Em março de 2016, o empresário Alykhan Karim, um americano descendente de indianos que vivia no Brasil desde 2011, se viu no meio de um dos maiores dilemas de sua vida. Ou continuava a arriscar para manter viva a sua empresa ou fechava as portas e pagava todos os 50 funcionários e os seus fornecedores.
Aly, como costuma ser chamado, escolheu a segunda opção e a Sonoma, loja online de vinhos que ele havia fundado em 2014, em São Paulo, com dinheiro próprio e mais de US$ 3 milhões de fundos de venture capital como o 500 Startups e Karlani, sucumbiu à crise econômica do País e à falta de experiência de Aly.
“Peguei uma época turbulenta, de mudança de câmbio, de muita incerteza no Brasil”, diz Aly. E prossegue comentando sobre a burocracia brasileira que esmaga os empreendedores no dia a dia. “Eu não tinha experiência com questões que eram simples nos Estados Unidos, mas que eram difíceis no Brasil.”
Desde o tempo para importar os vinhos, um ciclo muito longo para desembaraçar, que chegava a nove meses, até conseguir uma inscrição estadual. “Nos Estados Unidos, demora um dia, aqui demorava dois meses”, diz Ali, formado em relações internacionais na Brown University e com especialização em economia e política internacional na Universidade de Salamanca.
Diante das adversidades, a Sonoma, que vendia vinhos de mais de 100 importadoras, tinha uma base de 30 mil clientes e faturava cerca de R$ 1,5 milhão por mês, não conseguia fechar no azul. “Precisava de mais US$ 2 milhões de injeção de capital para continuar. Mas não consegui.”
Sonoma 2: o retorno
Depois de encerrar a operação, recebeu um convite para trabalhar no Google e, em 2017, uma proposta de um antigo cliente da Sonoma: relançar a empresa calcada em novas bases. Aly resolveu voltar com o que hoje ele mesmo chama informalmente de Sonoma 2.
Com investimento desse antigo cliente, que ele não revela quem é, passou a trabalhar com importação direta. “Hoje, 60% das nossas vendas são de vinhos que são encomendados diretamente pelos clientes”, diz ele. Isso faz com que seu risco seja reduzido e só importa o que já está vendido.
“Os clientes compram com quatro meses de antecedência”, diz Aly. Ele diz conseguir isso porque vende vinhos premium e negocia preços melhores diretamente com os produtores. Um dos vinhos que Aly comenta é um Chateauneuf du Pape Rouge safra 2016 que recebeu 97 pontos da aclamada crítica britânica Jancis Robinson.
O exemplar, um Chateau Sixtine, vinho orgânico produzido no Sul da França, custaria entre R$ 700 e R$ 800. O empresário diz conseguir vendê-los aos clientes que encomendaram previamente por cerca de R$ 400 a garrafa em uma caixa de seis unidades.
O faturamento estimado da Sonoma é ainda tímido, algo ao redor de R$ 1,5 milhão por mês, se comparado a outros comércios eletrônicos de vinho como o Wine.com.br, hoje um dos maiores do mundo, com faturamento anual estimado em R$ 500 milhões, e da Evino, também uma gigante na área, mas que, segundo fontes do mercado, não vive seus melhores dias por conta de um estoque muito alto. Em nota, a Evino diz que "a questão está 100% normalizada e, ao longo deste ano, trabalha com os estoques adaptados para dois meses de venda."
Aly afirma que a sua empresa vende para clientes diferentes. “Estou em um nicho mais premium. Enquanto a Wine vende vinhos de, em média, R$ 38; e a Evino, de R$ 29, eu vendo garrafas de, em média, R$ 95”, diz. “E estamos crescendo 600% ao ano”, diz o americano. Um executivo do setor de importação de vinhos disse ao NeoFeed que, apesar do crescimento, o grande desafio da Sonoma é manter a lucratividade.
Renascimento
O renascimento da empresa está intimamente ligado à nova economia. Foi com a ajuda de aplicativos de entrega como Loggi e Rappi que a Sonoma, cuja central é instalada no bairro do Itaim, em São Paulo, passou a ter mais agilidade. E, com a ajuda do WhatsApp, recebe os pedidos e os processa rapidamente.
No fim de 2017, a companhia lançou a Entrega 90. O cliente pede o vinho pelo site e, em no máximo 90 minutos, entrega na grande São Paulo. O frete varia entre R$ 15 e R$ 50. Mas, para pedidos acima de R$ 200, o frete é gratuito. “Atualmente, mais de 50% da nossas vendas vêm da entrega 90”, diz Aly.
“Vamos para Rio de Janeiro, Belo Horizonte e região de Campinas”
Por isso, a Sonoma, que hoje entrega em todo o Brasil, se prepara para lançar a mesma operação de Entrega 90 em outras cidades brasileiras. “Vamos para Rio de Janeiro, Belo Horizonte e região de Campinas”, diz Aly. A ideia é pegar carona no crescimento dos aplicativos de entrega, hoje gigantes avaliados em mais de US$ 1 bilhão.
Para desembarcar nas cidades com a agilidade prometida, a companhia terá de investir em centros de distribuição em cada região. “Já estamos preparando a operação no Rio de Janeiro. Depois, partiremos para outras cidades”, diz Aly.
Persistência
A história da Sonoma traz à memória uma campanha publicitária criada, em 2004, pela Associação Brasileira de Anunciantes. Na época, para resgatar a autoestima dos brasileiros que andava muito em baixa, a entidade lançou diversas peças publicitárias. O mote era “eu sou brasileiro e não desisto nunca”.
Ela trazia as histórias de superação de anônimos e de famosos. Entre eles, Ronaldo Fenômeno, que tinha se machucado várias vezes e se tornado campeão mundial de futebol pela seleção em 2002; e Herbert Viana, o cantor do grupo Os Paralamas do Sucesso que havia ficado paraplégico em um acidente de ultraleve em 2001, mas seguiu em frente com a carreira.
A crise econômica iniciada em 2014 e que lançou mais de 13 milhões de brasileiros ao desemprego já fez muitos brasileiros desistirem de procurar uma vaga no mercado de trabalho. Quem sabe a história do americano sirva para uma nova campanha. “Eu sou empreendedor e não desisto nunca.”
Reportagem atualizada no dia 15 de julho de 2019
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