José Seripieri Junior, conhecido como Junior, é um empresário que fez história no setor de saúde ao criar a Qualicorp, a empresa que praticamente inventou os planos coletivos por adesão.

Por esse motivo, ao lado da forma como ele ficou conhecido, muitos se referem ao empresário como o Junior da Qualicorp, onde fez fortuna, levando a companhia ao IPO e depois deixando-a para tentar alçar voos próprios.

E a trajetória de Junior, fora da Qualicorp, mostra o quão difícil tem sido a vida das empresas do setor de saúde – a própria Qualicorp, que já chegou a valer mais de R$ 11 bilhões, está avaliada hoje em menos de R$ 1 bilhão.

Com a QSaúde, que ele comprou da própria Qualicorp, em 2020, o plano de Junior era criar uma operadora de saúde com uma rede credenciada terceirizada, um protocolo único e que focasse no atendimento primário.

Três anos depois, a QSaúde nunca decolou e foi comprada pela Alice. Tinha apenas 16 mil clientes, mostrando as dificuldades de escalar nessa área em que os custos são galopantes tanto para os clientes que compram os planos de saúde, como para as empresas da área.

Com a compra da Amil, um negócio em que vai pagar R$ 2 bilhões e vai herdar um passivo estimado em, aproximadamente, R$ 10 bilhões, Junior não sai do zero em sua nova aventura pelos planos de saúde.

Ele terá em suas mãos um mamute. E não poderia haver animal mais adequado para representar a Amil, que era um ativo da americana UnitedHealth, comprado em 2010 por US$ 4,9 bilhões o equivalente a R$ 10 bilhões na época, de Edson de Godoy Bueno, morto em 2017.

O mamute era um animal muito grande e pesado, assim como a Amil, que conta com 5 milhões de usuários e uma rede com 31 hospitais e 28 clínicas médicas. Mas, nos nove primeiros meses de 2023, apurou um prejuízo operacional de R$ 2,6 bilhões, uma piora de 8% sobre o mesmo período de 2022. E isso tem se repetido ao longo dos últimos anos.

Isso sem contar as contingências que Junior vai herdar, estimadas em R$ 10 bilhões – cerca de 60% delas relacionadas a ativos fiscais. Outro problema são os planos individuais, uma carteira deficitária que a própria UnitedHealth tentou se livrar, mas foi proibida de venda pela ANS.

E os problemas da Amil não são exclusivamente dela. Em 2022, as empresas da área da saúde tiveram um prejuízo operacional de R$ 12 bilhões. No primeiro semestre deste ano, o resultado operacional seguiu negativo em R$ 4,3 bilhões.

Junior levou a Amil pois aceitou comprar a empresa de “porteira fechada”, aprovando as contingências passadas e futuras. Teve a concorrência da Bain Capital; da Dasa, da família Bueno, antiga dona do ativo; e do empresário Nelson Tanure.

Junior, um empresário que saiu do zero, foi corretor de planos de saúde da Golden Cross e já teve seus altos e baixos, fez da Qualicorp uma companhia bilionária, mas já foi preso pela Lava-Jato, onde confessou crimes e fez uma delação premiada que previa um pagamento de R$ 230 milhões.

Com a QSaúde, tentou voltar ao jogo, mas não conseguiu. Próximo do presidente Lula, dizia a interlocutores que estava aposentado, enquanto se movia para comprar a Amil.

Agora, à frente da operadora de saúde, sua nova aventura, tudo indica que a missão para recuperar a empresa não será fácil.