No início de 2024, a Loja do Mecânico colocou um pé no freio no plano de ir além das suas origens como um e-commerce de ferramentas e máquinas. Nesse trajeto, a empresa suspendeu a abertura de lojas físicas, a via escolhida para ampliar sua fatia em um mercado endereçável estimado em R$ 75 bilhões.

Até então, a empresa vinha cumprindo uma marcha acelerada de inaugurações, uma tese que foi colocada na rua pouco depois de 2020, quando a eB Capital passou a controlar a operação. O destino traçado? Dobrar de tamanho e alcançar um faturamento próximo de R$ 4 bilhões em 2028.

Depois de pouco mais de oito meses desse “pit stop”, um período que incluiu uma troca na direção, a Loja do Mecânico entende que está pronta para retomar sua estratégia de expansão orgânica e estender seu mapa de operações offline a novos mercados.

“Nós tiramos, de forma consciente, o ano de 2024 para maximizar a operação e os resultados das nossas 18 lojas físicas”, diz Guilherme Favaro, CEO da Loja do Mecânico, ao NeoFeed. “E, agora, estamos com as engrenagens desse modelo bastante azeitadas para voltar a expandir em 2025.”

Essa virada de chave acontece pouco tempo depois de o executivo, que já atuava como CFO da varejista desde julho de 2023, assumir o comando da empresa. Ex-Tok&Stok, RHI Magnesitas e Deutsche Bank, em agosto, ele substituiu Luciano Sessim, que deixou o posto três meses antes para liderar a 1A99.

Favaro já traçou os pontos que vão guiar essa retomada. A projeção é inaugurar entre 10 e 15 lojas em 2025, e manter esse ritmo nos anos seguintes. Na primeira leva de aberturas, o ponto de partida serão cidades próximas ao centro de distribuição da rede, instalado em Cajamar (SP).

Reforçar a presença em São Paulo será um dos focos dessa estratégia. A ideia, porém, é não se restringir ao estado, onde a varejista mantém 17 de suas 18 lojas – uma unidade em Belo Horizonte (MG) completa essa base.

Com essa orientação, o calendário de aberturas de 2025 vai passar por outras unidades na capital mineira e nas cidades de Juiz de Fora e Uberlândia. Além da chegada ao Rio de Janeiro, também na capital, e em Niterói.

“Já temos um plano de expansão que envolve as maiores cidades e capitais do Brasil”, afirma Favaro. “A partir de 2026, iremos ganhar mais terreno no Espírito Santo, no norte de Minas Gerais, quase na fronteira com a Bahia, e vamos começar a subir até o Nordeste.”

O refinamento no modelo das lojas físicas que fez com que a Loja do Mecânico se sentisse confortável para voltar a ganhar tração nessa frente envolveu medidas como o ajuste no mix desses pontos de venda, com a oferta de um sortimento básico com, no mínimo, 6 mil SKUs em cada loja.

“As lojas físicas também permitem fortalecer a nossa oferta em consumíveis, como lubrificantes, combustíveis, discos, lixas e serras”, afirma. “São produtos que, diferentemente do online, você consegue vender por unidade, o que aumenta o giro e a frequência de compra.”

Por falar em compras, uma segunda vertente envolveu a aquisição, até então não divulgada, de 50% da BSeller, empresa dona de um sistema de gestão (ERP). No acordo, concluído há dois meses, a Petlove ficou com os 50% restantes da companhia.

Favaro observa que o fato de ter se tornado sócia da operação colocou a rede na lista de prioridades da BSeller. E que a adoção do ERP em suas lojas tornou a gestão dessas unidades menos complexa, mais rentável e abriu caminho para vendas multicanal, que hoje já representam 20% do faturamento.

Ele cita outros números para ilustrar esses avanços. No primeiro semestre de 2024, a rede teve alta de cerca de 11% nas vendas mesmas lojas, além de um salto de 30% em seu Ebitda. No faturamento, a projeção é manter a média de 16% de expansão e fechar o ano com uma receita de R$ 1,75 bilhão.

Testes e projetos-piloto

Com um portfólio total de 50 mil SKUs, a rede também está testando novas categorias para ampliar suas fronteiras encorpar ainda mais esses números. As duas mais recentes nessa prateleira são a culinária industrial, com fornos e produtos de tíquete mais elevado, além de ferramentas de estética automotiva.

As apostas não se resumem, porém, ao core do varejo. Em linha com o mantra de boa parte do mercado de erguer um ecossistema, a Loja do Mecânico tem uma agenda de ofertas em desenvolvimento para serem testadas e lançados no entorno do seu negócio principal, também em 2025.

Uma dessas iniciativas é um programa de fidelidade, que vai reunir, além de opções tradicionais nesse formato, ofertas de benefícios além do varejo e em áreas como a concessão de crédito.

“Nós decidimos postergar um pouco o lançamento do programa para não chegar ao mercado com uma versão baseada apenas em pontos e cashback”, observa Favaro. “A previsão é lançar em meados do ano que vem e com um pacote completo.”

Já em serviços financeiros, onde a rede já oferece garantia estendida – seu carro-chefe na área -, consórcios e seguros, um dos planos a partir de 2025 é ampliar o leque com opções como seguros contra acidentes e de responsabilidade civil, por meio de um contrato recente com a 180 Seguros.

As parcerias também estão no escopo de crédito. A Loja do Mecânico negocia com três instituições para começar a testar no ano que vem uma modalidade conectada ao momento da compra. “Mas somos muito pé no chão e qualquer iniciativa de crédito no curto prazo será com capital de terceiros”, diz.

Mesmo ressaltando essa visão de crescimento do ecossistema sem colocar em risco a rentabilidade, Favaro também não descarta que a rede volte a investir em M&As. Além da BSeller, a empresa comprou a revista “O Mecânico”, em 2022. Agora, porém, eventuais acordos se justificariam por uma outra tese.

“Hoje, nosso olhar para M&A ainda é oportunístico, mas o acordo precisa ser transformacional”, diz o executivo. “Podemos olhar para companhias estabelecidas nesse mesmo setor de máquinas e ferramentas, redes de nicho regionais ou que atendam uma categoria que somos pouco presentes.”