A captação dos Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) voltou a ganhar força em junho, com a entrada de R$ 22,45 bilhões, segundo dados da Anbima. A classe foi a que mais captou no mês e também no acumulado de 12 meses, alcançando saldo de R$ 120,5 bilhões — cerca de R$ 1 bilhão acima dos fundos de renda fixa.

O movimento de junho marcou o maior fluxo mensal para os FIDCs em oito meses, apesar de toda a discussão sobre a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas captações.

Nesse vai-e-vem tributário, alguns fundos chegaram a fechar para captação, enquanto investidores preferiram evitar o segmento até que houvesse uma definição, como mostrou o NeoFeed. Uma decisão do STF suspendeu a cobrança do IOF, mas o governo ainda tenta reverter o quadro.

“Houve um movimento de administradores e distribuidores fechando fundos por alguns dias para adaptar sistemas e garantir a cobrança correta do IOF, sem correr risco operacional”, diz Katherine Olga Kardos, head de gestão da Tivio.

Apesar do avanço expressivo, até maio a classe acumulava no ano saldo negativo de R$ 1,68 bilhão, segundo a Anbima. João Baptista Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto, diz que essas saídas fazem parte da dinâmica natural do mercado e não indicam perda de tração.

“Existem FIDCs enormes e qualquer movimentação neles tem impacto relevante na indústria. Há, por exemplo, um FIDC de R$ 70 bilhões da Petrobras. Podem sacar R$ 3 bilhões da noite para o dia, mas isso não significa que deixaram de crescer. É preciso olhar a tendência em 12 meses, 24 meses”, afirma ele.

Em junho, um único FIDC foi responsável pela entrada de R$ 15 bilhões, puxando para cima o total da classe, segundo a Anbima — que não revelou o nome do fundo. Já os FIDCs dos tipos Fomento Mercantil, Financeiro e Agro, Indústria e Comércio tiveram captações de R$ 1,4 bilhão, R$ 1,7 bilhão e R$ 3,6 bilhões, respectivamente.

“Alguém me falou desses dados dias atrás, mas o feeling que eu tinha era de um mercado inundado de liquidez desde o começo do ano”, comentou um gestor de FIDC. Outro gestor reforçou que a demanda segue “muito forte” há mais de um ano: “Não tivemos captação negativa”.

Alfredo Marrucho, sócio da Uqbar — diretório especializado em CRA, CRI, FIDC e FIIs — também contesta o baixo volume de captação apontado pela Anbima no início do ano. “Apesar desses dados, temos visto uma tendência positiva nos FIDCs desde janeiro.”

Segundo cálculos da Uqbar, com base em dados da CVM, os FIDCs tiveram captação de R$ 30 bilhões entre janeiro e abril. “Nossa metodologia indica esse movimento positivo”, afirma Marrucho, que vê espaço para o crescimento continuar nos próximos meses, mesmo em caso de tributação.

“Com a Selic alta, cresce a demanda por crédito privado. Há uma tendência nos mercados desenvolvidos de securitização do crédito, e o Brasil está seguindo nessa direção", complementa.

Renda fixa x variável

Depois dos FIDCs, os fundos de renda fixa lideraram as captações em junho, com entrada de R$ 9,47 bilhões. No primeiro semestre, foi a classe que mais recebeu recursos, com saldo líquido de R$ 59,42 bilhões.

Ainda assim, nem toda essa força da renda fixa tem sido suficiente para sustentar a indústria de fundos, teve saída líquida de R$ 37,75 bilhões no semestre.

O resgate foi puxado pelos fundos multimercados e de ações, que registraram retiradas de R$ 78,9 bilhões e R$ 43,6 bilhões, respectivamente.