A Moura Dubeux fechou 2024 batendo recorde de vendas e lançamentos, em um ano em que começou a registrar geração de caixa e pagar dividendos, cumprindo com os compromissos assumidos quando a empresa fez o IPO, em fevereiro de 2020.

Mesmo num ano em que os juros serão um desafio ao setor de construção civil, a maior incorporadora do Nordeste acredita que conseguirá manter a toada, aproveitando a demanda da região, as “fortalezas” que estabeleceu ao longo dos anos e seus novos negócios. Tudo isso de acordo com a filosofia de não se alavancar para crescer.

“Em 41 anos, nunca tínhamos conseguido uma performance operacional tão boa quanto essa”, diz Diego Villar, CEO da Moura Dubeux, ao NeoFeed. “E nós achamos que podemos conseguir ter, em 2025, uma performance igual ou superior ao ano de 2024.”

A Moura Dubeux registrou no ano passado R$ 2,4 bilhões em vendas e adesões, um aumento de 61,2% em relação a 2023, segundo a prévia operacional divulgada na noite de terça-feira, 14 de janeiro. No quarto trimestre, as vendas avançaram 31,2% em base anual, para R$ 521 milhões.

Apesar de ter lançado 14 projetos em 2024, um a menos do que em 2023, o valor geral de venda (VGV) líquido somou R$ 2,5 bilhões, crescimento de 58%. A mesma dinâmica foi vista no quarto trimestre – três empreendimentos lançados, recuo de 40%, mas aumento de 2,6% do VGV líquido, para R$ 460 milhões.

O índice VSO líquido, a relação entre as vendas líquidas e a oferta, nos últimos 12 meses foi de 54,3%, um aumento de 8,7 pontos percentuais quando comparado ao mesmo intervalo de 2023. O VSO líquido no quarto trimestre foi de 19,5%, aumento de 1,6 ponto percentual em base anual.

O ano passado foi marcado pela consolidação dos projetos de condomínio fechado, uma das forças do modelo de negócios da Moura Dubeux. Nesse formato, em vez de tomar financiamento, a empresa reúne investidores e utiliza os recursos para construir os empreendimentos, preservando o caixa e permitindo margens elevadas.

Dos R$ 2,5 bilhões em VGV de lançamentos, cerca de R$ 1,6 bilhão foi no formato de condomínio, enquanto R$ 942 milhões foram via incorporação. As adesões de condomínio tiveram um forte crescimento no ano passado, avançando 99,6%, para R$ 1,3 bilhão, enquanto apesar do recuo de 15,1% no trimestre, para R$ 188,7 milhões.

“Demos um outro tamanho a esse modelo de negócios. Não só é positivo crescer dentro dele, como dominamos muito mais o mercado do Nordeste com essa metodologia. Das companhias listadas, somos a única a fazer”, diz Villar.

Outro destaque do período é a Mood, marca da companhia voltada para famílias com renda mensal entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, lançada em 2023. No ano passado, a Moura Dubeux vendeu R$ 379,2 milhões nesse segmento, uma boa evolução frente ao visto em 2023, quando comercializou cerca de R$ 23,3 milhões.

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Diego Villar, CEO da Moura Dubeux

Villar afirma que os empreendimentos da Mood possuem como característica um modelo industrializado de construção, permitindo escala. O formato está ganhando espaço no mix de vendas, representando 14,6% do VGV no ano passado.

Para lidar com as turbulências de 2025, o plano da Moura Dubeux é avançar com empreendimentos no formato de condomínio fechado, voltado para o segmento da população de renda maior e com capacidade de poupança, blindados de eventual crise. A Mood deve manter a dinâmica de crescimento, com Villar dizendo que a empresa não está tendo dificuldades em vender empreendimentos.

A companhia também aposta em uma nova linha de negócios voltada para o Minha Casa, Minha Vida. A Moura Dubeux anunciou em 2024 o lançamento da chamada Única, empresa que desenvolverá empreendimentos para a faixa 3 do programa federal, voltados para famílias com rendimento mensal de R$ 4,4 mil a R$ 8 mil.

Com dois lançamentos previstos para 2025, a Única utiliza o mesmo formato de construção da Mood, com algumas simplificações de especificações de acabamento. “Estamos entregando os primeiros Moods e nos sentimos confortáveis de que estamos dominando a tecnologia construtiva, então podemos entrar no faixa 3, com um Mood simplificado”, afirma Villar, sem apresentar projeções de resultados.

Com estas frentes, e mantendo a seletividade nos lançamentos para não prejudicar o ritmo de vendas, Villar espera atender a demanda do mercado do Nordeste, sobretudo de famílias mais jovens. “Na nossa região, as famílias estão na faixa de comprar imóveis, então mesmo com os juros no patamar em que estão, estamos conseguindo vender imóveis”, diz Villar.

Ele diz que os bancos devem diminuir a concessão de crédito, mas acredita que as instituições aprenderam com o passado, quando os juros subiram fortemente após a pandemia. Para Villar, essa situação prejudicou os próprios bancos, que não devem cortar por inteiro o crédito imobiliário. “Tirar a liquidez não deve ser a estratégia deles”, afirma.

Em meio a este cenário, a Moura Dubeux pretende manter os pagamentos de dividendos. Inicialmente previstos para 2025, os primeiros proventos, de R$ 55 milhões, foram anunciados junto com os resultados do terceiro trimestre.

Os pagamentos foram possíveis junto com a resolução da questão do caixa, depois de uma série de períodos de queima, ainda que o resultado do ano passado tenha sido negativo. Em 2024, a Moura Dubeux registrou um consumo de R$ 71 milhões, menos do que os R$ 166 milhões apurados em 2023.

Segundo Villar, além do pagamento de dividendos, o caixa foi afetado pelos R$ 5 milhões destinados à recompra de ações, mais os gastos necessários em uma atividade intensiva em capital como construção e incorporação, com a expansão da Mood. “Mas nos últimos dois trimestres de 2024 já registramos geração de caixa”, diz ele.

A ação MDNE3, da Moura Dubeux, acumula uma queda de 13,9% em 12 meses. O valor de mercado da companhia é de R$ 880, 5 milhões.