Spin-off da Embraer, a Eve é a aposta da fabricante brasileira para ocupar seu assento no mercado ainda nascente dos “carros voadores”. E alcançou um marco importante ao concluir o voo inaugural, em escala real, do seu protótipo não tripulado em 19 de dezembro, em Gavião Peixoto (SP).
Em paralelo a esse avanço, outros nomes locais também estão se movimentando para que o Brasil se posicione e decole neste novo espaço aéreo. Esse é o caso da boutique de investimentos Arton Advisors e da Elyx, empresa de mobilidade aérea urbana.
A Elyx quer levantar R$ 100 milhões em uma captação estruturada pela Arton. O objetivo? Construir, implantar e operar vertiportos, as estruturas semelhantes a helipontos desenhadas para as aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOLs), como também são conhecidos esses carros voadores.
“O público em geral pode achar que esses veículos ainda estão distantes. Mas não estão”, afirma Julio Nakano, CEO da Elyx, ao NeoFeed. “Há aeronaves voando, vertiportos sendo construídos. A Eve já tem mais de 2,5 mil encomendas, com empresas sólidas. Então, não é mais algo futurista. Vai acontecer.”
Sócio-fundador da Arton, Manoel Fernandes lembra que a Eve tem as primeiras entregas para o início de 2027. “Então, vamos buscar um capital de longo prazo, paciente e que realmente acredita nessa transformação do modal e na infraestrutura imobiliária e tecnológica que está vindo por aí”, diz.
Outros números embalam a percepção de que os eVTOLs vieram para ficar. A consultoria Grand View Research, por exemplo, prevê que esse mercado registre um crescimento anual composto de 54,9% até 2030, quando deve movimentar US$ 28,6 bilhões.
De olho nessa escala, a Elyx foi criada neste ano pela IGE2A, holding de infraestrutura, mobilidade e energia, com participação em projetos como as linhas 2, 4 e 5 do metrô de São Paulo e a Rodovia dos Tamoios (SP), além de usinas solares e redes de carregamento de carros elétricos.
Os nomes por trás da nova companhia já estavam envolvidos com o tema dos eVTOLs, porém, há mais tempo. E, com a estruturação da empresa, entenderam que era hora de buscar um parceiro para captar recursos e colocar essa tese em execução.
A escolha recaiu sobre a Arton Advisors. Com cerca de R$ 10 bilhões sob gestão, a boutique foi fundada em 2022 por ex-executivos do Citi, J.P.Morgan, Credit Suisse e Itaú. E tem o BTG Pactual como sócio minoritário.
“Nossa tese é fugir do trivial e não nos restringir aos investimentos tradicionais”, diz Fernandes. “E quando surgiu a oportunidade de olharmos para esse novo mercado dos eVTOLs, o que chamou nossa atenção foi o background do time da Elyx.”
Com 100 profissionais – de engenheiros a geólogos, muitos deles oriundos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Elyx estimou a estrutura inicial para apoiar a maturação dos carros voadores no País. “Não somos uma startup no papel, no Excel. Já estamos com a mão na massa”, diz Nakano.
Primeiras conexões
Para começar a construir uma malha nesse modal, o plano é captar o volume de R$ 100 milhões em um prazo de 12 a 24 meses, datas que coincidem justamente com as previsões das primeiras entregas da Eve e da estreia dos voos comerciais com esses eVTOLs – no fim de 2027.
“Os dados mostram que o crescimento desse mercado será exponencial, mas é difícil acertar a data exata do início dessa escalada”, afirma Nakano. “O fato é que os nossos vertiportos precisam estar construídos e já certificados quando isso acontecer.”
Esses recursos iniciais serão aplicados na construção de 6 a 7 vertiportos, começando por São Paulo e região metropolitana. O mapa inclui ainda as praças do Rio de Janeiro e Brasília. No médio e longo prazo, a Elyx mira, inclusive, unidades em mercados como os Estados Unidos.
Embora não revele mais detalhes, Fernandes diz que a parceria já tem memorandos de entendimento (MOUs) assinados com players do mercado imobiliário paulistano para o início de implantação dos primeiros vertiportos desse pacote já no primeiro semestre de 2026.
Uma dessas negociações envolve, inclusive, conversas para que uma empresa adquira o naming rights de um dos vertiportos. A Arton Advisors e a Elyx não descartam estender esse modelo a outras unidades do portfólio.
Ao mesmo tempo, as duas empresas já participam de grupos junto a órgãos da prefeitura de São Paulo e em âmbito federal para discutir e acelerar a implementação de uma regulamentação específica para essas estruturas.
O investimento estimado em cada vertiporto é, em média, de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões. Esse valor pode variar, no entanto, de acordo com fatores como a localização, o tamanho da unidade e a possibilidade de converter um heliponto em uma estrutura desse porte.
A substituição dos helicópteros é justamente um dos fatores nos quais a parceria enxerga um roteiro para que os eVTOLs comecem a ganhar escala. E, sob essa ótica, a dupla entende que essas aeronaves podem oferecer uma alternativa mais barata – e de uso coletivo – a esse meio de transporte.
“É claro que daqui 20, 30 anos, é grande a chance de termos aeronaves mais compactas para uso particular”, diz Fernandes. “Mas estamos falando aqui do transporte de quatro, cinco, seis pessoas, transitando, no mínimo, de duas a três vezes entre pontos ao longo de uma hora.”
Obviamente, há uma longa distância a ser percorrida para que os carros voadores sejam um modal, de fato, acessível a boa parte dos usuários. Entretanto, Nakano traz um exemplo para ressaltar como esse modal, já na largada, pode ser um pouco mais “democrático” que os helicópteros.
“Hoje, se você pegar um helicóptero da Faria Lima até o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, vai pagar, em média, de R$ 2,5 mil a R$ 2,6 mil”, diz Nakano. “Pelas nossas estimativas, com o eVTOL, nesse mesmo percurso, o valor vai cair, já no início, pela metade.”