A chegada de Donald Trump à Casa Branca, em janeiro deste ano, elevou a expectativa de recuperação do mercado global de fusões e aquisições, que vem patinando desde o fim da pandemia.

O número mundial de fusões, aquisições, alienações, financiamentos e joint ventures em 2025, porém, caiu 16% em relação ao ano anterior, chegando a 16.663, seu nível mais baixo desde 2005, de acordo com a empresa de dados financeiros Mergermarket.

O resultado frustrante do primeiro semestre de 2025 é atribuído à política errática de tarifas do presidente americano, que trouxe instabilidade ao mercado financeiro. As taxas de juros elevadas ainda em vigor nos EUA criaram outra camada de insegurança nos negócios.

As tarifas elevadas afetam principalmente as pequenas e médias empresas, que normalmente respondem por uma grande fatia do volume total de fusões e aquisições. Empresas maiores têm as redes e os recursos da cadeia de suprimentos para mitigar interrupções tarifárias com mais habilidade do que as menores.

“As empresas estavam apenas esperando para ver”, disse Lucinda Guthrie, editora executiva da Mergermarket. “Essa incerteza onde os níveis tarifários cairiam e onde os acordos seriam fechados causou ondas de choque em diferentes momentos do calendário.”

Em 2024, a atividade global de fusões e aquisições atingiu US$ 2,1 trilhões, um aumento de 3% em relação ao ano anterior, mas ainda abaixo da média dos últimos dez anos. Para 2025, as projeções – feitas antes do ciclo de tarifas impostas por Trump - estimavam um valor global de transações de fusões e aquisições de US$ 2,41 trilhões.

Já o mercado brasileiro de fusões e aquisições movimentou R$ 367,6 bilhões em 2024 – o equivalente a US$ 66,1 bilhões -, com um total de 1.476 transações realizadas. Houve uma leve queda de 1,5% no número de operações em comparação com o ano anterior, mas um aumento de 21,2% no valor investido.

Até abril de 2025, o mercado brasileiro de M&A movimentou R$ 56,5 bilhões, com um total de 537 transações. Embora tenha havido uma leve queda de 0,9% no número de transações em relação ao mesmo período de 2024 , o cenário atual sugere uma reorientação estratégica das empresas, priorizando aquisições.

No entanto, o fluxo de investimentos estrangeiros no segmento caiu 31%, refletindo um ambiente global de maior seletividade.

Decepção

Outro levantamento, da PricewaterhouseCoopers, mostra que o volume total de fusões e aquisições apenas nos EUA, de janeiro a maio, permaneceu praticamente estável em relação ao ano anterior.

“Todos nós no setor achávamos que 2025 seria um ano excepcional, com um aumento significativo no volume”, disse Kevin Desai, chefe da plataforma de negócios da PwC nos EUA. “Obviamente, isso não se concretizou.”

A expectativa de crescimento das M&A em 2025 sob o governo Trump era baseada na premissa de queda da inflação e juros, partindo do princípio de que uma administração mais favorável aos negócios tomaria posse na Casa Branca.

Os juros altos são parte importante no mercado de M&A, pois tornam particularmente difícil para empresas menores garantirem o financiamento necessário para fusões e aquisições, enquanto empresas maiores com balanços patrimoniais mais robustos não enfrentam tanta pressão.

Mesmo que o Federal Reserve reduza os juros este ano, as taxas nominais que os clientes efetivamente usam para financiar negócios podem não mudar muito, disse Desai, da PwC: "Se não tivermos  mais certeza sobre a política econômica, não está claro se os spreads não se manterão ou aumentarão."