Em mais de 150 anos de história, o Goldman Sachs se consolidou como um dos principais nomes globais do mercado financeiro. Figurar entre os clientes da instituição, no entanto, é algo acessível a um universo restrito de afortunados, com no mínimo US$ 10 milhões em aplicações. Ou melhor, era.
O Goldman Sachs anunciou nesta terça-feira o lançamento da Marcus Invest, plataforma digital dotada de um “robô advisor” e voltada a tíquetes menores no segmento de wealth management. Na prática, a iniciativa marca a entrada do banco na cada vez mais disputada arena dos investidores do varejo.
Na contramão da abordagem tradicional do grupo, para acessar a nova plataforma, basta que o investidor tenha US$ 1 mil e um smartphone. Além de um aplicativo, a ferramenta estará disponível no site da instituição.
Segundo reportagem do The Wall Street Journal, apesar da proposta que destoa do histórico do Goldman Sachs, o banco não deixou de tomar certas precauções no lançamento. Ofertada inicialmente nos Estados Unidos, a Marcus Invest não fará recomendações de ações específicas, como outras opções disponíveis no mercado.
“Vamos recomendar um mix diversificado de ETFs de ações e títulos que estejam alinhados com o seu objetivo”, diz uma mensagem no site da iniciativa. “Você será exposto a uma variedade de setores e economias com múltiplas oportunidades de crescimento e não ficará vinculado ao destino de uma única ação.”
Ao investir nesse formato, o Goldman Sachs busca se distanciar do modelo proposto por plataformas e aplicativos como o Robinhood e Webull Financial, que estiveram no centro da chamada “revolta das sardinhas”, movimento que abalou as estruturas de Wall Street há poucas semanas.
Ao mesmo tempo, a aposta do Goldman Sachs nessa seara pode ser vista como uma reação, mesmo que tardia, a esses serviços, que tem capturado boa parte da nova leva de investidores acessando o mercado de capitais. A Marcus Invest seria uma tentativa de “rejuvenescer” a operação e capturar uma parcela dessa onda.
Como prova da relevância dessa estratégia dentro do Goldman Sachs, o CEO do banco, David Solomon, está entre os usuários que testaram o aplicativo em sua fase de projeto-piloto. O aplicativo teve, porém, seu lançamento adiado em diversas oportunidades.
A Marcus Invest não é a único passo do banco nessa direção. Os primeiros movimentos do Goldman Sachs nesse espaço foram realizados a partir de 2016 e envolveram frentes como a compra da fintech Honest Dollar, por cerca de US$ 20 milhões.
Hoje, esses e outros projetos estão inseridos no guarda-chuva da divisão de consumo da instituição. Comandada por Stephanie Cohen, a área já conta com iniciativas dispersas como contas de poupança, empréstimos pessoais e um cartão de crédito com a Apple. Ainda nesse ano, o banco prevê lançar uma conta corrente destinada a esse público.
No ano passado, a unidade gerou US$ 1,2 bilhão em receitas, o que representou um crescimento de 40% sobre o volume reportado em 2019. O saldo dos empréstimos concedidos aos consumidores ficou em US$ 8 bilhões.