As expectativas já não eram boas para os resultados do quarto trimestre do Bradesco, com a piora das condições econômicas fazendo com que os analistas projetassem um aumento na inadimplência no crédito. E a revelação pela Americanas de “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões jogou ainda mais pessimismo para cima do balanço.

O que se viu nos dados divulgados nesta quinta-feira, 9 de fevereiro, foi um impacto pesado dessa combinação de fatores negativos. E se a situação já não era fácil, o próprio Bradesco sinalizou que a situação permanecerá complexa em 2023.

O banco fechou o quarto trimestre com um lucro líquido recorrente de R$ 1,6 bilhão, uma queda de 76% em relação ao mesmo período de 2021 e uma contração de 69,5% ante o desempenho registrado no terceiro trimestre.

O resultado veio bem abaixo da mediana das expectativas colhidas pela Bloomberg, que apontavam para um lucro líquido de R$ 4,6 bilhões.

De acordo com levantamento do TradeMap, o lucro líquido contábil de R$ 1,4 bilhão no período foi o pior resultado trimestral do Bradesco desde o terceiro trimestre de 2006.

No ano, o lucro líquido recorrente somou R$ 20,7 bilhões, queda de 21,1%. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio trimestral (ROAE) foi de 13,1%, recuo de 5 pontos percentuais em 12 meses.

Em nota, o CEO do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, afirmou que o resultado foi afetado pelo impacto negativo da margem com o mercado, o aumento da inadimplência no crédito para o segmento massificado de pessoas físicas e jurídicas, além da provisão do caso Americanas, referenciado por ele como um “cliente específico do atacado”.

Assim como o Itaú, o Bradesco decidiu provisionar a totalidade do impacto das “inconsistências contábeis” da Americanas no quarto trimestre, enquanto o Santander optou por um provisionamento da ordem de 30%. O Bradesco tem a maior exposição entre as instituições financeiras no caso, com R$ 4,8 bilhões em créditos a receber da varejista.

Com isso, a provisão para devedores duvidosos (PDD) expandida cresceu 3,4 vezes em relação ao quarto trimestre de 2021 e dobrou ante o terceiro trimestre, para R$ 14,8 bilhões.

Ainda que parte do resultado pode ser jogado nas costas da Americanas, Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, destacou que o caso da varejista não é o único motivo para a alta da PDD.

Segundo ele, quando se desconsidera o caso da varejista, a PDD do Bradesco registrou uma expansão de 2,3 vezes em base anual e de 38% ante o terceiro trimestre, para R$ 10 bilhões. “Mesmo sem Americanas, o resultado seria ruim quando comparado com o terceiro trimestre”, afirma Conde.

O Bradesco atribuiu o aumento da PDD às condições do cenário econômico, que influenciaram o ciclo de crédito, e o aumento da inadimplência. O índice de inadimplência acima de 90 dias fechou dezembro em 4,3%, aumento ante os 3,9% registrados no terceiro trimestre.

No caso da inadimplência de 15 a 90 dias, o índice passou de 3,6% para 4,1%. Segundo o Bradesco, a inadimplência está concentrada no portfólio massificado de pessoas físicas, micro e pequenas empresas, segmentos que sofrem mais em cenários adversos de inflação e juros altos.

Em relação à margem financeira, nos últimos três meses do ano ela recuou 1,7% comparado com o quatro trimestre de 2021, mas subiu 2,4% em relação ao terceiro trimestre, para R$ 16,6 bilhões.

A margem com mercado pesou sobre o desempenho, ao registrar resultado negativo de R$ 803 milhões. Já a margem com clientes cresceu 18,3% em base anual e sofreu um leve recuo comparada com o terceiro trimestre, de 0,3%.

A expectativa de Conde é de uma reação negativa bem forte dos investidores no pregão de sexta-feira, dia 10 de fevereiro. E considerando o que vem por aí, não deve ser um bom dia para o Bradesco.

Em nota, Lazari afirmou que o resultado 2023 será ainda impactado por maiores provisões. “No segmento massificado o crescimento de provisões acompanhará a expansão da carteira, e, no atacado, teremos provisões normalizadas”.

No guidance divulgado junto com os resultados, a PDD expandida prevista para 2023 deve ficar entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5 bilhões. Ela fechou 2022 em R$ 32,3 bilhões.

Segundo ele, o Bradesco possui historicamente uma importante exposição aos segmentos de baixa renda e pequenas empresas e que isto é estrategicamente correto, mesmo que neste ciclo estejam sofrendo com a inadimplência.

“Acreditamos que esse posicionamento se provará mais uma vez acertado ao longo do tempo, como resultado dos devidos ajustes que estamos promovendo no custo de servir a todos os clientes”, diz ele na nota.