Em junho de 2019, Patrick Mendes, então presidente da rede hoteleira Accor na América do Sul, revelou com exclusividade ao NeoFeed que preparava o desembarque da marca de coworking do grupo, a Wojo, no País. “Temos mais de 4 mil hotéis no mundo, com espaços inutilizados e cantos subaproveitados. Vamos aproveitar isso”, disse Mendes na época.
Mas aí, no meio do processo do desenvolvimento do projeto, veio a pandemia, que fez com que 90% dos quase 300 hotéis da rede no Brasil fossem fechados e os hóspedes desaparecessem. O que antes era um projeto se tornou urgente. Em julho do ano passado, para trazer mais receita para o grupo, iniciou um serviço de aluguel de escritórios chamado room office.
“Alugamos 1,2 mil diárias no ano passado”, diz Olivier Hick, COO das marcas midscale e econômicas da Accor no Brasil. Diante do resultado e do modelo posto à prova na marra, a Accor, que conta com 54 mil quartos no País, agora dá seu passo mais concreto nesse mercado de coworkings e anuncia hoje o início da operação da marca Wojo no País.
A operação vai começar com três modelos: Wojo Spot, que ficará em uma área delimitada no lobby de cada hotel; Salas privativas by Wojo, com salas para grupos maiores; e Room office by Wojo, que são as suítes dos hotéis transformadas em escritórios.
“Vamos começar com 70 spots, 20 salas privativas e 184 offices”, diz Hick com exclusividade ao NeoFeed. A meta, entretanto, é chegar até o fim de 2021 com 100 unidades dotadas do modelo spot, 50 com salas privativas e room office em todos os hotéis do grupo.
Dono de marcas como Ibis, Novotel, Pulmann, Sofitel, entre outras, o Accor, grupo com valor de mercado de 7,9 bilhões de euros, viu a ocupação de seus hotéis, assim como todo o mercado hoteleiro, desabar. Mesmo com seus atuais 285 hotéis abertos, a ocupação média tem variado entre 30% e 40%. A oferta desses serviços de coworking busca também preencher essas lacunas e movimentar os hotéis, trazendo mais receitas.
Hick afirma que cada unidade que conta com o modelo spot deverá receber cerca de cinco pessoas por dia. Nesse modelo, não há cobrança. “A pessoa se registra na recepção e pode trabalhar ali no ambiente, usar o restaurante, o café”, diz o executivo. A ideia é aproveitar a presença desse cliente e vender outros produtos para ele. “Teremos os seus dados e criaremos uma rede”, afirma.
No modelo room office, no qual os quartos são transformados em escritórios, o cliente poderá optar por uso diário, semanal ou mensal. Cada hotel, separará, em média, dois quartos com wifi para esse formato. “As camas são retiradas, deixamos com cara de escritório e até duas pessoas podem usar a sala”, diz Hick. Os preços variam de acordo com a classificação do hotel.
Um econômico, por exemplo, cobra R$ 99 a diária e o de categoria luxo sai R$ 220 por pessoa. Já o pacote mensal varia de R$ 2,2 mil no econômico e R$ 4,9 mil no de categoria luxo. Além da locação, os usuários também costumam gastar entre R$ 30 e R$ 50 por dia com alimentação. “Muita gente, preocupada com a pandemia, prefere almoçar no quarto”, afirma o executivo.
Ao mesmo tempo em que mira os usuários pessoa física, a companhia também está de olho nas pessoas jurídicas, principalmente, para as salas privativas, que podem comportar 20 pessoas e, dependendo do projeto, ter ainda mais espaço. A rede conta com 20 mil metros quadrados de salas privativas no Brasil e a meta é alugar 10% disso no primeiro ano. “Estamos negociando com clientes corporativos. Teremos demanda e uma equipe comercial agressiva.”
A chegada da Wojo na região começa pelo Brasil e, dentro de quatro meses, irá para outros países da América do Sul. Na Europa, onde a marca foi criada em parceria com o grupo Bouygues, a Wojo opera 10 mil metros quadrados de coworking e conta com prédios inteiros dedicados a isso. “Dependendo da evolução no Brasil, poderemos ter o mesmo aqui”, diz Hick.
Apesar da alta expectativa, não será tão simples assim. A Accor vai bater de frente com marcas já estabelecidas nesse segmento. A britânica IWG, que praticamente inventou o negócio de escritórios compartilhados na década de 1980 e hoje é avaliada em 3,3 bilhões de libras esterlinas, atua no Brasil com as marcas Regus e Spaces e pretende chegar a 100 unidades no País até o fim do ano.
A WeWork, mesmo com seus solavancos no ano passado, está se reestruturando no mercado e ainda tem uma marca muito forte. Indagado sobre isso, Hick é enfático. “Já temos espaços físicos e a possibilidade de ser mais agressivos do que qualquer concorrente”, diz Hick.
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