A Lojas Americanas e a B2W, dona das marcas Submarino, Americanas.com e Shoptime, anunciaram que criaram um comitê independente para estudar uma “potencial combinação operacional de seus negócios” na noite de sexta-feira, 19 de fevereiro.

Era um movimento esperado pelo mercado. As duas empresas têm os mesmos controladores – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, os sócios do 3G Capital – e ensaiavam esse movimento de integração há tempos.

A pergunta que muitos se fazem, neste momento, é se não é tarde demais? Os rivais já atuam de forma integrada e colhem os frutos dessa estratégia. É o caso do Magazine Luiza, liderado por Frederico Trajano, que desde os anos 2000 trabalha de forma conjunta as operações online e offline.

Hoje, a rede varejista da família Trajano vale R$ 161 bilhões. A B2W e a Lojas Americanas, somadas, têm uma capitalização de R$ 91,2 bilhões. Não há dúvida de que unidas as duas operações podem captar mais valor.

A decisão dos controladores das duas companhias chega depois de uma queima de caixa que já dura 10 anos, além das sucessivas capitalizações para resgatar a B2W.

O último balanço azul da B2W aconteceu no longínquo ano de 2010. Desde então, a dona das marcas Submarino e Americanas.com acumula prejuízos ano após ano. De 2011 até os nove primeiros meses de 2020, são mais de R$ 3 bilhões de perdas.

Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles também socorreram diversas vezes o seu braço digital. São mais de R$ 12 bilhões em capitalizações na B2W – a última delas em julho do ano passado, quando injetaram mais de R$ 4 bilhões na companhia.

É verdade que, nos últimos dois anos, B2W e Lojas Americanas ensaiaram trabalhar de forma mais integrada debaixo da bandeira Universo Americanas. Em 2018, foi criada a Ame, a fintech que atende as duas empresas do grupo, e a Let´s, braço de logística que passou a atuar de forma combinada.

Hoje, a Let´s administra 22 centros de distribuição, mais de 200 hubs urbanos e conta com mais de 5 mil lojas que funcionam como minihubs de distribuição. São, no total, mais de 1 mil cidades atendidas, que podem atingir todos os municípios brasileiros.

As operações O2O (online to offline) foram também intensificadas a partir de 2019, com a possibilidade de comprar online em qualquer marca do grupo e retirar os produtos nas mais de 1.700 lojas físicas da Lojas Americanas.

A Ame já obteve mais de 15 milhões de downloads e está reforçando parcerias com estabelecimentos físicos – já são mais de 3 milhões deles que aceitam o aplicativo e não apenas a Lojas Americanas.

Apesar de toda a lição de casa feita por B2W e Lojas Americanas, os seus concorrentes ainda estão na frente nessa disputa. No terceiro trimestre de 2020, a dona do Submarino cresceu mais devagar que Magazine Luiza e Mercado Livre. Pior: perdeu a vice-liderança no comércio eletrônico para o Magazine Luiza.

A conclusão é que todo o esforço feito a partir de 2018 não foi, claro, inútil. Mas que para fazer frente aos rivais é preciso ter uma estrutura única e unificada, com todas as pessoas, do mais simples funcionário ao conselho de administração, remando de forma conjunta e na mesma direção.

Não está claro quais serão os próximos passos. Muito menos quando a união deve acontecer. Um comitê independente foi criado e vai dar seu parecer sobre a fusão. Um desenho possível é a B2W incorporar a Lojas Americanas e se aproveitar de créditos fiscais por conta de seus prejuízos bilionários.

Não há dúvida de que a união de B2W e Lojas Americanas será o melhor caminho a seguir. Como diz um antigo ditado popular: antes tarde do que nunca.