A estratégia de puxar o freio no volume de abertura de lojas para reduzir o índice de alavancagem deu certo em 2024 para a rede de atacarejo Assaí.
No acumulado do ano, a empresa conseguiu diminuir em R$ 571 milhões a dívida líquida e alcançar a alavancagem ao patamar de 3,04 vezes da relação dívida sobre o Ebtida, em um cenário melhor do previsto em guidance da companhia, que era de 3,2x.
A companhia fechou 2024 com dívida líquida de R$ 12,5 bilhões (somando os recebíveis descontados), contra R$ 13,1 bilhões registrados no quarto trimestre de 2023.
“A companhia sempre foi uma grande geradora de caixa e foi possível alcançar essa melhoria de resultado principalmente pela maturação das novas lojas”, diz Belmiro Gomes, CEO do Assaí, em entrevista ao NeoFeed. “Para nós foi um ano de consolidação, com avanço e recuperação da margem de lucro e queda da dívida.”
A companhia vai seguir essa linha de raciocínio em 2025. A expectativa para este ano é de chegar ao fim do exercício com alavancagem de 2,6x.
O volume de dívida contraída pelo Assaí está muito relacionado à compra de 66 pontos comerciais da rede de hipermercados Extra, em outubro de 2021, por R$ 5,2 bilhões. A última parcela foi paga em janeiro de 2024, no valor de R$ 894 milhões.
“Para fazer frente a esse movimento, a gente acabou contraindo um alto nível de dívida e o juro não se comportou conforme a expectativa de 2021. Isso gerou esse volume, que é a razão de estarmos também segurando os investimentos”, afirma o executivo.
Atualmente com 302 lojas, o grupo ganhou quase um terço dessas unidades somente nos últimos três anos. Em 2024, foram 15.
O caminho mais conservador adotado pela empresa em 2024 também ajudou no resultado de vendas. O Assaí concluiu o ano com faturamento de R$ 80,6 bilhões, alta de 10,7% sobre 2023. O lucro líquido reportado também cresceu e chegou a R$ 769 milhões, acréscimo de 8,3% sobre o ano anterior.
“O resultado é muito bom, mas a realidade é que a gente esperava um pouco mais”, afirma Gomes. “A gente observa um consumidor muito pressionado pelo movimento de inflação alimentar, que não foi provocado pela demanda.”
Mais presença do público A e B
Parte dessa receita está atrelada a uma mudança de perfil do consumidor, detectada nos últimos anos. Todos os meses, 40 milhões de pessoas passam pelo supermercado. E, dos que efetivamente gastam nas lojas, 42% são de pessoas jurídicas, principalmente microempreendedores.
Os outros 58% são formados por pessoas físicas. E, desse volume, 44% pertencem à classe A e B, tendência muito diferente do que sempre foi o perfil do Assaí, de vender em grande quantidade, mais barato e para as classes mais populares.
Há também uma mudança geográfica na instalação de unidades, com inaugurações em regiões consideradas mais nobres dos municípios em detrimento a áreas mais periféricas, que sempre foi o ponto focal da companhia.
“Hoje, estamos em regiões em que antes era impensável ter uma loja de um atacarejo, como em frente ao Aeroporto de Congonhas”, afirma Gomes. “O formato até então era para o público de baixa renda. Agora temos muito mais itens nas lojas, com inclusão de açougue, fatiados, para poder atender o público de maior renda.”
Para 2025, a previsão é de seguir na mesma rota de um panorama mais conservador. Como anunciado pela empresa em comunicado ao mercado em outubro, o Assaí pretende inaugurar 10 lojas neste ano, metade do que tinha previsto inicialmente, com investimentos de, no máximo, R$ 1,2 bilhão.
“A queda no volume de investimentos é justamente para poder desalavancar e fazer frente ao momento da taxa Selic”, afirma. E o volume de lojas para 2026, estimado em 20 novas unidades do Assaí, também deve ser revisto, ainda no primeiro trimestre.
Além dos juros, o impacto do aumento no preço de alimentos neste ano também é outra preocupação para o presidente da empresa. “Boa parte dos produtos são dolarizados e são commodities. E estamos assistindo a dificuldade de acesso a produtos pela população. É preciso enxergar mais para a frente para saber qual será o patamar de inflação alimentar ao longo de 2025.”
Para o CEO do Assaí, o recente movimento de seu principal concorrente, o francês Carrefour, de anunciar o fechamento de capital da filial brasileira, não deve mudar as projeções de crescimento do Assaí. “Do ponto de vista concorrencial, a gente não acredita que haverá impacto, já que eles continuam de capital aberto na Françaa”, diz Gomes. “Provavelmente, eles enxergaram uma oportunidade de comprar barato as ações.”