De joia da Volkswagen, a Porsche virou um ativo em crise para o grupo alemão. Essa virada brusca de uma das montadoras mais rentáveis da Europa apareceu nos números do terceiro trimestre de 2025.

A marca de luxo entregou um prejuízo operacional de € 967 milhões, ante um lucro de € 974 milhões no mesmo período de do ano passado. Foi a primeira vez que a companhia reportou um resultado negativo desde que abriu o seu capital na bolsa de Frankfurt em 2022.

Nos primeiros nove meses do ano, o lucro operacional caiu para apenas € 40 milhões, ante mais de € 4 bilhões no mesmo período do ano anterior, uma queda abrupta de 99% frente ao ano anterior.

A receita no período atingiu quase € 27 bilhões, com entregas de 212.069 veículos. Mas o resultado operacional revela o efeito de encargos extraordinários e provisões vinculados a uma ampla reestruturação

A Porsche está pagando um preço alto pela aposta estratégica de se reposicionar em meio à transição para veículos elétricos (EVs), com a desaceleração no mercado de luxo na China e a sombra das tarifas impostas pela administração Trump - a montadora estima um impacto de € 700 milhões neste ano devido aos novos impostos de importação.

Na China, a Porsche vendeu apenas 32 mil unidades no país entre janeiro e setembro, uma retração de 26% em relação ao ano anterior. Para se ter uma ideia, em 2022 o volume no mercado chinês superava 68 mil veículos em três trimestres.

Durante anos, a eletrificação era vista como o caminho inevitável para marcas premium. Mas a gestão da Porsche promoveu um realinhamento estratégico que abandonou essas metas, adiou lançamentos de modelos elétricos e descartou a produção própria de baterias.

A decisão de estender a vida útil de motores a combustão e modelos híbridos gerou provisões e custos que pressionaram os resultados no curto prazo.

Essas medidas foram anunciadas pela gestão da montadora como um “realinhamento estratégico”, mas às custas de provisões pesadas: cerca de € 1,8 bilhão só no terceiro trimestre, com projeção de um total de € 3,1 bilhões de encargos para este ano.

A margem operacional, que já chegou a ser de aproximadamente 15%, deverá ficar muito abaixo desse patamar. Para 2025, a orientação da empresa aponta para uma margem operacional de até 2%, além de uma proposta da direção de um dividendo menor para o próximo exercício.

Em linha com a reorganização, haverá troca no comando executivo da Porsche. Michael Leiters, ex-chefe da McLaren, assumirá como CEO da montadora no início de 2026, enquanto Oliver Blume concentrará sua atuação no comando do Grupo Volkswagen.

Os gestores afirmaram que aceitam resultados piores no curto prazo para “reforçar a rentabilidade e resiliência no longo prazo”. A expectativa é que 2025 represente o ponto mais baixo e que uma recuperação ocorra a partir de 2026 para a marca de luxo do grupo Volkswagen.

Para entender a gravidade do momento da Porsche, as concorrentes Ferrari e BMW adotaram estratégias diferentes.

A marca italiana de esportivos, por exemplo, reagiu à conjuntura do mercado elétrico de luxo reduzindo sua meta de EVs para 2030. De um plano que previa 40% de modelos totalmente elétricos, a marca agora espera cerca de 20% de EVs, com 40% híbridos e 40% motores a combustão.

A leitura da marca do cavalinho rampante é que a demanda por elétricos superesportivos está lenta, por isso é preciso manter margens em híbridos e motores a combustão.

A BMW vai na mesma linha: prossegue no projeto do carro elétrico, com modelos como o iX, ao mesmo tempo que busca margens nos motores de alto desempenho, como os V8. Essa é uma maneira de suavizar o choque da migração para os EVs.