Em suas cartas anuais dirigidas a acionistas, Jamie Dimon, CEO do JP Morgan Chase & Co. desde dezembro de 2005, costuma aliar os comentários sobre o desempenho e as prioridades do banco a questões mais amplas, que afetam os Estados Unidos e as operações da companhia ao redor do mundo.
Neste ano, a crise do coronavírus foi o tema central da carta publicada nesta segunda-feira, 6 de abril, pelo executivo de 63 anos. No documento, Dimon fala das medidas adotadas pelo JP Morgan e sobre como o banco está preparado. E, ao mesmo tempo, faz um alerta aos acionistas.
“Não sabemos exatamente o que o futuro nos reserva”, afirma o executivo. “Mas, no mínimo, presumimos que ele incluirá uma péssima recessão, combinada com algum tipo de estresse financeiro, semelhante à crise financeira global de 2008.”
No texto, Dimon ressalta que o cenário extremamente adverso sinaliza uma retração ainda mais profunda do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, “que pode cair até 35% no segundo trimestre e durar até o fim do ano”.
O executivo chama a atenção para a taxa de desemprego no país, que pode chegar a 14% no quarto trimestre. Nesse caso, diz Dimon, seria prudente o Conselho de Administração do banco considerar a suspensão do pagamento de dividendos. Se ocorrer, será a primeira vez na história do JP Morgan.
Segundo Dimon, mesmo com a confirmação desse cenário, o banco ainda encerraria o ano com forte liquidez. “Temos mais de US$ 500 bilhões em ativos líquidos totais e uma capacidade de empréstimo adicional de US$ 300 bilhões”, observa. “É claro que poderíamos preservar nosso capital e liquidez restringindo nossas atividades. Mas não pretendemos fazer isso. Nossos clientes precisam de nós.”
“Temos mais de US$ 500 bilhões em ativos líquidos totais e uma capacidade de empréstimo adicional de US$ 300 bilhões”
O executivo elogia as medidas recentes do departamento do Tesouro do Estados Unidos e do Federal Reserve. Mas diz que ainda é possível ir além e sugere algumas ações nessa direção, como o anúncio de mecanismos que facilitem os empréstimos, como forma de injetar mais recursos na economia.
Ele frisa, no entanto, que o JP Morgan não solicitou e não pretende pedir qualquer alívio regulatório ao governo americano. “Mas isso não significa que o governo não deva alterar algumas regras”, escreveu, citando, por exemplo, aquelas que impedem bancos saudáveis e bem capitalizados de emprestarem livremente em tempos de estresse na economia. “Isso pode prejudicar os clientes à medida que a crise se aprofunda”, afirma.
O executivo destaca ainda que deixar a liquidez disponível e de alta qualidade sem uso em momentos de necessidade é uma oportunidade perdida para sempre. “Embora muitas regras tenham sido construtivas e tenham tornado o sistema financeiro mais forte, agora estamos vendo o impacto de uma regulamentação mal coordenada, mal calibrada e mal organizada.”
Embora ressalte o poderio econômico, militar e outras fortalezas americanas, Dimon afirma que os Estados Unidos não estavam preparados para enfrentar o Covid-19. Segundo o executivo, a pandemia é apenas um exemplo dá má gestão e planejamento no país. Para reforçar essa visão, ele cita, por exemplo, o sistema de saúde cada vez mais caro, que impede o acesso de boa parte dos cidadãos.
“Minha esperança é que a América arregace as mangas e comece a atacar esses problemas”, observa, citando questões como desigualdade de renda. “Consertá-los nos prepararia melhor para futuras catástrofes.”
Operação
Na carta, o executivo também traz detalhes sobre as medidas adotadas pelo JP Morgan. Dos cerca de 200 mil funcionários do banco, 180 mil estão trabalhando no modelo de home office. Nas últimas semanas, a empresa promoveu aproximadamente 150 mil reuniões virtuais simultâneas, quase cinco vezes do que a média antes da crise. E manteve 75% de sua base de mais de 5 mil agências abertas.
Dimon também revela algumas políticas e iniciativas ofertadas aos clientes do banco, em função da crise. Em pessoa física, o pacote inclui recursos como carência de 90 dias para o pagamento de hipotecas, empréstimos e leasing de automóveis.
Para empresas, o executivo ressalta o plano de seguir concedendo, “prudentemente”, crédito a companhias de todos os portes. E cita alguns números para referendar essa afirmação. Nos últimos 60 dias, o banco concedeu US$ 950 milhões em novos empréstimos a pequenas empresas. E aprovou mais de US$ 25 bilhões em novas extensões de crédito apenas no mês de março.
Em março, o JP Morgan aprovou mais de US$ 25 bilhões em novas extensões de crédito
Ele também destacou o volume de empréstimos a setores vitais para a economia, realizado no último mês: US$ 1,9 bilhão para hospitais e companhias de saúde; US$ 270 milhões para o setor de educação; US$ 360 milhões para organizações sem fins lucrativos; e US$ 240 milhões para governos estaduais e locais.
Entre outras iniciativas, o JP Morgan assumiu um compromisso de destinar US$ 50 milhões para frentes como o financiamento a projetos focados em comunidades vulneráveis e a assistência a pequenas empresas em dificuldades econômicas nos Estados Unidos, China e Europa.
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