Foco no core business e consistência na disciplina financeira. Com o melhor resultado da margem Ebitda dos últimos 30 meses, a varejista Casas Bahia fechou o terceiro trimestre com GMV consolidado de R$ 10,5 bilhões, alta de 8,5% sobre o mesmo período do ano anterior. A receita líquida foi de R$ 6,9 bilhões, crescimento de 7,3% sobre a mesma base de 2024.

O destaque foi o crescimento de 12,7% nas vendas online da companhia, com R$ 4,2 bilhões de GMV, contra R$ 3,7 bilhões registrados no terceiro trimestre de 2024. O canal 1P (vendas diretas ao consumidor do estoque da companhia) teve elevação de 9,2% no trimestre, e o 3P (itens vendidos por sellers na plataforma online), 17,7%.

Na outra ponta, a empresa conseguiu reduzir em 3,2% as despesas gerais, administrativas e de vendas (SG&A) em relação ao ano anterior, com volume de R$ 1,5 bilhão no trimestre. O resultado foi obtido mesmo com a alta da receita líquida e com a inflação de 5,2% no período.

“É um trimestre que reforça a consistência da execução e traz avanços importantes. Com o momento desafiador do cenário macroeconômico e do próprio varejo, registrar crescimento por oito trimestres consecutivos mostra nossa disciplina”, diz Renato Franklin, CEO da Casas Bahia, em entrevista ao NeoFeed.

Outra linha que mostra a solidez financeira da companhia é o fluxo de caixa livre, que fechou o trimestre com R$ 488 milhões no trimestre, contra R$ 179 milhões do terceiro trimestre de 2024. O saldo de liquidez, incluindo recebíveis, totalizou R$ 3 bilhões. O prejuízo líquido foi de R$ 496 milhões, uma melhora de 10,6% sobre os R$ 555 milhões registrados no segundo trimestre.

No terceiro trimestre, a Casas Bahia também captou R$ 555 milhões em emissão do fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC), bem acima da oferta-base de R$ 300 milhões.

No operacional, o desempenho do canal eletrônico no terceiro trimestre desenha um cenário de crescimento ainda mais acentuado para o digital da Casas Bahia no último trimestre do ano, principalmente após o anúncio da parceria com o Mercado Livre, no início de novembro.

“Ela expande a presença digital da companhia, fortalece uma de nossas principais vantagens competitivas, que é a escala na compra e venda de eletrodomésticos, tecnologia e móveis, e dá um selo de qualidade para a nossa infraestrutura logística”, afirma Franklin.

“É um negócio bastante relevante e vai contribuir para a alavancagem operacional da companhia”, completa o executivo. “Isso nos vai ajudar a crescer ainda mais.”

Nos primeiros dias da parceria, o resultado de vendas tem sido positivo. E não afetou qualquer volume de tráfego no canal digital da própria Casas Bahia. “As pessoas comprando televisão e geladeira no site da Casas Bahia. E há um público novo para a empresa no Mercado Livre”, afirma o CEO.

Em alguns momentos neste período, a Casas Bahia já chegou a ser o maior seller da plataforma, figurando também em segundo em outras ocasiões. No Mercado Livre, já há mais 2 mil SKUs (itens) vendidos pela Casas Bahia. Em um dia, são mais de mil vendas.

Ainda que a companhia não divulgue guidance sobre o resultado financeiro da parceria com o Mercado Livre, o mercado estima que a varejista possa capturar pelo menos 10% de um mercado endereçável de R$ 37 bilhões de marketplace de eletrodomésticos, tecnologia e móveis no País.

Com um crescimento menor, mas ainda importante, as lojas físicas da varejista devem ter um desempenho mais acentuado a partir do início do ciclo de queda da taxa de juros, hoje ainda em 15% ao ano. No terceiro trimestre, as unidades físicas registraram GMV de R$ 6,2 bilhões, alta de 5,9% sobre 2024.

Para Franklin, a concentração em produtos em que a Casas Bahia é referência de mercado, como linha branca, itens de tecnologia e móveis, contribuiu para o resultado de crescimento em todos os canais.

“A gente cortou itens de alta recorrência, com ticket médio baixo. A gente não tem mais fralda, bebidas, produtos de limpeza. E a empresa cresce bastante. E quando eu olho para o quarto trimestre, aumenta minha convicção de que vamos fazer uma entrega parecida”, afirma.

A carteira de crediário atingiu R$ 6,2 bilhões, com aumento de 7% na receita de soluções financeiras da companhia. Essa modalidade de pagamento alcançou 27% de participação nas vendas das lojas físicas. Mas poderia ter sido ainda maior, não fosse o rigor da companhia relacionado ao cenário macro da economia no Brasil.

“O crediário, naturalmente, pelo rigor da nossa concessão, mas ele cresce um pouco a penetração no digital, que vai seguir subindo no próximo trimestre. Na carteira, ela cresceu R$ 500 milhões sobre o ano passado. O nosso desafio era manter essa carteira alta”, explica.

Com esse tom mais conservador na concessão de crédito, a companhia conseguiu manter a taxa de inadimplência over 90 (dívidas com mais de 90 dias) em 8,4%, a exemplo do trimestre anterior. O índice é bem menor do que o registrado pelo mercado em cheque especial (14,7%) e cartão parcelado (13,25%), segundo o Banco Central (BC).

“Dessa forma, a gente entende que as vendas via Mercado Livre e a Black Friday vão influenciar de forma bastante positiva no quarto trimestre”, diz Franklin.

No acumulado de 2025, as ações da Casas Bahia na B3 registram alta de 26,7%. A companhia está avaliada em R$ 2,3 bilhões.