Fundada em 2003, por Peter Thiel, um dos membros da “Máfia do PayPal”, a Palantir abriu o capital no fim de setembro, por meio de uma listagem direta na Bolsa de Nova York. E, desde então, a empresa vem confirmando as expectativas criadas em torno do IPO, um dos mais aguardados do ano.

Um indicador traduz o interesse de Wall Street pela companhia de coleta e análise de dados. De lá para cá, as ações da Palantir, avaliada em US$ 33,6 bilhões, registram uma alta superior a 146%. Todo esse sucesso, no entanto, não significa que a empresa é uma unanimidade.

Na contramão da boa vontade do mercado com a companhia, a Soros Fund Management (SFM), gestora de ativos do bilionário húngaro-americano George Soros, revelou, por meio de comunicado divulgado nesta semana, que planeja vender sua participação na empresa.

“A SFM não aprova as práticas de negócios da Palantir”, afirmou a SFM, que tem mais de US$ 4 bilhões de ativos sob gestão. “A SFM fez esse investimento em um momento no qual as consequências sociais negativas do big data eram menos compreendidas. Hoje, a empresa não faria um aporte na Palantir.”

A SFM começou a investir na Palantir em 2012. Hoje, segundo a nota, a empresa tem cerca de 1% das ações Classe A, de voto limitado, da companhia. A gestora informou que se desfez dos papéis que não era obrigada, por contrato, a reter. E acrescentou que seguirá vendendo conforme for permitido.

Conhecido por destinar boa parte de sua fortuna, estimada em US$ 8,6 bilhões, ao ativismo político e às causas liberais e de direitos humanos, Soros já criticou publicamente outras companhias de tecnologia. Em 2018, por exemplo, ele afirmou que o Google e o Facebook são uma “ameaça à sociedade”.

A postura adotada por Soros em relação a Palantir também passa pelo fato de que Thiel é um defensor declarado de Donald Trump. O bilionário, por sua vez, é um crítico ferrenho do presidente americano, chamado por ele de “aberração.”

Ao mesmo tempo, Soros não está sozinho nas ressalvas quanto à operação da Palantir. O principal questionamento reside no fato de que o software da empresa é usado por agências e órgãos de inteligência de governos ao redor do mundo, entre eles o Departamento de Segurança Interna e o Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos.

Essas dúvidas, que são alimentadas pela aura misteriosa propagada pela empresa, vem despertando críticas sobre supostas práticas de invasão de privacidade e coletas de dados ilegais. E tem colocado a companhia na berlinda, inclusive do Congresso americano. Em setembro, por exemplo, a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez defendeu que a Palantir deveria ser investigada por conta dessas questões.

Os laços estreitos com o poder público estão expressos no resultado da companhia. No primeiro semestre deste ano, a Palantir reportou uma receita de US$ 431 milhões. Desse montante, US$ 258 milhões, ou 53,5%, vieram de contratos com a esfera governamental.

No primeiro semestre deste ano, a Palantir reportou uma receita de US$ 431 milhões. Desse montante, 53,5%, vieram de contratos com governos

Além das críticas ao seu modelo, que ganham mais peso com as declarações da SFM, a Palantir tem outro desafio pela frente. Desde a sua fundação, a companhia nunca foi lucrativa. No primeiro semestre, a empresa seguiu nessa toada. No período, a perda foi de US$ 164,7 milhões.

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