Em fato relevante divulgado na última sexta-feira, 26 de agosto, a Usiminas informou ao mercado que seu board aprovou a realização de reparos emergenciais e definitivos da Coqueria 2 da usina da empresa em Ipatinga (MG), no valor de R$ 1,1 bilhão, montante que será aportado entre esse ano e 2026.

A empresa também aumentou, mais uma vez, as projeções de recursos destinados à reforma do seu alto forno 3, também em Ipatinga, marcada para 2023. Com um gasto adicional de R$ 633 milhões, a nova estimativa é de um dispêndio total de R$ 2,7 bilhões no projeto, ante uma previsão inicial de R$ 1,23 bilhão.

Mesmo com essas atualizações, a companhia manteve o guidance de investimentos em 2022 no patamar de R$ 2,05 bilhões. O que mudou, porém, foi a visão dos analistas do BTG Pactual, que rebaixaram a recomendação do papel de compra para neutro e cortaram o preço-alvo da ação, de R$ 16 para R$ 10, apontando uma perspectiva “nebulosa” para a operação.

“É inegável que nos sentimos um pouco estranhos em rebaixar uma ação que negocia a 2,9 vezes o Ebitda projetado para 2023 e concordamos que é um movimento tardio, pois o mercado já está em baixa com o nome”, escrevem os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner. E acrescentam. “No entanto, não conseguimos ver como a ação terá um desempenho superior nesse ambiente: falta de retornos relevantes para os acionistas, visibilidade operacional limitada, riscos macroeconômicos elevados, descontos nos preços no Brasil e deterioração do lucro”.

Ao frisar que a empresa vive um momento operacional delicado, a dupla do BTG Pactual destaca justamente a reforma do alto forno 3 de Ipatinga, prevista para abril do ano que vem, como um dos riscos à frente, observando que o processo deve gerar um impacto considerável nas margens da companhia, que terá que recorrer à compra de insumos de terceiros para manter suas entregas.

“A história sugere que essas paradas para manutenção podem impactar negativamente as margens Ebitda em 5 a 10 pontos percentuais”, afirmam os analistas. Eles ressaltam ainda que um processo desse porte acontece a cada 20 anos e que se trata de algo extremamente complexo e imprevisível, fazendo um paralelo com um movimento similar realizado pela CSN em 2019.

Na época, a CSN previa uma paralisação de 60 dias em seu principal forno, instalado em Volta Redonda (RJ). O processo acabou se estendendo por 120 dias, o que afetou as margens da empresa por alguns trimestres, diante da necessidade da companhia em ampliar a produção em outros fornos menos eficientes e também a compra de materiais com terceiros.

“Não estamos tentando projetar nada aqui para a Usiminas. Em vez disso, estamos apenas alertando os investidores de que isso pode ser outra fonte de risco de queda dos lucros da empresa nos próximos trimestres”, diz outro trecho do relatório.

Como outro agravante nesse contexto, o BTG Pactual entende que, em virtude desse cenário, da ampliação do Capex e da necessidade de capital de giro de curto prazo, haverá menos espaço para a distribuição de dividendos e recompras de ações, o que o banco vê como um fator negativo para uma eventual reclassificação do papel.

Sob esse panorama, os analistas projetam agora um Ebitda de R$ 5 bilhões, em 2022, e de R$ 4,3 bilhões, para a operação, o que representa em uma redução de 35% e de 20% em relação às estimativas de mercado para o indicador.

O BTG Pactual também coloca nesse caldeirão questões como a queda nos preços globais do aço e o aumento dos custos com matéria-prima no segundo semestre, com a estimativa de que as margens da unidade de siderurgia possam recuar para menos de 10% no período, bem abaixo das expectativas de mercado.

“No fim das contas, a Usiminas está atrás de todos os seus pares em termos de desempenho operacional”, observam os analistas. Eles reforçam ainda que a visibilidade sobre a operação nunca foi tão baixa, desde 2006, quando o banco iniciou a cobertura do papel.

“Em um ambiente onde todo o setor está barato, recomendamos aos investidores que construam posições na Gerdau no lugar da Usiminas, e esperamos que a diferença de desempenho entre as duas se amplie ainda mais”, complementam.

Por volta das 15h05, as ações da Usiminas estavam sendo negociadas com queda de 4,27% na B3, a R$ 8,30. No ano, os papéis da companhia, avaliada em R$ 10 bilhões, acumulam uma desvalorização superior a 45%.