As debêntures de infraestrutura são, hoje, um caso interessante no mercado financeiro. Há demanda dos investidores por esse ativo isento de imposto. No entanto, novos projetos ainda estão parados desde que a nova legislação entrou em vigor.
A Bocaina Capital decidiu testar esse apetite dos investidores para triplicar o patrimônio do fundo Bocaina Infra, hoje com R$ 330 milhões.
A gestora de Miguel Ferreira e Gabriel Esteca acaba de publicar o prospecto de uma captação de R$ 500 milhões, com a possibilidade de chegar a R$ 625 milhões dependendo da demanda. A oferta tem como coordenadores líderes o BTG Pactual e o Itaú BBA
Listado na bolsa de valores com o ticker BODB11, esse fundo de renda fixa de crédito privado tem 20,8 mil cotistas. O preço da subscrição será de R$ 9,29, um pouco abaixo do fechamento do pregão de segunda-feira, 24 de junho, a R$ 9,33. A liquidação da oferta será em 31 de julho.
A Bocaina enxergou a possibilidade de aumentar o patrimônio do fundo com novos papéis que não vão diluir o carrego (rendimento até o vencimento do título) atual. No pipeline apresentado no prospecto, o spread médio dos nove projetos está em 2,7% sobre a NTN-B (benchmark do fundo).
Dentro dos nove projetos mapeados de debêntures incentivadas estão desde energia renovável até óleo e gás, passando por saneamento, siderurgia e telecom. A alocação pode ir de R$ 20 milhões a R$ 100 milhões. E a Bocaina deve fazer, também, originação própria.
Atualmente, o portfólio tem um yield médio de IPCA+8,96% - títulos públicos estão entregando IPCA+6,5%. E o retorno anualizado do BODB11 está em 13,5%, dentro do objetivo de rentabilidade de 1,5% a 2,5% sobre a NTN-B de duration similar à da carteira.
Na carteira atual estão títulos como as emissões dos grupos CCR e Ruas para a operação, manutenção e investimentos nas linhas 8 e 9 dos trens da CPTM, em São Paulo, que tem taxa de IPCA+7,25% ao ano e um título da mineira Bevap Bioenergia, especializada na produção de etanol, açúcar, e na co-geração de energia elétrica, com taxa de IPCA+10,15% ao ano.
O que anima a gestora de Ferreira e Esteca a “testar” o mercado é o sucesso da captação do fundo JURO11, da Sparta, no início de junho. A demanda dos investidores chegou a R$ 2 bilhões para uma oferta de R$ 800 milhões. Com os 25% adicionais, o fundo de infraestrutura da Sparta captou R$ 1 bilhão e aumentou em 28 mil o número de cotistas, para os atuais 76 mil.
Os impactos da nova lei
A resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) que introduziu restrições significativas sobre o lastro das emissões de títulos privados de renda fixa, como CRAs e CRIs, direcionou o interesse dos investidores para outros ativos com isenção de impostos, como as debêntures incentivadas de infraestrutura.
Como efeito dessa busca pela eficiência na isenção dos impostos, houve uma corrida dos investidores por títulos incentivados. E é natural que o prêmio fique menor.
Porém, as debêntures corporativas (de emissores conhecidos como Vale e Petrobras), que têm ratings maiores e menor percepção de risco, reduzem esse prêmio com mais rapidez. Por isso o interesse dos investidores nas debêntures de projetos, que normalmente têm um spread mais estável dependendo da carteira montada pelo gestor.
O BODB11 da Bocaina, por exemplo, aumentou cerca de 0,2% (20 basis points) com os eventos Americanas Light, que chacoalharam o mercado de títulos corporativos com um grande aumento dos spreads. Na média, as debêntures de projetos subiram 0,85%.
Se essa foi a maior prova da resiliência da carteira para o fundo da Bocaina com um evento externo, após a resolução do CMN, com o aumento da demanda dos investidores, houve um fechamento dos spreads dos títulos.
Para se ter uma ideia, estes últimos meses são o momento de maior diferencial sobre as debêntures corporativas. Enquanto o fundo de infra da Bocaina está com um prêmio de 2,65%, os títulos de Petrobras e Vale, por exemplo, estão neste momento negativos em 0,09% e 0,16%.