A decisão e forma com que Sergio Rial decidiu revelar a questão das “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões na Americanas motivou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abrir um processo sancionador contra o executivo, que ficou apenas nove dias no cargo de CEO da varejista.

Além de Rial, a autarquia entrou também com um processo sancionador contra o ex-diretor de relações com investidores da companhia, João Guerra Duarte Neto, por conta do episódio. Ambos foram citados na sexta-feira, dia 2 de junho.

Segundo informações disponibilizadas no sistema da CVM, o processo envolve infrações ao artigo da Lei das S.A. que trata do sigilo sobre informações relevantes que não foram divulgadas.

O processo trata ainda de descumprimentos de resoluções da CVM a respeito da forma como notícias importantes a respeito das companhias, que possam influenciar nas decisões de investidores, precisam ser feitas ao mercado.

Rial e executivos da Americanas foram criticados pela forma como comunicaram ao mercado a questão do rombo de R$ 20 bilhões. O fato relevante divulgado em 11 de janeiro, que trata do tema e informa a decisão de Rial de deixar a companhia, não foi bem entendido pelos investidores.

Na ocasião, a companhia informou que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores em anos anteriores, incluindo 2022, situação que foi apenas entendida posteriormente como uma questão envolvendo risco sacado.

Outra crítica que investidores e especialistas em governança corporativa fizeram foi o fato de Rial ter participado, no dia seguinte ao anúncio, de uma teleconferência na sede do BTG Pactual, em São Paulo, restrita a um pequeno grupo de investidores e analistas, algo visto como pouco transparente.

Procurado pelo NeoFeed, a assessoria de Rial informou que ele não comentaria o assunto. A reportagem não conseguiu entrar em contato com Guerra para pedir um posicionamento.

Em nota, a Americanas informou que acompanha o processo e que espera que os motivos que a levaram à recuperação judicial “sejam devidamente esclarecidos, com a evolução das apurações sobre o mérito do ocorrido e seus responsáveis”.

A empresa divulgou ainda que segue colaborando para que as “autoridades competentes” e o comitê independente possam averiguar o caso e “deem provimento ao que gerou as inconsistências contábeis”.

Rial ficou na linha de frente do caso no começo da crise, ao se colocar como assessor dos acionistas de referência da Americanas, o trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Mas o caso desgastou a sua imagem. Ele se renunciou ao cargo de presidente do conselho de administração do Santander Brasil em 20 de janeiro.

Muitos criticaram também o fato de Rial ter supostamente assessorado o trio de acionistas de referência da Americanas, ao mesmo tempo em que estava na presidência do conselho de administração do Santander, um dos principais credores da Americanas, com R$ 3,6 bilhões a receber.