Os CEOs e chairmans de quatro grandes grupos brasileiros, sendo dois deles - Rubens Ometto e Rubens Menin - à frente de operações listadas em bolsa. E os dois restantes, Ricardo Faria e Carlos Sanchez, no comando de negócios de capital fechado, respectivamente, a Granja Faria e o Grupo NC, dono da EMS.
À parte dos seus setores e modelos, esses quatro nomes guardam similaridades em suas trajetórias. E, como boa parte do empresariado brasileiro, também convergem quando o assunto são os temas que impactam o desenvolvimento dos negócios no País.
Reunido no CEO Conference, evento promovido pelo BTG Pactual, o quarteto elegeu os patamares elevados da taxa básica de juros como uma das grandes vilãs da vez, em linha com o discurso de boa parte dos seus pares. Mas foi Ometto, da Cosan, que trouxe um outro viés a essa discussão.
Fundador e sócio-controlador da Cosan, holding composta por ativos como Raízen, Rumo, Radar, Moove, Compass e Edge, Ometto destacou que, com juros reais na casa de 9% a 10%, é impossível administrar qualquer negócio. E cravou:
“Se você tem condição de aplicar o seu dinheiro a 15%, 16% - em alguns casos a 20, 25% ao ano - você vai ficar vagabundo. Por que você vai correr o risco?”, disse Ometto, durante o evento, na manhã de quarta-feira, 26 de fevereiro.
“Isso vai fazer com que todo mundo fique sentado na cadeira, sem fazer nada, e o dinheiro não produz”, observou ele, acrescentando a questão da insegurança jurídica ao pacote de elementos que mais atrapalham o empresariado brasileiro.
“Se você tem uma taxa de juros mais adequada, você vai ter que trabalhar para que o seu negócio dê retorno”, disse Ometto. “Ou imobilizando, ou fazendo um private equity ou lançando ações no mercado de capitais.”
Já o xará de Ometto, Rubens Menin, presidente do board da MRV, Inter, Log, CNN Brasil, Itatiaia e Conedi, também apontou a alta da taxa de juros como extremamente nociva para os negócios no País. Mas preferiu dar mais destaque a um outro tema, também cada vez mais recorrente.
“Tem se falado muito de déficit fiscal, mas só vamos ganhar essa guerra quando essa discussão permear toda a sociedade”, afirmou. “A sociedade tem que definir o quanto quer ser tributada e onde quer investir seu dinheiro. Hoje, há um vácuo. Essa discussão está restrita a grupos de interesse.”
Menin citou como exemplo a reforma da previdência, que, em sua visão, só aconteceu quando toda a sociedade participou do debate e percebeu que havia privilégios para alguns atores. E acrescentou que, agora, é preciso ter consciência tributária.
“Precisamos lógico de programas como o Bolsa Família, pois o Brasil é um país cheio de mazelas”, disse. “Mas precisamos entender o quanto a sociedade quer dar e ter a consciência de que nós estamos dando esse benefício. Quando tivermos essa discussão em toda sociedade vamos achar a luz no fim do túnel.”
Além dos fatores que atrapalham os negócios, outro tema abordado foi o que um empreendedor precisa para ser bem-sucedido no Brasil. E, nesse ponto, houve um consenso de que as tradicionais adversidades do País podem ajudar a “formar” empresários mais calejados do que em outros mercados.
“O empresário brasileiro precisa ter resiliência e se preparar”, disse Carlos Sanchez, chairman do Grupo NC. “Ele não pode ser como um empresário de um país do primeiro mundo, que vai ter juros de 1%, 2% para o resto da vida. As coisas vão variar e é preciso estar pronto para isso.”
Na mesma linha, Ricardo Faria, chairman da Granja Faria, acrescentou um outro ponto a essa receita. “A força da burocracia acaba fazendo com que a gente tenha que se adaptar”, disse. “E quando você chega em países desenvolvidos, essa capacidade acaba sobressaindo.”
Como parte das lições das crises e do ambiente de negócios tradicionalmente conturbado do País, Menin disse ainda que é preciso ter humildade para entender o cenário e mudar, se preciso, o mais rápido possível.
“De manhã cedo, nós temos que tomar duas injeções – uma contra a soberba e outra contra a vaidade”, disse Menin. “Agora, por exemplo, é um momento de muita reflexão. Com os juros elevados, todos estão com mais medo de investir. Então, é hora de privilegiar e consolidar o que está dentro de casa.”
Ometto, por sua vez, completou essa tabelinha: “Todos os momentos da minha vida que eu me machuquei eu estava de salto alto”, disse. “A crise traz humildade. Você volta a pisar no chão firme.”