Controlada pela Petrobras e pela Novonor (ex-Odebrecht) e em meio a uma expressiva crise financeira, a companhia petroquímica Braskem tem assistido à queda na avaliação de seu desempenho. Em relatório, o Citi rebaixou a recomendação de ação da empresa, que antes era de compra para neutra. Os analistas mantiveram o "alto risco" para o papel.

A perspectiva dos especialistas é para queda no resultado do terceiro trimestre deste ano, que será divulgado pela empresa no dia 10 de novembro.

“Esperamos que a Braskem apresente um Ebitda baixo, principalmente devido à dinâmica competitiva desafiadora e aos spreads enfrentados pela empresa”, diz o documento do banco, divulgado na sexta-feira, 10 de outubro.

Segundo Gabriel Barra, Pedro Gama e Andrés Cardona, a previsão é de que a petroquímica registre receita líquida de US$ 3,1 bilhões no período, o que representaria uma queda de 18% sobre a mesma base do ano anterior. O Ebitda ajustado deve ficar em US$ 99 milhões, o que representará uma queda de 77%. O banco também prevê um prejuízo líquido de US$ 61 milhões.

Com isso, o Citi passou a considerar um preço-alvo para 12 meses de R$ 8 por ação, contra uma avaliação anterior de R$ 11. Por volta de 12h30 de sexta, 10, os papéis BRKM3 operavam em queda de 1,86% na B3, sendo negociados a R$ 7,40.

“Dessa forma, rebaixamos a recomendação da ação, fundamentada em uma avaliação deprimida e incertezas relacionadas à estrutura de capital da companhia (como potencial aumento de capital, corte de dívida ou reorganização extrajudicial)”, afirmam os especialistas.

Outro ponto apontado pelo banco e que reforça a tendência de piora no balanço da companhia está no anúncio recente da empresa da necessidade de utilização de US$ 1 bilhão de sua linha de crédito stand-by. “Em nossa visão, expõe o cenário desafiador no qual a empresa se encontra atualmente, além de refletir o conservadorismo da sua gestão.”

Os títulos da empresa, emitidos em 2020 em Nova York, também vêm se tornando um grave problema para a gestão, por causa da enorme desvalorização. A maioria desses bonds, que somam valor nominal de US$ 9 bilhões, hoje é negociada a menos de US$ 0,45, o que representa uma desvalorização de mais de 80%.

A base da análise para a nova classificação do Citi, ainda segundo o relatório, também tem relação com as condições do mercado global petroquímico e com a falta de perspectivas de melhora no ciclo de spreads para o setor.

Mas, para os analistas, uma boa perspectiva de retomada pode surgir a partir da aprovação do projeto de lei, em tramitação na Câmara dos Deputados, que cria o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), que garantiria incentivos fiscais para promover a expansão do setor no País.

“Destacamos o programa Presiq e futuras políticas de defesa comercial como potenciais fatores de valorização, que podem beneficiar as operações e margens da Braskem no Brasil”, informa o relatório.

Em meio à crise, a Braskem também enfrenta o desafio de governança, a partir da necessidade de venda da participação da Novonor na companhia, por causa do envolvimento da empresa, hoje em recuperação judicial, na Operação Lava Jato.

Recentemente, a companhia afirmou, em resposta a questionamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que não tinha conhecimento sobre uma potencial tomada de controle da companhia por bancos credores da Novonor.

Atualmente, a empreiteira tem 38,3% do capital da Braskem. Do total, a Petrobras responde por 36,1%, enquanto outros 25,5% são de acionistas minoritários. Do capital votante, a Novonor tem 50,1%, enquanto a estatal petrolífera conta com 36,1%.

No início de outubro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) autorizou a venda da fatia da Novonor ao fundo Petroquímica Verde, ligado ao empresário Nelson Tanure. Em maio, a petroquímica recebeu a proposta do fundo, cujo prazo de exclusividade venceu em agosto. A partir daí, os bancos credores passaram a negociar diretamente as ações da empresa.

No segundo trimestre, a empresa registrou leve melhora no resultado, mas ainda acumula um prejuízo milionário. A receita no período foi de R$ 17,86 bilhões, contra R$ 19,07 bilhões do segundo trimestre de 2024. O prejuízo, entre abril e junho, foi de R$ 267 milhões, queda de 93% sobre a mesma base do ano anterior.

No acumulado de 2025, as ações da Braskem acumulam queda de 40,4%. Nos últimos 12 meses, a desvalorização alcança 59,5%. A empresa está avaliada em R$ 5,4 bilhões.