxugou sua equipe, na época, de 400 profissionais, para cerca de 150 funcionários. E hoje detém uma participação de mais de 30% no mercado brasileiro, cujas projeções apontam para uma receita superior a R$ 1 bilhão nesse ano.

Entre as próximas estratégias no País, o maior destaque é o projeto One Sony, que tem como objetivo buscar sinergias entre todas as companhias que integram o grupo: Sony Music, Sony Pictures, Sony Electronics, Sony Publishing e Sony PlayStation.

“Os times estão trabalhando muito próximos para entenderem o pipeline de cada empresa”, diz Junqueiro. “Quem sabe não criamos um artista virtual, junto com a Electronics, com músicas da Publishing, gravadas na Music e divulgadas na Pictures. É uma ideia do que pode vir.”

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