Em maio deste ano, a Mosaico, dona do sites de comparação de preços Buscapé, Zoom e Bondfaro, lançou sua plataforma de cashback em parceria com o BTG Pactual.

Nessa segunda-feira, 12 de julho, a companhia que abriu o capital em fevereiro e captou R$ 1,25 bilhão em uma oferta primária e secundária, dá mais um passo para intensificar sua competição com a Méliuz.

O Buscapé está lançando uma plataforma de cupons de descontos e promoções com centenas de varejistas integrados ao ecossistema da companhia. O que parece ser um simples movimento traduz, de fato, uma estratégia mais agressiva para concentrar a navegação, o tempo e os cliques dos usuários.

“Vamos ter uma atuação mais forte em toda a jornada de compra”, afirma Thiago Flores, CEO da Mosaico, ao NeoFeed. “O consumidor vai poder tomar toda a decisão de compra dentro do nosso ecossistema, sem precisar acessar outro site para ter informação sobre cupons.”

Um dos pontos de partida para o desenvolvimento da plataforma foi uma pesquisa realizada na última edição da Black Friday, em parceria com o Instituto de Pesquisa Ilumeo. No levantamento, 85% dos consumidores destacaram os cupons como um fator de peso na decisão de compra.

“O que estamos atendendo é esse consumidor bastante sensível aos descontos”, diz Guilherme Pacheco, cofundador e presidente do Conselho de Administração da Mosaico. “É o usuário que busca primeiro uma promoção e depois escolhe o produto. Isso amplia muito nosso mercado endereçável.”

Quem navegava pelos sites da Mosaico já tinha acesso a essas ofertas, mas de maneira dispersa. A nova plataforma, por sua vez, nasce com mais de mil cupons de desconto, em um único ambiente, e promoções de mais de 100 parceiros como Lojas Americanas, Centauro, Brastemp, Netshoes, Droga Raia e Cobasi,

A ferramenta permite que o usuário busque cupons por meio de diferentes filtros. Seja por categoria de produto, loja, ofertas mais recentes, descontos mais agressivos e recentes ou por aquelas cujos prazos estão próximos de expirar. “Como temos mais de 500 lojas integradas à nossa operação, estamos bem confortáveis em escalar essa oferta”, diz Flores.

Guilherme Pacheco, cofundador e presidente do Conselho de Administração da Mosaico

A plataforma também terá integração à extensão para o navegador Chrome, do Google, lançada recentemente pelo Buscapé, como resultado da aquisição, em maio, da startup Vigia de Preços.

O próximo passo é associar os cupons à plataforma de cashback, lançada também em maio, no site da Zoom, em uma parceria com o BTG Pactual. O banco viabiliza a carteira digital para que os usuários recebam esse benefício que, ainda nesse mês, será estendido ao Buscapé.

Caminhos cruzados

A entrada em cashback e a associação com o BTG Pactual faz com que, cada vez mais, os caminhos da Mosaico e da Méliuz se cruzem na disputa pela recorrência dos consumidores e pelas receitas dos leads gerados aos parceiros de comércio eletrônico.

A Méliuz, que nasceu no mundo do cashback e dos cupons de desconto, também tem ampliado seu mercado. A oferta de produtos e serviços financeiros é uma dessas vias, com destaques para frentes como o seu cartão de crédito, em parceria com o Banco Pan, que conta com uma base de 4,5 milhões de usuários.

Nessa toada, a Méliuz também está investindo em aquisições. Foram quatro desde o seu IPO. O pacote inclui ativos como o Acesso Bank e a Melhor Plano, que compara preços, mas de serviços como planos de telefonia e internet.

“Pode haver alguma intersecção, mas os modelos de negócio são bem diferentes”, diz Flores, referindo-se à Méliuz. “Estamos em toda a jornada de compra, com conteúdo, reviews e assistência de especialistas, histórico de preços. Nossa plataforma é mais abrangente.”

Alguns números expressam o arsenal da Mosaico. Hoje, as marcas da empresa reúnem 75 milhões de ofertas, em mais de 1,4 mil categorias de produtos.

No primeiro trimestre de 2021, a média mensal de visitantes únicos dos sites do grupo cresceu 20%, para 26 milhões. E suas plataformas geraram um GMV de R$ 1,01 bilhão, um salto de 28,7%. No período, foram criadas mais de 1 milhão de contas nesse ecossistema.

A Mosaico já tem mais novidades para o segundo semestre. Uma das áreas é justamente a de produtos e serviços financeiros. Ainda em definição, o pacote pode passar por opções como cartão de crédito e seguros para produtos como smartphones.

“Temos muitas alternativas olhando para o portfólio do BTG”, diz Flores. “E como esse leque já está integrado com a nossa plataforma, fica muito fácil começar a oferecer esses produtos.”

No primeiro trimestre de 2021, a média mensal de visitantes únicos dos sites da Mosaico cresceu 20%, para 26 milhões

Outro lançamento envolverá a Discovery, plataforma no conceito de “window shopping”. Como o próprio nome diz, o objetivo é oferecer uma navegação de descoberta, com lançamentos, produtos que são tendências ou que estão com os preços em queda.

“Também temos uma agenda forte de aquisições”, ressalta Flores. “Estamos olhando os ativos que tornem a presença nessa jornada de compra do consumidor mais completa.”

Enquanto trabalha nessas frentes, a Mosaico também tem de lidar com a nova realidade de companhia aberta. No primeiro dia de negociação, suas ações dispararam 97% e a empresa viu sua avaliação saltar de R$ 2,5 bilhões para quase R$ 5 bilhões.

Cinco meses depois, no entanto, os papéis acumulam uma queda próxima de 10,4% sobre o preço fixado no IPO, de R$ 19,80, e o grupo está avaliado em R$ 2,24 bilhões. Responsável pelo diálogo direto com o mercado de capitais, Pacheco entende que há um processo natural de ajuste nessa conversa.

“Há mais familiaridade com outras classes de ativos e um pouco do nosso papel é ser didático nessas interações”, afirma. “Estamos desenvolvendo muitas iniciativas e, à medida que elas forem sendo lançadas, o mercado vai entender a dimensão do nosso projeto e da nossa ambição.”

Essa foi a linha adotada na avaliação recente de analistas. Em relatório, a XP destacou o resultado abaixo das estimativas da Mosaico no primeiro trimestre. Mas trouxe uma visão otimista para a empresa e um preço-alvo para sua ação de R$ 38 no fim de 2021, mais do que o dobro da cotação atual.

“Nós mantemos nossa visão positiva para frente dado o forte pipeline de inovação da companhia, com o lançamento das plataformas de cashback, cupons e descoberta, serviços financeiros e a integração da aquisição do Vigia de Preço”, escreveram os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday.

Um relatório do BTG Pactual também apresentou uma visão semelhante, ao apontar que o balanço do primeiro trimestre não foi “excelente”, mas que as novidades citadas pelos analistas da XP, aliadas a outros fatores, abrem uma perspectiva favorável para o ativo.

Entre os pontos adicionais que sustentam essa visão dos analistas Luiz Guanais, Gabriel Savi e Victor Rogatis, estão a exposição ao crescimento do comércio eletrônico e o crescimento exponencial no número de ofertas da plataforma.