A capacidade de persuasão e de vender ideias grandiosas parece ser uma das artes dominadas por Sam Altman. À frente da OpenAI, dona do ChatGPT, ele colocou a empresa na dianteira do boom da inteligência artificial e atraiu bilhões de dólares de nomes como Microsoft, Sequoia Capital e Andreessen Horowitz.

Em outro episódio, que mostra o status alcançado pelo americano de 38 anos, no fim de 2023, ele chegou a ser demitido pelo conselho de administração da companhia. Mas, apenas cinco dias depois, retomou seu posto a partir da pressão de investidores e de funcionários.

Depois de ser reconduzido ao cargo, ele parece disposto a colocar seu poder de convencimento mais uma vez à prova. Essa nova empreitada levanta, porém, um questionamento sobre outros possíveis traços de sua personalidade: Altman é um ambicioso ou um louco?

Segundo o The Wall Street Journal (WSJ), Altman está empenhado agora em captar nada mais nada menos que uma quantia entre US$ 5 trilhões e US$ 7 trilhões para “remodelar” a indústria de semicondutores e levar a inteligência artificial a outro patamar.

Com esse volume de recursos restrito apenas a governos, até onde se tem notícia, seu plano é expandir a capacidade mundial de produção de chips e dos recursos que alimentam e processam os algoritmos de inteligência artificial.

A justificativa por trás dessa meta mais do que ambiciosa seria resolver os problemas que dificultam o crescimento da OpenAI. Entre eles, a escassez e alto custo dos chips de inteligência artificial necessários para treinar os modelos de linguagem que viabilizam ferramentas como o ChatGPT.

Para se ter uma dimensão do que está envolvido na busca por esse cheque mais do que polpudo, a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o Brasil tenha fechado 2023 com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 2,12 trilhões.

Ao mesmo tempo, a indústria global de semicondutores movimentou US$ 527 bilhões em 2023 e as estimativas apontam para que o segmento alcance a cifra de US$ 1 trilhão até 2030.

Outros dados realçam a difícil missão de Altman. A emissão total de dívida corporativa nos Estados Unidos no ano passado foi de US$ 1,44 trilhão, segundo a Securities Inddutry and Financial Markets Association.

Ao mesmo tempo, quando se leva em conta a Apple e a Microsoft, as duas maiores empresas dos Estados Unidos em termos de valuation, o valor de mercado combinado é de aproximadamente US$ 6 trilhões.

Cifras estratosféricas à parte, o fato é que, segundo o WSJ, Altmam vem se reunindo com investidores, fabricantes de chips e empresas de energia, que, juntos, aportariam os recursos e construiriam unidades a serem gerenciadas por fabricantes de semicondutores.

A OpenAI, por sua vez, se comprometeria a ser uma das clientes desses fornecedores. De acordo com fontes a par do tema, as negociações ainda estão em estágio inicial e a captação, se for bem-sucedida, pode levar anos.

Nas últimas semanas, como parte dessa agenda trilionária, Altman teria se reunido com nomes como o xeique Tahnoun bin Zayed al Nahyan, que atua como conselheiro de segurança e é irmão de Mohamed bin Zayed al Nahyan, presidente dos Emirados Árabes Unidos.

Esse “road show” também incluiu encontros com Masayoshi Son, fundador e CEO do Softbank, além de representantes de fabricantes de chips, entre elas, a Taiwan Semiconductor Manufacturing, mais conhecida pela sigla TMSC e um dos principais players globais do setor.

Ao mesmo tempo, outro nome envolvido nessas conversas é o do Microsoft, que já injetou US$ 10 bilhões na operação da OpenAI. Altmam teria compartilhado seus planos com Satya Nadella, o CEO da gigante de Redmond.

Além da quantia envolvida, o país que abrigaria as dezenas de fábricas do projeto é um dos desafios para a empreitada. Os Estados Unidos seriam o local de preferência de Altman. Ainda mais sob a expectativa de que o governo de Joe Biden conceda bilhões de dólares em subsídios para a TSMC e outros players do setor nas próximas semanas.

Apesar dessa perspectiva e do fato de a indústria de chips ser uma prioridade para Biden e seus pares, outra barreira para o projeto é a preocupação de membros do governo americano quanto à posição que governos de países como os Emirados Árabes Unidos terão no mercado de inteligência artificial.

Ciente de mais esse desafio, Altman também teria se encontrado com Gina Raimondo, secretária de comércio dos Estados Unidos para discutir a iniciativa.