O Bradesco voltou a reforçar que o seu plano de reestruturação, em vigor desde fevereiro de 2024, começa a ganhar, de fato, mais tração. Os novos sinais foram enviados na noite da quarta-feira, 30 de julho, com a divulgação do balanço do banco no segundo trimestre deste ano.

Esse novo capítulo se traduziu em alguns indicadores que superaram as projeções do consenso. O lucro líquido recorrente, por exemplo, teve alta de 28,6% sobre igual período, um ano antes, para R$ 6,06 bilhões, e ficou acima das estimativas do mercado, que apontavam para o patamar de R$ 5,9 bilhões.

Já a receita total registrou um salto anual de 15,1%, para R$ 34 bilhões, ante uma projeção de R$ 32,9 bilhões. No período, a receita de prestação de serviços avançou 10,6%, para R$ 10,3 bilhões, e a de seguros, previdência e capitalização ficou em R$ 5,6 bilhões, alta de 21,7%.

Com um índice de 14,6%, o retorno sobre patrimônio líquido médio (ROAE) também veio levemente acima das estimativas, que indicavam a faixa de 14,4%, e registrou uma evolução de 3,2 pontos percentuais em base anual. Já a margem financeira cresceu 4,7%, para R$ 18 bilhões.

“Todos os nossos grandes pilares de receitas estão crescendo e com consistência”, disse Marcelo Noronha, CEO do Bradesco. “Então, estamos otimistas com o que temos feito. Mas, em relação à economia, mantemos o pé no chão.”

No saldo desse cenário, ele ressaltou que o banco vai seguir seu plano, com coerência, sob a perspectiva de uma desaceleração na economia no segundo semestre. Sem tirar, porém, o pé dos investimentos, mas com a ressalva da busca por um “crescimento sem loucura”, especialmente na carteira de crédito.

Um dos exemplos citados foi o novo crédito consignado privado. Noronha observou que o Bradesco ainda não “enfiou o pé no acelerador” nessa frente por conta do receio com a estruturação da fase inicial dessa modalidade.

“Não estamos dispostos a entrar em aventura. Até então, só vínhamos fazendo para empresas que já conhecíamos. E, mesmo assim, para funcionários com pelo menos um ano de casa”, disse. “Agora, estamos começando a rodar melhor e aumentando o nosso apetite.”

Com um volume de R$ 1,01 trilhão, a carteira de crédito expandida total teve uma expansão de 11,7% no segundo trimestre. Em pessoas físicas, o crescimento foi de 15,9%, para R$ 442,4 bilhões. Já em pessoas jurídicas, a evolução foi de 8,6%, para R$ 575,9 bilhões.

No detalhe do crédito PJ, a carteira de micro, pequenas e médias empresas somou R$ 230,4 bilhões, o que representou um salto de 25,2%. Já a de grandes empresas registrou um ligeiro recuo de 0,2%, para R$ 345,5 bilhões.

Nessa última ponta, Noronha observou que o banco deixou de fazer R$ 7 bilhões em operações de risco sacado, na esteira dos impactos trazidos pela disputa travada pelo Ministério da Fazenda e o Congresso Nacional em torno do aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

“Isso está voltando agora, mas esse retorno é mais lento, porque algumas empresas tomaram caminhos diferentes e andaram fazendo outras estruturações, como FIDCs”, afirmou. “Então, nem todo mundo vai voltar a fazer.”

Como em outros trimestres, Noronha realçou a visão bastante centrada em créditos colateralizados, ou seja, com garantia. E ressaltou que todas as safras do banco, incluindo os índices de inadimplência, estão “absolutamente controladas” e que não vê nenhum “desvio” no custo de crédito até o fim do ano.

Entre abril e junho, o índice de inadimplência acima de 90 dias foi de 4,1%, contra 4,3%, um ano antes. As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) ficou em R$ 8,1 bilhões, alta de 11,7%. As despesas operacionais, por sua vez, cresceram 9,9%, para R$ 15,8 bilhões.

O balanço foi acompanhado da revisão, para cima, de duas linhas do guidance para o ano. De uma projeção anterior entre 4% e 8%, o crescimento previsto agora para receita de serviços é de 5% a 9%. Já em seguros, previdência e capitalização, a estimativa mudou de 6% a 10% para 9% a 13%.

Em relatório, o Itaú BBA destacou que o Bradesco reportou mais uma rodada de resultados positivos e viu, como única ressalva, o aumento das despesas registrado no período. “No geral, foi um trimestre sólido, a recuperação está no caminho certo”, escreveram os analistas, reiterando a recomendação de compra e o preço-alvo de R$ 20,00.

Já o BTG Pactual destacou alguns pontos de atenção. Entre eles, o fato de o Bradesco ainda estar atrasado em sua transformação digital na comparação com o seu principal rival, o Itaú Unibanco.

Com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 16,00 para o papel, os analistas do BTG também questionaram o quanto de ROAE excedente o Bradesco pode efetivamente gerar por meio de programas de crédito apoiados pelo governo, como o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI). E acrescentaram.

“Os resultados do primeiro semestre de 2025 nos surpreenderam positivamente, adicionando possibilidades de upside para as nossas estimativas e apontando potencialmente para um ROAE maior em 2026-27 do que o esperado anteriormente. Dito isso, ainda temos dúvida sobre o futuro desse filme.”

As ações preferenciais do Bradesco estavam sendo negociadas com ligeira alta de 0,45% por volta das 11h20, cotadas a R$ 15,73. Em 2025, os papéis acumulam alta de 36%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 154,6 bilhões.