Fundada em outubro de 2020 por ex-executivos de empresas como Nubank, Mapfre e Santander, a 180° Seguros chegou de fato ao mercado em abril de 2021. A estreia foi acompanhada por um cheque polpudo de R$ 44 milhões, em um aporte seed liderado pelos fundos Canary, Dragoneer e Rainfall.
Agora, com menos de um ano no mercado, a insurtech está reforçando novamente seu caixa com uma captação de R$ 177 milhões (US$ 31,4 milhões). A rodada série A é liderada pelo fundo americano 8VC, que já investia na companhia e tem Joe Lonsdale, um dos fundadores da Palantir, entre seus sócios.
O investimento traz ainda os brasileiros Monashees e Atlantico para a operação. E, além do americano Dragoneer, é acompanhado pelos fundos locais Quartz, de José Galló, ex-CEO da Renner, e Norte, que também já tinham participado do primeiro aporte na empresa.
“O mercado brasileiro de seguros ainda tem uma penetração muito baixa”, diz Mauro Levi D’Ancona, cofundador e CEO da 180° Seguros, ao NeoFeed. “O setor movimenta R$ 270 bilhões por ano e deveria ser o dobro do que é. As oportunidades que enxergamos e a nossa ambição são muito grandes.”
Para reverter esse quadro e encurtar seu caminho em direção ao ganho de escala, a 180° Seguros aposta no conceito de insurance as service. Com um modelo 100% digital, a startup conecta 27 seguradoras a empresas de diferentes setores dispostas a oferecer seguros aos seus clientes.
A partir dessa integração, a insurtech desenha produtos customizados para esses parceiros, nos formatos de white label ou cobranded. E permite que essas empresas embarquem o seguro em suas ofertas e estendam o vínculo com seus clientes.
Desde que chegou ao mercado, a 180° Seguros já criou nove produtos, distribuídos em oito canais diferentes. Entre eles, um seguro com cobertura intermitente para pertences em veículos. Com contratação válida por uma hora, no valor de R$ 0,49, o produto foi lançado em parceria com a Zul+, empresa responsável pela zona azul em Curitiba (PR) e outras 11 cidades do País.
Hoje, além da Zul+, a startup, que é remunerada com uma taxa por cada seguro vendido, atende uma carteira que inclui Loft, Caju, Buser, iClinic, Mottu e Pipo Saúde.
“Com esses sete parceiros e outros oito que já estamos desenvolvendo projetos, nossa projeção é fechar 2022 com 1 milhão de produtos vendidos”, afirma D’Ancona.
Para concretizar esse número, a 180° Seguros vai reservar uma parcela da nova captação para a ampliação da sua equipe. Do quadro atual de 50 funcionários, o plano é chegar a 110 profissionais no fim do ano, com atenção especial às áreas de produto e de tecnologia.
Uma segunda frente de aplicação dos recursos envolve justamente o atendimento às parcerias e o desenvolvimento de novos acordos, o que pode passar, inclusive, pelo estabelecimento de joint ventures.
“Temos três conversas em andamento”, conta D’Ancona. Ele diz que há diversos modelos e possibilidades na mesa. “Podemos entrar como sócios em uma joint venture ou compartilhar custos e resultados, por exemplo.”
Além das startups, que hoje dominam a carteira da companhia, a 180° Seguros também está olhando para parcerias com varejistas. Em especial, aqueles que já contam com ofertas de seguros, mas que estão em processo de digitalização e modernização desse portfólio.
Ao mesmo tempo, a startup tem outros produtos e projetos em desenvolvimento com sua base atual de 15 clientes. “Vamos lançar um seguro de vida diferenciado e muitos outros com coberturas intermitentes, na linha de liga e desliga”, diz D’Ancona.
Como um pano de fundo para esses planos, D’Ancona observa que o mercado de seguros passa por um momento semelhante à abertura de mercado incentivada pelo Banco Central no setor bancário, há alguns anos, algo que ele testemunhou de perto, quando estava no Nubank.
Em seguros, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) também vem investindo em iniciativas semelhantes para estimular a competição no setor, como o open insurance, que envolve o compartilhamento e a integração de dados.
Esse cenário tem favorecido o crescimento do número de insurtechs. Assim como dos aportes destinados a essas startups. Segundo o hub de inovação Distrito, o segmento movimentou US$ 318 milhões em aportes, em 2021, contra US$ 92 milhões, em 2020.
Outra startup de seguros que estreou recentemente no mercado e atraiu investidores, por exemplo, foi a Justos. Em maio de 2021, a empresa captou R$ 15 milhões em uma rodada liderada pela Kaszek e que contou com a participação de nomes como David Vélez, do Nubank, e Sergio Furio, da Creditas.
A nova dinâmica também vem chamando a atenção de insurtechs do exterior, como a chilena Betterfly, que chegou ao País no ano passado. Nesta semana, a empresa recebeu um aporte de US$ 125 milhões, liderado pela Glade Brook Capital, e tornou-se a primeira startup unicórnio do setor na América Latina.