Último entre os grandes bancos a apresentar seu desempenho no terceiro trimestre, o Bradesco ainda trouxe em seu resultado alguns impactos na linha da inadimplência, além de efeitos da menor originação de crédito e da aposta em um mix em clientes de menor risco nessa área.
Apesar de parte de seus indicadores ainda apontarem para uma recuperação mais lenta em relação aos seus pares, o banco fechou a temporada de balanços do setor buscando reforçar a mensagem de que alguns desafios ficaram pelo caminho e de que a agenda à frente será menos atribulada.
“Nós resolvemos o assunto margem com mercado. É uma página virada. E entendemos que atingimos o pico em inadimplência”, disse Octavio de Lazari Júnior, CEO do Bradesco, em conversa com jornalistas nesta sexta-feira, 10 de novembro. “Agora, vamos voltar a operar em nível mais forte e focar na margem com cliente.”
Próximo alvo de Lazari e seu time, a margem com clientes reflete justamente o menor apetite em crédito. No terceiro trimestre de 2023, o indicador recuou 2,6% na comparação com igual período de 2022, para R$ 15,85 bilhões. Em relação ao segundo trimestre desse ano, a queda foi de 4,9%.
Na outra ponta, a carteira de crédito somou R$ 877,5 bilhões, queda anual de 0,1% e alta de 1% sobre o segundo trimestre desse ano. Em pessoas físicas, o crescimento em 12 meses foi de 2,3%, para R$ 360,8 bilhões. Já em pessoas jurídicas, houve um recuo de 1,8%, para R$ 516,6 bilhões.
Ao observar que o freio de arrumação que resultou no maior foco em produtos como crédito rural, imobiliário e consignado era necessário, Lazari ressaltou que o banco vê agora uma evolução em todas as carteiras, inclusive micro e pequenas empresas, as mais afetadas nesse cenário e nessa abordagem.
“A retomada é mais forte nas operações com menor risco, mas seguimos tendo um crescimento importante, já no trimestre, na carteira livre”, afirmou. “Mas é natural que a gente leve um pouco mais de tempo, porque a margem com clientes não vem do dia para a noite.”
Nesse ponto, ele ressaltou que os esforços para a recuperação desse indicador não estarão restritos à retomada, gradual, ao que tudo indica, da oferta de crédito. O banco aposta em outras frentes do seu portfólio para tentar agilizar esse processo.
“Temos sim um aspecto de retomada da produção na carteira de crédito, mas também, outras alavancas nessa direção”, afirmou. “Existe todo um trabalho de principalidade e de share of wallet para que essa margem melhore.”
Uma das alavancas citadas por ele é o foco crescente do banco para avançar entre os clientes do segmento de alta renda. Nesse contexto, ele lançou mão de uma série de números para deixar claro essa disposição.
Entre eles, o fato de o Bradesco Prime ter mais de 4 mil profissionais dedicados e mais de 2 mil especialistas em investimento. Além do plano de reforçar esse time com a proposta de que cada cliente tenha “um gerente para chamar de seu”.
Outro elemento nesse pacote é a MyAccount, conta internacional lançada em julho e que permite a realização de saques e compras em mais de 200 países. Em pouco mais de três meses, o produto superou a marca de mais de 100 mil clientes.
Na busca por ganhar mais espaço na carteira dos clientes desse perfil, ele também destacou o lançamento recente do Bradesco Centurion American Express. E, num escopo mais amplo para outros perfis, a oferta do primeiro cartão de crédito da Amazon no País.
Em outra esfera, a partir de um início de movimentação mais intensa no mercado de capitais e de fatores como ciclo de queda dos juros, Lazari projetou uma possível janela para a retomada dos IPOs na B3 no terceiro trimestre de 2024. E adicionou outros elementos para justificar essa expectativa.
“A reforma tributária é um passo gigantesco que só vamos conseguir avaliar alguns anos à frente”, disse. “Isso vai dar mais clareza e segurança para as empresas. E vai melhorar muito o ânimo para os negócios no Brasil.”
Queda no lucro
O Bradesco encerrou o terceiro trimestre de 2023 com um lucro líquido recorrente de R$ 4,6 bilhões. O número reportado representou uma queda de 11,5% sobre o montante registrado no mesmo intervalo de 2022.
No período, o banco registrou um retorno sobre patrimônio (ROAE) de 11,3%, contra 13%, um ano antes, e 11,1%, no segundo trimestre de 2023. Já o índice de eficiência operacional, que mensura o custo para gerar receita, ficou em 48,2%, contra 46,5%, há um ano, e 46,1%, três meses antes.
Em base anual, a receita de prestação de serviços cresceu 2,9%, para R$ 9,1 bilhões, e as despesas operacionais avançaram 8,1%, para R$ 13,4 bilhões. Já margem com mercado somou R$ 23 milhões, contra uma margem negativa em R$ 1,24 bilhão, um ano atrás. A margem financeira, por sua vez, recuou 2,6%, para R$ 15,85 bilhões.
As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) ficaram em R$ 9,1 bilhões, alta anual de 26,4% e queda de 10,9% na comparação trimestral. A inadimplência de 15 a 90 dias foi de 4,1%, ante 3,6%, há um ano, e 4,4%, no segundo trimestre de 2023.
No trimestre, o banco registrou uma inadimplência acima de 90 dias de 6,1%, contra 3,9%, há 12 meses, e 5,9% três meses antes. Em pessoa física, na mesma base de comparação, o índice registrado foi de 6,6%, ante 5,1% e 6,7%, respectivamente.
Já em micro, pequenas e médias empresas, o patamar foi de 7,2%, ante 4,5%, há um ano, e 7%, no trimestre anterior. Nas grandes empresas, a inadimplência ficou em 0,6%, contra 0,1% e 0,7%, respectivamente.
Por volta das 11h10, as ações preferenciais do Bradesco estavam sendo negociadas a R$ 14,84, queda de 2,75%. No ano, os papéis acumulam uma queda de aproximadamente 2%. O banco está avaliado em R$ 148,7 bilhões.