Dona da Havaianas, uma das marcas brasileiras com maior apelo internacional, a Alpargatas está acrescentando um novo nome à sua pegada global. E esse novo passo vem com um forte pé na área de sustentabilidade.

O grupo brasileiro acaba de anunciar a aquisição de 49,9% das ações em circulação da Rothy’s Inc., companhia americana que fabrica e comercializa calçados, bolsas e acessórios, a partir de materiais reciclados. A empresa pagará até US$ 475 milhões por essa participação na operação.

Em fato relevante, a Alpargatas destacou que a aquisição representa um passo importante na “aceleração da sua expansão global e na consolidação da sua estratégia em ser uma powerhouse de marcas desejadas e hiperconectadas”.

Pelos termos acordados, a operação envolverá uma aquisição primária de ações a serem emitidas pela Rothy’s, no valor total de US$ 200 milhões, que será feita em duas etapas. A primeira, na data de hoje, no valor de US$ 50 milhões. E a segunda, de US$ 150 milhões, até 31 de março de 2022.

A transação incluirá ainda uma outra etapa, no primeiro semestre de 2022, com uma tender offer e uma aquisição secundária de ações, com uma oferta para acionistas e executivos da Rothy’s, na qual a Alpargatas pagará até US$ 275 milhões.

O acordo ainda prevê que a Alpargatas terá o direito de adquirir mais ações e assumir o controle da empresa entre o primeiro e o quarto aniversário da transação, que será contado a partir do primeiro closing da aquisição primária de ações.

A Alpargatas informou que, com exceção dos US$ 50 milhões iniciais, os demais recursos serão provenientes, majoritariamente, da emissão de ações da companhia, por meio de colocação privada ou distribuição pública, cuja estrutura ainda será avaliada e definida pela empresa.

Com a conclusão da transação, a Alpargatas terá direitos de um acionista minoritário relevante, o que incluirá, entre outras questões, a indicação individual de quatro membros do Conselho de Admnistração da Rothy’s, de um total de nove integrantes. Dois desses assentos serão ocupados por Roberto Funari, CEO da Alpargatas, e Stacey Brown, membro independente do board da empresa brasileira.

Com a Rothy’s, o grupo brasileiro dá sequência à busca pela diversificação do seu portfolio, com a entrada e a consolidação em novas categorias, como bolsas e acessórios. Essa abordagem tem como ponto de partida as populares sandálias da Havaianas. Mas não está necessariamente restrita à marca, como afirmou Funari, CEO da Alpargatas, em entrevista ao NeoFeed, em março deste ano.

“Estamos preparando e fortalecendo a companhia para assimilar novos negócios no futuro”, disse o executivo, no programa Conexão CEO. “E a estratégia inorgânica é parte do nosso roadmap de longo prazo.”

Ao mesmo tempo, essa estratégia também envolveu desinvestimentos. Em setembro de 2020, a Alpargatas vendeu a operação da Mizuno no Brasil para a Vulcabras. Já em novembro deste ano, foi a vez da fatia de 60% que detinha na Osklen, vendida para o grupo Dass.

Com sede na Califórnia, a Rothy’s tem uma cadeia de suprimentos verticalmente integrada e busca minimizar o desperdício em seu processo de produção, concentrado em sua fábrica em Dongguan, na China.

Segundo o comunicado, desde a sua chegada ao mercado, em 2016, a empresa já transformou mais de 100 milhões de garrafas descartáveis plásticas de água e manteve mais de 122 mil quilos de plástico for a de rios e mares.

A companhia, que também tem escritórios em Nova York e Xangai, conta com uma base de mais de 2 milhões de clientes. Seus produtos são vendidos diretamente, online, e também por meio de 8 lojas monomarca.

A Rothy's seguirá operando de forma independente. A Alpargatas ressaltou, porém, que terá um papel estratégico para acelerar o crescimento da base de clientes e ampliar o conhecimento da marca nos Estados Unidos e nos mercados internacionais.

De janeiro a setembro deste ano, a Alpargatas reportou uma receita de R$ 3,05 bilhões, alta de 35,3% sobre igual período de 2020. A receita internacional foi de R$ 1,06 bilhão nesse intervalo, um salto anual de 46,5%.

As ações da empresa acumulam uma desvalorização de mais de 7,2% em 2021. A companhia está avaliada em R$ 20,7 bilhões.