Num mundo que precisa encontrar caminhos para endereçar a crise climática, mas ainda tem de lidar com questões como desigualdade e disputas geopolíticas, empresários dos países do G20 defenderam a união entre o setor público e privado, para destravar os investimentos necessários para esta transformação, que custará trilhões de dólares.
Essa é a principal conclusão dos oito grupos de trabalhos do B20, fórum de empresários dos países do G20, que trabalharam ao longo do ano para desenvolver recomendações de políticas públicas em frentes como comércio, educação e segurança alimentar. O objetivo é que as medidas sejam acatadas pelos governo e constem nos comunicados finais dos grupos de trabalho do G20.
Liderados por empresários e executivos brasileiros, pelo fato de o País ser o anfitrião do G20, cuja cúpula se reunirá mês que vem, no Rio de Janeiro, os grupos identificaram a necessidade de maior envolvimento do mundo empresarial, em parceria com os governos, para obter crescimento sustentável e inclusivo, gerando uma economia global de emissão baixa de carbono.
“Crescimento sustentável significa entender todos os stakeholders desse processo”, disse Walter Schalka, ex-CEO da Suzano, durante a apresentação das conclusões dessas forças tarefas, em São Paulo.
À frente do grupo que tratou da questão de emprego e educação, Schalka disse que é preciso um esforço concentrado para preparar as futuras gerações para o mercado de trabalho, marcado pela chegada da inteligência artificial (IA), destacando que os passos tomados para isso ainda estão sendo tímidos.
Além da questão de transformar os sistemas educacionais e de promover o upskilling da atual força de trabalho, com a promoção da educação digital, ele afirmou que é preciso também adaptar as regras do mercado de trabalho para reconhecer novos formatos de trabalho que surgirão a partir da crescente digitalização econômica.
“Os formuladores de políticas públicas precisam entender que o ambiente do trabalho está se transformando completamente”, disse. “Precisamos fazer grandes reformas na arena global.”
A necessidade de integração entre os segmentos público e privado ficou evidente quando o assunto é infraestrutura. Segundo Luciana Ribeiro, sócia e cofundadora da eB Capital, que comandou o grupo relacionado a finanças e transformações digitais, o mundo precisa de cerca de US$ 150 trilhões nas próximas décadas para fazer a transição para uma economia verde.
Ela defendeu uma revisão do papel do setor público, servindo de fomentador para investimentos em soluções que enderecem a crise climática. Ribeiro diz que, atualmente, para cada US$ 1 de investimento público mobiliza cerca de US$ 1,6 de capital privado.
A ideia é, por meio de mudanças em políticas públicas, mudar essa proporção de US$ 1 para US$ 5. “Ao simplificar processos, podemos aumentar significativamente o pipeline de projetos, tornando-os mais atraentes ao setor privado”, afirmou.
Mudanças regulatórias também foram a tônica das recomendações da força-tarefa de comércio e investimentos, liderada por Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer. Para ele, os países precisam melhorar as regras relacionadas a investimentos e comércio global, destacando a importância de reforçar o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC), com a criação de um conselho com membros do B20.
Outro ponto foi avançar nas negociações de novos acordos comerciais multilaterais, promovendo um comércio mais resiliente e sustentável. “Reconhecemos que comércio e sustentabilidade não são temas conflitantes, pelo contrário. Para nós, comércio é chave para acelerar a transição para economias verdes”, afirmou.
A necessidade de maior cooperação entre setor público e privado também foi considerada importante para a parte de alimentação e agricultura. O CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, que comandou os trabalhos do grupo de sistemas alimentares sustentáveis e agricultura, destacou a necessidade de recursos e regulação para avançar com sistemas mais sustentáveis.
Ele destacou que o sistema global precisa se apoiar no ganho de escala de tecnologias que promovam produtividade e sustentabilidade, com apoio aos agricultores, além da promoção de modelos econômicos que estimulem a adoção de medidas que reduzam a emissão de carbono. “Sem dinheiro e apoio, não é possível fazer essas transições”, disse Tomazoni.