O crédito ao trabalhador é a modalidade de empréstimo à pessoa física que mais cresce no País. Com pouco menos de três meses desde seu lançamento, a categoria já movimentou R$ 15 bilhões. Perspectivas do Ministério do Trabalho e da Febraban indicam que esse montante chegará a R$ 120 bilhões nos próximos meses.
De olho nessa demanda potencial, a Angá Asset está entrando nesse mercado com um FIDC de R$ 750 milhões focado no consignado privado. Com cerca de R$ 250 milhões já captados, a expectativa é que a oferta seja concluída nos próximos dias junto a investidores profissionais, como fundos de crédito e family offices.
“Nenhum banco tem um balanço tão robusto para suportar o volume de originação que o governo espera. Naturalmente, o candidato número 1 para apoiar isso é o mercado de capitais. Estamos diante de uma onda gigante de oportunidades”, diz Frederico de Souza Lima, sócio-fundador da Angá Asset.
Operacionalizado por um sistema público 100% digital, o novo consignado privado permite que o trabalhador simule, compare propostas e contrate diretamente pelo app da Carteira de Trabalho Digital ou pelo banco. O modelo antigo era restrito a quem trabalhava em empresas conveniadas e não oferecia garantia automática em casos de demissão ou troca de emprego.
“O produto trouxe uma inovação muito importante: se o cliente tomar um empréstimo hoje numa instituição financeira e amanhã mudar de emprego, o novo empregador continuará realizando o desconto em folha. Isso reduz significativamente o risco”, diz Lima.

Embora o novo desenho reduza riscos na concessão de crédito, o modelo ainda é mais arriscado que o consignado público, onde há maior estabilidade de carreira. Samy Osmo Junior, sócio da Angá, explica que isso se traduz em maior rentabilidade. O retorno esperado das cotas sênior, mais protegidas em caso de calote, é de CDI + 3%.
“O prêmio é 100% maior que o de um FIDC de consignado público, que gira próximo de CDI + 1,5%”, afirma ele.
A estrutura do fundo tem a Angá como gestora e responsável pela estruturação, enquanto o Daycoval atua como administrador, coordenador líder e custodiante. A originação será feita pela meutudo, fintech especializada em crédito consignado.
Tanto o Daycoval como a Angá mantêm um relacionamento de longa data com a meutudo, tendo participado de operações anteriores de funding e de crédito.
A meutudo é dona da Parati, uma das principais instituições na concessão de consignado privado. “Um diferencial competitivo da meutudo é sua base de mais de 10 milhões de clientes, CPFs que já fizeram antecipação de saque-aniversário do FGTS e que potencialmente são elegíveis à nova modalidade”, afirma Lima.
Segundo dados do Banco Central, a taxa média anual do consignado privado foi de 59% em abril, mais que o dobro da taxa do consignado público, de 26,3%.

“A taxa ainda está alta porque não há um histórico sólido de crédito formado. O mercado está esperando ver o operacional em funcionamento. Naturalmente, a tendência é essa taxa baixar”, diz Osmo Junior.
Até o início do ano, o estoque de consignado privado era de R$ 40 bilhões. De acordo com os dados mais recentes do Banco Central, esse valor aumentou em 12% até abril, capturando o primeiro mês do Crédito ao Trabalhador.
“Esse cliente que hoje toma o consignado privado antes recorria ao cheque especial, cartão de crédito e crédito pessoal. Agora, tem acesso a crédito muito mais barato”, diz Lima.
A Angá afirma que este será apenas o primeiro de uma série de FIDCs voltados ao consignado privado. A gestora dobrou de tamanho no último ano, saltando de R$ 7 bilhões para R$ 14 bilhões sob gestão, e espera alcançar R$ 3 bilhões apenas nessa estratégia nos próximos 12 meses. “Certamente, teremos protagonismo na indústria de FIDCs voltados ao trabalhador”, diz Lima.
O Daycoval também prevê crescimento significativo nessa linha, chegando a R$ 6 bilhões administrados com essa estratégia. “É um produto com potencial enorme. Quisemos ser pioneiros nessa tese junto com a Angá”, diz Vinícius Pagliaci, superintendente de serviços fiduciários do Daycoval.
Pagliaci conta que o banco ampliou expressivamente sua atuação em administração de FIDCs, passando de 100 para 240 fundos desde o ano passado, crescendo de R$ 21 bilhões para R$ 40 bilhões administrados na classe.
"O banco tem investido bastante nos últimos anos nesse mercado de serviços fiduciários. Hoje, administra cerca de R$ 150 bilhões, e a Angá é um dos principais parceiros do Daycoval."