Nos próximos dias, o Bradesco vai anunciar algumas medidas que devem chacoalhar o disputado mercado de investimentos e contas globais de brasileiros no exterior – um segmento estimado hoje na casa dos US$ 350 bilhões.

No fim de junho, o banco da Cidade de Deus vai aportar US$ 230 milhões no Bradesco Bank, o antigo BAC Florida, nos EUA, para aumentar o seu poder de fogo na plataforma Bradesco Invest US e passará a oferecer conta corrente e cartão de crédito nos EUA aos clientes Prime e Private.

Paralelo a isso, vai lançar uma conta global com cartão de débito mirando os clientes de varejo do banco. O nome dela? My Account. “Teremos uma entrega mais completa tanto na plataforma Bradesco Invest US e agora com a My Account”, diz Marcelo Noronha, vice-presidente do Bradesco, com exclusividade ao NeoFeed.

A My Account, que será lançada oficialmente em julho, é uma conta internacional digital, com processo de abertura no próprio app do Bradesco. Segundo os executivos do banco, levará apenas alguns cliques para a abertura da conta. E o cliente poderá, automaticamente, comprar dólar e depositar na My Account pelo câmbio comercial em tempo real.

“Será 24 horas nos sete dias da semana”, diz Roberto Medeiros, diretor internacional e câmbio do Bradesco. O cliente terá um cartão de débito internacional com a bandeira Visa que será aceito tanto para saque como para compra em mais de 200 países. “Será mais uma opção dentro do aplicativo”, diz Noronha.

Medeiros faz uma estimativa conservadora de atingir 100 mil clientes em cinco anos. Mas Noronha diz que pode chegar a 3 milhões de clientes com facilidade. Trata-se da maior ofensiva do banco para entrar com força no segmento que vem sendo povoado por concorrentes como Itaú Unibanco, que comprou a Avenue; Inter; XP; BTG; C6 e Nomad.

A My Account servirá, de certa forma, também como uma porta de entrada para o cliente que pretende investir no exterior via Bradesco Invest US, plataforma conectada ao Bradesco Bank e que também está recebendo uma atenção maior por parte da instituição financeira.

Marcelo Noronha, vice-presidente do Bradesco

Para clientes que queiram fazer investimentos e têm mais de US$ 10 mil, o banco criou a plataforma Invest US, nos Estados Unidos, em parceria com a BlackRock. “A gente já vem capturando o cliente Prime com essa plataforma. Agora, a gente está adicionando cartão de crédito e conta corrente no Bradesco Bank”, diz Guilherme Muller Leal, diretor executivo do Bradesco.

Hoje, o Bradesco Bank conta com 10 mil clientes brasileiros. Mas a expectativa com os novos passos é grande. Só no Prime, por exemplo, o banco tem 1,5 milhão de clientes. Destes, 50 mil têm acima de R$ 1 milhão investidos. Além disso, no varejo, com clientes Exclusive, há um universo de 300 mil clientes aptos a entrar.

“O Bradesco é o único com um banco completo nos Estados Unidos, oferecemos conta, cartão, financiamento imobiliário, empréstimos”, diz Noronha. A expectativa e as ambições são grandes. “Almejamos US$ 35 bilhões de recursos de brasileiros no exterior no médio prazo”, diz Leal. Atualmente o banco conta com cerca de US$ 10 bilhões.

“Esse dinheiro já está dentro do banco, queremos aumentar a principalidade e levar esse cliente também para investir no exterior”, afirma Leal. Só no mercado de private no Brasil, diz ele, o Bradesco tem um market share de 22% e R$ 430 bilhões sob custódia. Ou seja, uma boa parte desse montante pode migrar para o exterior.

Apesar da forte movimentação do banco de olho na internacionalização dos investimentos dos brasileiros, há quem enxergue uma demora na reação da instituição financeira. “O Bradesco está chegando atrasado, outros bancos se posicionaram antes”, diz um concorrente ao NeoFeed.

Indagado sobre isso, Noronha não se esquiva. “Talvez tenhamos demorado. Mas não estamos atrás de ninguém. Chegamos um pouco depois, mas chegamos chegando e estamos largando na pole com banco completo”, diz ele. “Aliás, somos o único banco full license nos Estados Unidos”, diz Leal. E avisa aos críticos sobre a fome do banco nesse mercado. “Se cuidem.”