Após trimestres consecutivos de resultados abaixo do esperado, o Santander Brasil apresentou nos primeiros três meses deste ano um desempenho que agradou analistas e investidores, fazendo com que suas units registrem uma das maiores altas do Ibovespa nesta terça-feira, 30 de abril - a cesta de papéis do banco espanhol fechou em alta de 2,74%, a R$ 29,90 enquanto o principal índice da bolsa recuou 1,12%.
Com a retomada da margem financeira e redução das provisões para perdas, e sem a ocorrência de eventos inesperados (caso de Americanas), o terceiro maior banco do País em total de ativos fechou o primeiro trimestre com um lucro líquido gerencial de R$ 3 bilhões. O montante representa um aumento de 41,2% em relação ao mesmo período de 2023, e um avanço de 37,1% na comparação com o quarto trimestre.
O lucro nos primeiros três meses do ano é semelhante ao que o Santander tinha registrado no terceiro trimestre de 2022. Mas, para Mario Leão, CEO do banco, o sabor agora é diferente. “Os R$ 3 bilhões de 2022 tinham o gosto da frenagem que estávamos fazendo nas operações”, disse ele. “Agora, esses R$ 3 bilhões estão relacionados à retomada das operações.”
No terceiro trimestre de 2022, o banco estava lidando com as consequências da piora da inadimplência, consequência da concessão desenfreada do crédito entre 2020 e 2021, quando os juros estavam nos patamares mais baixos da história.
Uma das formas que encontrou para estancar a situação foi fechar a torneira do crédito para o segmento de renda menor, um dos motores de crescimento da instituição. O banco também buscou diversificar seus negócios e trazer clientes de alta renda.
Segundo Leão, essas medidas estão surtindo efeito, como visto no primeiro trimestre. “Temos um portfólio mais equilibrado entre linhas de negócios, mais saudável e resistente frente aos cenários macroeconômicos”, afirmou o CEO.
Agora, vendo a casa em ordem, o Santander entende que chegou o momento de voltar a atenção ao segmento de renda menor, para disputar o público que perdeu nos últimos anos com a explosão dos bancos digitais e das fintechs.
Para isso, o banco anunciou, no fim de semana, o lançamento do "free", uma linha que oferece conta e cartão de crédito gratuitos, com foco no público com renda de até R$ 4 mil mensais.
Embora o produto esteja disponível para quem não é cliente, o banco está focado em buscar pessoas na base que estão “dormentes” e aqueles que têm apenas um produto do banco – o Santander fechou o primeiro trimestre com quase 66 milhões de clientes, sendo 31,1 milhões ativos. “Os ‘monoprodutistas’ são clientes ativos, mas não correntistas, e não têm uma relação com o banco como um todo”, disse Leão.
A busca na base vem com a vantagem de que o Santander possui dados sobre essas pessoas, o que permite fazer uma oferta mais certeira, principalmente na frente de crédito. Segundo Leão, o banco passou os últimos anos estudando como fazer ofertas para esse segmento, depois de aprender com os erros do passado, destacando que a concessão de crédito não voltará aos níveis da pandemia.
“Nós aprendemos sobre a pouca elasticidade da renda desse público. Em 2020 e 2021, todo o mercado superestimou renda disponível ou a capacidade de endividamento do segmento”, disse. “Estamos começando com cartão, porque é o principal elemento que tangibiliza relação com o banco, mas o cliente que precisar de crédito adicional, vamos trabalhar com produtos garantidos.”
A iniciativa, porém, não deve trazer resultados em um primeiro momento. Leão disse que o segmento de baixa renda segue deficitário, mas a ideia é que ele atinja o breakeven em algum momento, sem especificar prazo. Para ele, uma oferta mais focada deve ajudar nesta frente, destacando que é uma faixa da população que precisa ser atendida. “Não tem como atuar no Brasil sem atuar com a baixa renda”, disse Leão.
Junto com o lucro do terceiro trimestre, o Santander viu a margem financeira bruta expandir 7,3% na base trimestral e avançou 14,5% na anual, para R$ 14,8 bilhões. Já a carteira ampliada de crédito cresceu 1,7% na comparação trimestral e 8,1% na anual, para R$ 654 bilhões.
As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) atingiram R$ 6 bilhões, baixa de 11,6% em relação ao quarto trimestre e de 12,1% na comparação com o mesmo período de 2023. O índice de inadimplência superior a 90 dias atingiu 3,2%, aumento de 0,1 ponto percentual ante o quarto trimestre e estável em relação ao ano anterior.
O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) atingiu 14,1% no primeiro trimestre, aumento de 3,5 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2023. No quarto trimestre, o ROAE chegou a 12,3%.
No ano, as units do Santander (SANB11) acumulam queda de 11,7%, levando valor de mercado a R$ 109,1 bilhões.